Marcelo Hahn, CEO da Blau Farmacêutica: Até 2030, 60% dos produtos do mercado farmacêutico serão biológicos (Leandro Fonseca/Exame)
Mariana Desidério
Publicado em 25 de março de 2022 às 07h00.
Última atualização em 1 de abril de 2022 às 10h58.
A farmacêutica Blau corre para dar conta da demanda por seus medicamentos. Focada em remédios biológicos – usados principalmente em hospitais para tratamento do câncer e doenças crônicas – a companhia investe para multiplicar sua capacidade produtiva. “Temos um grande gargalo de produção hoje”, afirma o fundador e presidente da Blau, Marcelo Hahn. “A demanda é maior do que a oferta”.
Garanta o seu lugar entre as melhores do Brasil, entre no Ranking Negócios em Expansão 2022
Em 2021 a companhia teve receita de 1,4 bilhão de reais, um crescimento de 16% em relação a 2020. O lucro líquido ficou em 324 milhões de reais, com margem de 24%. Foi o sétimo ano seguido de crescimento da empresa a duplo dígito.
Para atender à demanda, a Blau precisa ampliar sua produção. Em 2021, produziu 107,9 milhões de medicamentos injetáveis e 86,8 milhões de medicamentos sólidos. O principal investimento nessa frente é a construção de uma nova fábrica em Pernambuco, que vai triplicar a capacidade produtiva e sustentar seu crescimento nos próximos anos. Com investimento de 1 bilhão de reais, a planta deve começar a operar entre 2023 e 2024.
Além dela, a Blau tem ampliado suas outras fábricas, com destaque para duas novas linhas de produção na sede em Cotia, na Grande São Paulo, que devem ficar prontas no segundo semestre e aumentar a capacidade produtiva em 20% no segmento de especialidades, que engloba antibióticos, relaxantes musculares, anestésicos, dentre outros medicamentos.
A empresa trabalha com quatro unidades de negócio: remédios biológicos, oncológicos, especialidades e outros. Dessas, a grande aposta para o futuro é a divisão de remédios biológicos. São medicamentos feitos com base em estruturas complexas como células e proteínas. A Blau tem se especializado cada vez mais em biossimilares, como são chamados os genéricos dos biológicos.
Hoje ela é uma das principais companhias nesse ramo no Brasil, com sete medicamentos biológicos no portfólio, sendo quatro deles fabricados internamente. A linha de biológicos respondeu por 50% de toda a receita líquida da companhia em 2021, com 682,8 milhões de reais. “É a área que mais cresce no setor. Até 2030, 60% dos produtos do mercado serão biológicos”, diz Hahn. No segmento, a Blau tem interesse especial nos remédios cujas patentes caíram recentemente.
Ao se voltar para esse nicho, a Blau se distancia da armadilha dos genéricos sintéticos, que tem pressionado as margens das farmacêuticas nacionais. Após duas décadas do marco regulatório desse mercado no Brasil, as chances de uma fabricante de genéricos ter um diferencial no mercado diminuíram — ganha espaço quem reduz mais o preço. As empresas do setor têm buscado formas de se diferenciar, seja melhorando os remédios existentes, criando novos medicamentos ou avançando na frente da biotecnologia, como é o caso da Blau. O momento do setor foi tema de reportagem recente da revista EXAME.
Para ampliar suas margens nesse mercado, a Blau aposta na verticalização. Uma das frentes envolve centros nos Estados Unidos para coleta de plasma, substância do corpo humano cujas proteínas são usadas na fabricação de medicamentos. O primeiro centro da Blau, localizado na Flórida, já está em operação, com coleta e comercialização de plasma, e há planos para abertura de mais três centros do tipo.
Outra frente é a fabricação de IFAs (Insumos Farmacêuticos Ativos), matéria-prima para a produção dos remédios. A Blau investiu 200 milhões de reais para montar duas linhas de produção para esses insumos. Hoje produz quatro tipos de IFAs biotecnológicos. Com isso, a ideia ampliar a autossuficiência e as margens da companhia “Esse é um grande pilar de sustentação do nosso crescimento futuro”, diz Hahn.
A Blau também tem um investimento importante em pesquisa, desenvolvimento e inovação, por meio do Inventta, seu laboratório de inovação que conta com uma equipe de 120 pessoas. Foram 180 milhões de reais em pesquisa nos últimos três anos, sendo 80 milhões de reais só em 2021, um aumento de 93% em relação a 2020. A empresa tem hoje mais de 60 projetos em diferentes estágios. A expectativa é que 10% da receita de 2022 venha de produtos novos.
Outra frente de inovação para a Blau está na aproximação com o cliente. A companhia tem se aproximado de startups e empresas de tecnologia em busca de ferramentas que permitam um contato mais próximo com pacientes, médicos e hospitais. Também tem investido para melhorar a rastreabilidade de seus produtos, desde a produção até a sua dispensação, com o objetivo de ajudar a reduzir o desperdício de medicamentos.
Fundada por Hahn em 1987, a empresa que hoje trabalha com medicamentos complexos começou como uma importadora de preservativos. “Eu sempre quis atuar no setor farmacêutico, mas não tinha capital para isso. Então começamos com importação de preservativos, geramos caixa, e investimos em medicamentos”, conta. Até hoje a Blau é dona da marca Preserv.
A atração pelo setor farmacêutico vem de berço. O bisavô de Hahn teve uma empresa de medicamentos na Alemanha no início do século 20, e seu avô teve uma indústria do setor na Argentina. No Brasil, o pai, Rodolfo Hahn, fundou a farmacêutica Ariston na década de 1960. Hoje ele é presidente do conselho de administração da Blau.
Na década de 1990, a Blau investiu na construção de sua própria fábrica de remédios e hoje tem quatro plantas fabris e cerca de 1.500 funcionários. Em abril de 2021, a companhia abriu capital na bolsa de valores brasileira, a B3, movimentando 1,2 bilhão de reais. A Blau exporta para países como Estados Unidos, Argentina, Chile, Peru e Uruguai e tem intenção de ampliar sua presença internacional. “Nossa ambição é ser uma companhia global”, diz.