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O atleta de esportes paralímpicos que ganha a vida ajudando empresas a serem mais diversas

Marcus Kerekes precisou andar de cadeiras de rodas aos 15 anos de idade; desde então, já participou de maratonas e de times de remo

Marcus Kerekes, da Diversitera: "Para a gente, é mais do que claro que o engajamento da liderança é o mais importante" (Diversitera/Divulgação)

Marcus Kerekes, da Diversitera: "Para a gente, é mais do que claro que o engajamento da liderança é o mais importante" (Diversitera/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 29 de agosto de 2024 às 18h43.

Última atualização em 29 de agosto de 2024 às 19h05.

Apaixonado por esporte desde criança, o administrador Marcus Kerekes viu a sua vida mudar completamente por causa de uma doença. Aos 15 anos, com Síndrome de Guillain Barré, que afeta o sistema nervoso, o empreendedor perdeu os movimentos da perna e precisou andar de cadeira de rodas.

Os primeiros anos foram difíceis e de adaptação. Não à toa, Marcus se afastou completamente dos esportes que gostava, principalmente do basquete. Nem assistir era uma opção, para não lembrar da época que praticava a modalidade.

“Eu realmente sou apaixonadíssimo por NBA, e fiquei muitos anos sem assistir nada, porque aquilo me incomodava”, diz. 

As coisas mudaram quando o empreendedor viu na televisão que existia todo um universo de esportes para pessoas com deficiência física: os esportes paralímpicos. 

“Isso, de certa forma, traz uma conexão, traz uma motivação para quem passa por uma situação ali de deficiência, para quem passa a enfrentar uma questão de deficiência, isso ajuda muito a dar uma visão de que é possível fazer, é possível”, diz Marcus.

Marcus se reconectou ao esporte por meio do remo adaptado. “Eu comecei a remar na USP, que tinha uma equipe de remo adaptado, no Clube Pinheiros, aqui na raia olímpica da USP, e fiquei até 2012. Por questão de trabalho, acabei tendo de parar”, comenta.

Apesar de ter parado com o remo, a vontade de se manter ativo levou Marcus a buscar novos desafios. “Eu comecei a me interessar muito por maratonas, e coloquei na minha cabeça que ia correr maratonas com uma handbike. Acabei correndo a maratona de Nova York e depois a de Berlim”.

Sua paixão pela atividade física é evidente em sua rotina, na qual ele continua se dedicando ao basquete, mesmo que de forma recreativa. 

“Eu não pratico em time jogando, mas tenho uma bola e quase todo dia vou na quadra, para mim é uma terapia, é o momento que eu tenho ali de desaparecer e tirar preocupação da cabeça”.

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Enquanto construía uma carreira sólida no mundo corporativo, trabalhando em gigantes como Microsoft e Dow Chemical Company, Marcus também alimentava o desejo de empreender. 

A combinação de sua experiência profissional com sua vivência como cadeirante o levou a uma reflexão profunda sobre a necessidade de promover ambientes corporativos mais inclusivos.

Foi com essa motivação que Marcus cofundou a Diversitera, uma empresa especializada em ajudar organizações a identificar e resolver desafios relacionados à diversidade e inclusão. 

A Diversitera oferece uma plataforma que coleta e analisa dados populacionais e demográficos dentro das empresas, além de medir a percepção dos funcionários sobre o ambiente de trabalho. 

“Basicamente, a gente faz pesquisas dentro das empresas, principalmente pesquisas censitárias para entender perfil populacional, demografia, e também entender aspectos de inclusão, percepção dos funcionários sobre o ambiente de trabalho”, afirma Marcus.

A empresa também oferece consultoria, treinamento e suporte em comunicação e endomarketing, expandindo seu portfólio para atender às necessidades variadas das organizações. 

Atualmente, a Diversitera tem um portfólio de quase 70 clientes, entre empresas de capital aberto e multinacionais. Faz parte da SX Group, empresa com faturamento na casa de R$ 50 milhões criada por Guilherme Camargo, paulista que ajudou a trazer o videogame XBox para o Brasil.

Quais são os próximos passos da Diversitera

O mercado de diversidade e inclusão tem crescido de forma consistente nos últimos anos, e a Diversitera tem acompanhado essa tendência. 

“As perspectivas são as melhores possíveis”, diz Marcus. “Este ano, a gente lançou uma nova versão da plataforma, uma plataforma SaaS, com um pouco mais de autonomia e novas funcionalidades. Agora, acreditamos que vamos conseguir chegar onde não conseguíamos antes, nas médias e pequenas empresas”.

O CEO da Diversitera acredita que o engajamento da liderança é crucial para o sucesso de qualquer programa de diversidade. 

“Para a gente, é mais do que claro que o engajamento da liderança é o mais importante. A participação da liderança, o engajamento da liderança e a vocalidade da liderança são de extrema importância”, afirma.

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Marcus também reflete sobre os desafios que as empresas enfrentam ao tentar promover um ambiente mais inclusivo. 

“Falando de pessoas com deficiência especificamente, existe uma questão de estereótipo muito forte, de preconceito inconsciente, de que está no inconsciente coletivo da população”, diz. “Existe a questão das cotas para pessoa com deficiência das empresas, que é uma vitória muito grande e trouxe muita gente para o mercado de trabalho”.

A estigmatização, porém, muitas vezes impede que essas pessoas avancem na carreira, perpetuando um ciclo de exclusão. Esse é um dos principais desafios dentro das companhias, aliás.

Outros executivos que também são atletas de esportes paralímpicos

A EXAME traz o exemplo de outros dois executivos que também se aventuram em esportes paralímpicos. 

Um deles é André Cintra, CEO da Amend, empresa de cosméticos especializada em cuidados com os cabelos. 

Após um acidente de moto aos 17 anos, Cintra precisou amputar parte da perna, mas transformou sua dor em motivação. Praticando snowboard, ele participou das Paralimpíadas de Sochi (Rússia, 2014) e Pyeongchang (Coreia do Sul, 2018), sendo o primeiro paratleta brasileiro a competir em Olimpíadas de neve, e conquistou o terceiro lugar no Mundial de Aspen, além do décimo lugar em Snowboard Cross (BSX) e Banked Slalom (BKS) nas Olimpíadas da Coreia. 

Já Raphael Denadai Sanchez é CFO na empresa de investimentos Patria Value Creation. Anteriormente, foi CEO da Sky, uma concessionária de serviços de telecomunicações brasileira. Deficiente visual, Raphael é também um praticante dedicado de triathlon e atua como guia em maratonas para atletas com deficiência.

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