Negócios

Num dos maiores cheques do ano, marketplace de atacados capta R$ 300 milhões rumo a 500 cidades

Startup que conecta fornecedores de alimentos e bebidas a bares e restaurantes já vende uma tonelada de produtos por minuto

Fundadores da Cayane: startup acaba de captar 300 milhões de reais, numa das maiores rodadas do ano entre startups brasileira

Fundadores da Cayane: startup acaba de captar 300 milhões de reais, numa das maiores rodadas do ano entre startups brasileira

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 18 de setembro de 2024 às 13h40.

Quando os empreendedores — e colegas de universidade — Gabriel Sendacz, Pedro Carvalho e Raymond Shayo se juntaram para pensar num negócio, traçaram um perfil de empresa que queriam criar.  Precisava ser um mercado grande, com foco no B2B (depois da grande onda de negócios B2C) e que permitisse aplicar uma pegada de digitalização.  

“Olhamos de tudo, material de construção, escola, cabeleireiro, mas achamos no mercado de alimentação tudo que queríamos e mais um pouco”, diz Sendacz.

Foi querendo resolver um problema no setor de alimentação, acentuado pela pandemia, que eles criaram a Cayena em 2020. 

A startup é um marketplace que conecta bares, restaurantes, dark kitchens e lanchonetes aos fornecedores de insumos e indústrias, uma digitalização que ficou mais necessária com a pandemia. O negócio, porém, vai além: garante aofornecedor que ele receberá o dinheiro, mesmo em caso de inadimplência do cliente.

Na América Latina, o mercado de compra de alimentos em atacado combina dois fatores atraentes: é enorme e pouco digitalizado.  

Só no Brasil, sãomais de 1,5 milhão de estabelecimentos, 90% dos quais são pequenos, independentes e familiares. Cada operador mantém relacionamento com diversos distribuidores e atacadistas para obter os ingredientes que precisa, além de ter que lidar com a ausência de prazo de pagamento, que compromete o fluxo de caixa do seu estabelecimento.

A tecnologia desenvolvida pela Cayena resolve esses dois problemas ao digitalizar o processo e dar crédito para o pagamento. Com isso, chamou a atenção de investidores internacionais.

A startup acaba de captar 300 milhões de reais, numa das maiores rodadas do ano entre startups brasileiras. A captação foi liderada pela Bicycle Capital, gestora dos ex-Softbank Marcelo Claure e Shu Nyatta, e ocorre após o avanço significativo na maturidade operacional da empresa, que tem crescido 5 vezes ano a ano desde 2021 e já atingiu a marca de 1 bilhão de reais em vendas anualmente. 

O investimento foi acompanhado por Coca-Cola FEMSA Ventures, Picus Capital, Astella, Globo Ventures, Endeavor Catalyst, Canary, FJ Labs, Clocktower, e Norte Ventures.

O que faz a Cayena 

Fundada pelos amigos de faculdade Gabriel Sendacz, Pedro Carvalho e Raymond Shayo, egressos do mercado financeiro, a Cayena nasceu para ser um marketplace que facilita a vida dos estabelecimentos e aumenta as vendas dos fornecedores parceiros.

Resumidamente, a Cayena é um marketplace de insumos atacadistas para restaurantes, bares, dark kitchens e hotéis. 

“Conectados fornecedores de insumos (distribuidores, indústria) aos compradores. A proposta de valor para o fornecedor é que podemos gerar uma demanda incremental para eles sem nenhum tipo de investimento fixo”, diz Carvalho. 

A empresa fatura cobrando uma comissão da venda realizada. Ou seja, não há uma mensalidade ou cobrança recorrente nem para o distribuidor, nem para o restaurante comprador. 

Hoje em dia, são mais de 100 fornecedores e 50.000 itens de mercearia, laticínios, limpeza, proteínas e bebidas. A compra é feita pelo WhatsApp ou pelo aplicativo, assistida por um consultor e com entrega no dia seguinte. 

“Estamos vendendo uma tonelada de comida a cada minuto”, diz o cofundador Shayo. “E também temos algumas dezenas de milhares de clientes ativos, compradores ativos, mercados, e mais de 100 fornecedores que transacionam um pouco mais de 1 bilhão de reais, em mais de 100 cidades, principalmente em São Paulo”.

“Ao invés de sermos concorrentes, resolvemos trazer os distribuidores para a nossa base, alavancando a infraestrutura logística existente e construindo uma robusta rede de APIs e integrações para digitalizar o estoque e a operação desses parceiros”, complementa Sendacz.  "Hoje somos capazes de entregar em três meses o crescimento que, sozinho, um distribuidor teria em três anos. O número de novos clientes é tão relevante que, para ajudá-los a absorver a demanda incremental, investimos uma boa parte dos recursos das últimas captações na construção de uma solução financeira que hoje é responsável por intermediar e garantir a liquidação de 100% das transações".

Para impulsionar a sua oferta de prazo para os estabelecimentos, a Cayena utiliza tecnologia proprietária com algoritmos baseados em inteligência artificial, que garantem maior precisão na análise de crédito de cada cliente. 

São mais de 1.000 pontos de dados analisados para cada cliente, que vão desde dados da Receita Federal e bureaus de crédito até estatísticas comportamentais da própria plataforma, como perfil de consumo e ticket médio do cliente.

Hoje, a Cayena analisa milhares de novos estabelecimentos por mês e já disponibilizou mais de 2 bilhões de reais em crédito com uma taxa média de aprovação 50% superior à média da indústria.


Como o aporte será usado 

A oportunidade de uma nova rodada chegou de surpresa. A Cayena não estava fazendo levantamento de fundos. 

“Estávamos com o caixa operante, não estávamos precisando de dinheiro, mas temos um relacionamento ótimo com os principais fundos internacionais e nossa operação chamou atenção da Bicycle”, afirma Carvalho.

“É muito raro achar uma empresa que consiga equilibrar o crescimento exponencial com uma gestão de caixa tão eficiente, e esse é o caso da Cayena”, diz Claure, da Bicycle. “Eles estão construindo uma empresa valiosa, perene e com fortes efeitos de rede. Amamos o fato de estarem resolvendo um problema grande e real do Brasil, destravando crescimento para centenas de milhares de pequenos negócios.”

Os fundadores entendem, agora, que esse pode ser o último cheque antes de uma possível abertura de capital. “Estávamos confortáveis, escolhemos o parceiro que queríamos”, diz. “Nossa ideia agora é chegar a mais cidades e estados, além de São Paulo”. 

O plano é chegar a 500 novas cidades em dois anos, reforçando a conexão com as indústrias e distribuidores. Além disso, vão explorar uma nova frente de negócio, de inteligência de mercado. Como estão já em dezenas de milhares de pequenos restaurantes e lanchonetes, a Cayena é capaz de entender tendências e trazer informações como participação de mercado, que quer vender para as indústrias.

"A verdadeira fase de expansão da Cayena começa agora", afirma Carvalho. "Essa rodada coroa o trabalho de todo o nosso time na construção de uma infraestrutura tecnológica e financeira que pavimentará o nosso crescimento exponencial”. 

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