Negócios

Novo presidente da Vale tem perfil discreto e direto

Com 40 anos de carreira, Schvartsman, 63 anos, teve passagens por outros ícones nacionais, como Duratex e Grupo Ultra

Fabio Schvartsman: uma das primeiras tarefas à frente da Vale será implementar a reorganização dos acionistas (Leandro Fonseca/Exame/Exame)

Fabio Schvartsman: uma das primeiras tarefas à frente da Vale será implementar a reorganização dos acionistas (Leandro Fonseca/Exame/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de março de 2017 às 07h57.

Última atualização em 31 de março de 2017 às 15h37.

São Paulo — Descrito como um executivo discreto e de posicionamento bastante direto em negociações, Fabio Schvartsman chega à presidência da mineradora Vale após ter permanecido seis anos à frente da fabricante de papel e celulose Klabin.

Com 40 anos de carreira, Schvartsman, 63 anos, teve passagens por outros ícones nacionais, como Duratex e Grupo Ultra.

"Ele não é 'político' na relação pessoal, é mais duro e objetivo", descreveu uma fonte que já negociou diretamente com o novo presidente da Vale.

Depois de trabalhar na Duratex no início de sua carreira, a ascensão do engenheiro formado pela Poli-USP no mundo dos negócios se deu durante a passagem de 22 anos pelo Grupo Ultra, hoje dono de negócios como a distribuidora de gás Ultragás, a rede de postos Ipiranga, a química Oxiteno e a rede de farmácias Extrafarma. Atualmente, o Ultra fatura cerca de R$ 76 bilhões ao ano.

No Ultra, Schvartsman participou de negociações importantes, que ajudaram a dar ao grupo o porte que ele tem hoje, lembraram fontes de mercado ao Estado.

Entre elas figurou a compra da rede de postos de combustíveis Ipiranga, em março de 2007, em parceria com a Petrobrás e a Braskem.

Anos antes, dentro do Ultra, foi um dos defensores da compra da petroquímica Copene, mas o negócio acabou ficando nas mãos da Odebrecht, dando origem à Braskem, companhia considerada o braço mais saudável do conglomerado.

Apesar de ter participado de negociações importantes e de ter sido diretor financeiro e de relações com investidores, a saída de Schvartsman do Ultra se deu em meio à disputa pelo comando do negócio, no fim de 2007.

Depois de mais de duas décadas, ele esperava ser elevado à presidência da Ultrapar, contam pessoas que trabalharam de forma próxima ao executivo na época.

Schvartsman era cotado para assumir a presidência da Ultrapar, substituindo Paulo Cunha. O escolhido acabou sendo Pedro Wongtschowski, que ficou no cargo até 2012, quando foi nomeado o atual CEO, Thilo Mannhardt.

Após deixar o Ultra, Schvartsman assumiu em 2008 o comando do grupo San Antonio, onde ficou até 2010. O San Antonio foi um dos maiores fracassos da história da gestora GP Investments.

Em 2014, a GP registrou a perda total do investimento no negócio de serviços para o setor de óleo e gás - apenas a compra de 17,7% da operação custou US$ 135 milhões, em 2008.

O novo presidente da Vale deixou a San Antonio para assumir o comando da Klabin em fevereiro de 2011. Ele foi o primeiro executivo que não pertencia às famílias controladoras a comandar o grupo, e chegou para finalizar o processo de profissionalização da companhia de papel e celulose.

Na Klabin, também teve o desafio de colocar em pé o projeto Puma, o maior investimento já realizado pela empresa. Inaugurado em junho de 2016, em Ortigueira (PR), teve orçamento de R$ 8,5 bilhões e se diferencia por ter produção híbrida, que permite a produção da celulose do tipo "fluff", usada em fraldas, por exemplo.

A soma das experiências de Schvartsman "vai fazer muito bem" à Vale, afirma Pércio de Souza, sócio da butique de investimentos Estáter: "O Fábio é um dos raros executivos que alia as capacidades de identificar problemas, implementar soluções e liderar times".

Desafios

Uma das tarefas previstas do novo presidente da Vale será a reorganização societária. A empresa quer acabar com a Valepar para transformar a mineradora numa companhia sem controlador até 2020, o que acarretará mudanças no conselho de administração e na estrutura de suas ações em Bolsa.

Schvartsman enfrentou desafio semelhante na Klabin, incluindo a transformação de parte das ações em "units".

Uma outra fonte lembrou que existem semelhanças entre os negócios de celulose e de mineração. Assim como o minério, a celulose é um produto cotado no mercado internacional e voltado para a exportação.

Outro ponto comum às duas atividades é o risco ambiental. No setor de papel e celulose, há o impacto das florestas e da produção. Na Vale, a questão ambiental é terreno bastante sensível, por causa do rompimento da barragem da Samarco - joint venture da brasileira com a BHP Billiton -, que rendeu bilhões de reais em multas à subsidiária e resultou na morte de 19 pessoas no fim de 2015.

Apesar de ver paralelos entre Klabin e Vale, a fonte lembrou que o desafio na mineradora é "infinitamente maior" não apenas pelo porte da companhia, mas também pela presença de fundos de pensão no negócio.

A Klabin afirmou nesta segunda-feira, 27, em nota, que a decisão sobre a substituição de Schvartsman ainda não está tomada. O executivo não respondeu ao contato feito pela reportagem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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