Pouco mais de uma década após despontar, o varejo online no país vem ganhando impulso, apoiado na combinação de aumento de renda da população e maior acesso à Internet (Dreamstime)
Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2012 às 21h31.
São Paulo - Driblando o atual cenário econômico que pesa sobre o varejo tradicional, o ainda jovem mercado brasileiro de comércio eletrônico tem a seu favor um vasto espaço ainda não preenchido, com perspectiva de mais que dobrar de tamanho até 2020, tendo empresas especializadas e de menor porte como protagonistas.
Pouco mais de uma década após despontar, o varejo online no país vem ganhando impulso, apoiado na combinação de aumento de renda da população e maior número de consumidores com acesso à Internet, que demandam maior oferta de produtos e serviços.
Segundo dados da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net), hoje as vendas via Internet correspondem a apenas 2 por cento do varejo total no país, enquanto em mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos, o nível é de 5 por cento.
"O comércio eletrônico vem crescendo de forma superior ao varejo tradicional e, com a perspectiva de continuar aumentando em cerca de 30 por cento ao ano, é possível dobrar essa participação", disse o professor de marketing do Insper Silvio Laban.
Atualmente, o comércio eletrônico brasileiro é formado por cerca de 40 milhões de consumidores, número que vem avançando, entre outros fatores, pelo Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) -que oferece conexão à Internet de alta velocidade a preços populares-, apontou o vice-presidente da Camara-e.net, Leonardo Palhares.
De acordo com a empresa de pesquisas ExactTarget, 42 por cento dos consumidores brasileiros têm acesso à rede, contra 83 por cento nos EUA e 82 por cento no Reino Unido.
Na visão dos profissionais que acompanham o setor, entretanto, o segmento ainda não se desenvolveu de forma mais acelerada por entraves ligados principalmente a infraestrutura e logística, que prejudicam prazos de entrega.
"É cada vez mais difícil entregar com prazos razoáveis", disse o analista Luiz Cesta, da Votorantim, citando como maiores prejudicadas as companhias líderes do setor.
Diante da necessidade de oferecer um mix de parcelamento de compras, frete grátis e ainda entregar as mercadorias no prazo, muitas dessas empresas tiveram suas operações pressionadas, abrindo espaço para a entrada de rivais menores no segmento.
A maior frustração do mercado tem sido a líder B2W, dona dos sites Submarino, Americanas.com e Shoptime. Após ter sido alvo de processos por atrasos em entregas, a empresa alongou prazos, ainda que sob o risco de perder vendas.
"Ainda não esperamos grandes melhorias na operação da B2W... além de concorrência maior, vemos dificuldades até que os investimentos comecem a maturar", afirmou Cesta.
A vez das menores
O vácuo deixado por empresas como a B2W, que tiveram seu ritmo de crescimento travado, fez com que muitas companhias buscassem garantir um lugar no mercado, que deve encerrar 2012 com faturamento de 23,4 bilhões de reais.
Em março, a Credicard lançou um portal de comércio eletrônico por meio do qual espera alcançar uma fatia de 20 por cento no faturamento do setor no Brasil até 2015.
"Os grandes ganhadores serão as pequenas empresas de comércio eletrônico... É um segmento com baixas barreiras de entrada", disse Cesta. "A operação dos grandes players vai seguir pressionada".
Nesse sentido, a categoria de vestuário, que há até pouco tempo tinha participação insignificante no varejo online, é apontada como destaque pelos profissionais.
"A tendência é a criação de mercados de nicho, menores, para preencher necessidades de mercado, ao contrário das grandes varejistas, o que já ocorre em mercados maduros", assinalou Palhares, da Camara-e.net.
Ele apontou, como exemplos, as lojas exclusivamente virtuais Netshoes (de calçados e artigos esportivos) e Dafiti (de vestuário, calçados e acessórios).
"Netshoes, apesar de recente, já é uma das cinco maiores lojas de varejo online no país, porque (ela) não tem reflexo no mundo físico, ao contrário de grandes varejistas, como Wal-Mart e Ponto Frio, por exemplo", acrescentou Palhares.
Segundo a Camara-e.net, a categoria de vestuário é quinta com maior volume de negócios na Internet, atrás de eletrodomésticos, informática, eletrônicos, e saúde e beleza.
Enquanto isso, a gigante global do setor, Amazon.com, planeja abrir sua loja digital de livros no Brasil no quarto trimestre de 2012, buscando conquistar um espaço na maior economia da América Latina, conforme informou a Reuters.
Empresas de outros segmentos da cadeia também estão aumentando as atenções para o comércio virtual. No começo do mês, a Cielo anunciou a compra da norte-americana Merchant e-Solutions (MeS) por 670 milhões de dólares, apostando no comércio online para enfrentar a crescente competição.
Palhares estima que o comércio online alcance 5 por cento do varejo total no Brasil até o final da década, à medida que o setor quase dobra de tamanho a cada três anos.
Para Cesta, do Votorantim, porém, chegar ao patamar dos países desenvolvidos será possível apenas no "longuíssimo prazo". "Precisamos avançar mais em renda per capita da população, para ter maior penetração".