Negócios

Novo CEO da AB InBev olha além do setor de cerveja para expansão

Para impulsionar o crescimento, o novo CEO terá que ser mais inovador com as marcas existentes da empresa do que seu antecessor, que expandiu a gigante de cervejas comprando grandes rivais

Michel Doukeris: Uma “grande revolução” está ocorrendo na indústria de bebidas alcoólicas, com mais de 60% do crescimento sendo impulsionado fora do mercado de cerveja, disse o novo CEO (Slaven Vlasic/Getty Images)

Michel Doukeris: Uma “grande revolução” está ocorrendo na indústria de bebidas alcoólicas, com mais de 60% do crescimento sendo impulsionado fora do mercado de cerveja, disse o novo CEO (Slaven Vlasic/Getty Images)

B

Bloomberg

Publicado em 5 de julho de 2021 às 12h21.

Última atualização em 7 de julho de 2021 às 08h26.

Por Thomas Buckley, da Bloomberg

Quando Carlos Brito costumava entrar no palco na reunião anual dos 100 principais líderes da Anheuser-Busch InBev, a multidão delirava quando “Back in Black”, da banda AC/DC, tocava nos alto-falantes.

Em uma escolha adequada para tempos turbulentos, Michel Doukeris, que assumiu o posto de Brito como diretor-presidente da maior cervejaria do mundo em 1º de julho, escolheu “T.N.T.” dos roqueiros australianos como seu hino.

Não que Doukeris, um veterano de 25 anos na empresa, pretenda desconstruir o legado de Brito. Nem os investidores gostariam que ele o fizesse: a fabricante da Budweiser se recuperou da crise causada pela pandemia com um salto de 14% no lucro no último trimestre, o dobro do esperado por analistas. No entanto, para impulsionar o crescimento, o novo CEO terá que ser mais inovador com as marcas existentes da empresa do que seu antecessor, que expandiu a gigante de cervejas comprando grandes rivais.

O investidor Tom Russo, cuja empresa Gardner, Russo & Quinn tem uma participação de cerca de US$ 300 milhões na cervejaria, disse que sua primeira pergunta para Doukeris seria: “Você está preparado para investir o suficiente para trazer inovações e extensões das principais marcas que tenham potencial de aumentar o valor de longo prazo da AB InBev?”

Mudança de gostos

Brito construiu a gigante que produz cerca de 30% das cervejas do mundo, como Corona e Stella Artois, por meio de quase US$ 200 bilhões em aquisições. No processo, reduziu bilhões em custos do que muitas vezes eram empresas familiares inchadas. A compra da SABMiller por mais de US$ 100 bilhões em 2016, no entanto, deixou a empresa muito endividada e altamente exposta a uma categoria de bebidas que tem perdido mercado para destilados e vinhos em países desenvolvidos. As ações acumulam queda de cerca de 40% desde o fechamento do negócio.

A escala e a cuidadosa eficiência da AB InBev permitiram que a empresa prosperasse como uma cervejaria para o mercado de massa durante a maior parte dos 15 anos de Brito no comando, enfrentando ameaças como o surgimento das cervejas artesanais. Mas Doukeris, que anteriormente liderou a região da América do Norte, também vê oportunidades em outros segmentos, como hard seltzers e coquetéis em lata com a marca Cutwater, cujas vendas estão em alta nos Estados Unidos.

“Sinto uma responsabilidade especial de continuar a liderar e catalisar a indústria de cervejas globalmente, mas também é especial aproveitar e aumentar nosso crescimento no que chamo de espaço além da cerveja”, disse o empresário de 48 anos em entrevista. “Precisamos realmente alocar de forma inteligente nosso capital onde estão as maiores oportunidades de crescimento.”

Revolução

Equilibrar os esforços para dar novo fôlego às principais marcas da empresa, como a Bud Light, com a promoção do crescimento em comércio eletrônico ou das marcas de vinho enlatado e bebidas energéticas é fundamental.

Uma “grande revolução” está ocorrendo na indústria de bebidas alcoólicas, com mais de 60% do crescimento sendo impulsionado fora do mercado de cerveja, disse Doukeris. Insights das ferramentas de análise de dados e aplicativos de entrega da AB InBev também guiarão os investimentos da empresa em novas marcas ou projetos de entrega futuros, disse o executivo.

Russo disse que um bom começo seria o marketing de mais produtos para mulheres, no que, segundo ele, a indústria de cervejas tem sido historicamente lenta para incluir em campanhas, e dobrar as apostas em investimentos em tecnologia, como no BeerHawk.co.uk e na Zé Delivery da empresa.

Impacto da pandemia

Também pode ser um momento oportuno para a AB InBev definir novas ambições ao emergir de 18 meses de problemas relacionados à pandemia. A cervejaria, juntamente com Heineken, Molson Coors e Carlsberg, sofreu o impacto da covid-19, que não só esmagou as vendas para bares e casas noturnas, mas também gerou uma tendência de coquetéis caseiros que beneficiou destilarias como Diageo e Pernod Ricard.

O foco principal de Brito nos primeiros meses da pandemia foi fortalecer a liquidez ao fechar um acordo para vender as operações australianas da AB InBev, depois de liderar uma oferta pública inicial da divisão da Ásia-Pacífico e, em seguida, se desfazer de uma participação minoritária nas fábricas de latas de alumínio nos EUA.

A estratégia além da cerveja de Doukeris tem como base as iniciativas de seu antecessor para diversificar, enquanto mantém o dinamismo das operações de cervejas, por exemplo, com o lançamento da popular lager de baixa caloria Michelob Ultra. Mas também é um distanciamento da fórmula anterior de sucesso da empresa: comprar concorrentes com desempenho mais fraco e cortar excessos.

Quais são as tendências entre as maiores empresas do Brasil e do mundo? Assine a EXAME e saiba mais.

Acompanhe tudo sobre:ab-inbevAmbevCervejasEXAME-no-InstagramExecutivosExecutivos brasileiros

Mais de Negócios

As 15 cidades com mais bilionários no mundo — e uma delas é brasileira

A força do afroempreendedorismo

Mitsubishi Cup celebra 25 anos fazendo do rally um estilo de vida

Toyota investe R$ 160 milhões em novo centro de distribuição logístico e amplia operação