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CEO da Suzano: nova meta brasileira pressiona empresas por fim do carbono

Em entrevista à EXAME, Walter Schalka, presidente da companhia, comenta as novas NDCs anunciadas pelo Brasil nesta segunda-feira, 01

Walter Schalka, CEO da Suzano: novas metas brasileiras impulsionam comprometimento do setor privado (Leandro Fonseca/Exame)

Walter Schalka, CEO da Suzano: novas metas brasileiras impulsionam comprometimento do setor privado (Leandro Fonseca/Exame)

A expectativa de que a ambição brasileira na COP26 iria aumentar, se cumpriu. Durante o primeiro dia oficial de debates na Conferência das Partes para o Clima da ONU, o Brasil anunciou novas metas de descarbonização e encurtou o caminho para chegar ao Net Zero e ao fim do desmatamento. Os planos já têm também uma nova data: 2050, dez anos antes do previsto, para alcançar a neutralidade, e até 2030, reduzir em 50% as emissões, ante 43% da meta anterior.

A EXAME estará em Glasgow e fará a melhor cobertura da COP26

As novas contribuições nacionais (NDC) foram anunciadas nesta segunda-feira, 1, pelo ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite, durante teleconferência exibida no Pavilhão Brasil na COP, que acontece em Glasgow, na Escócia. O compromisso de 50% menos emissões nos próximos nove anos, vale lembrar, é estipulado com base nos níveis de poluição com gases do efeito estufa do ano de 2005.

As metas também devem refletir uma nova postura por parte do governo Bolsonaro. “Não faltará empenho para isso”, disse Leite. O ministro destacou ainda o papel da ajuda financeira de países em desenvolvimento, para que o Brasil, a exemplo de outros países em desenvolvimento, recebam ajuda para alcançar essa e outras ambições. "É fundamental que tenhamos robustos volumes e nas quantidades necessárias, para que a transição e a construção desta nova economia ocorram de forma justa, em cada região do planeta", disse.

A Suzano é defensora dessa ideia. Na fabricante de papel e celulose, a premissa que fica é a de atuar como um elo entre quem polui e quem tem interesse em compensar esses danos. Por isso, a Suzano se considera uma sequestradora de carbono, ou seja, responsável por tirar da atmosfera a poluição que já foi emitida, além de reduzir suas emissões da porta para dentro. "Estava muito claro que precisávamos endereçar uma questão fundamental, que são justamente essas NDCs anunciadas hoje" ,disse Walter Schalka, presidente da Suzano, em entrevista à EXAME.

Para ele, o anúncio de hoje foi uma movimentação clara — e positiva — em direção a uma ambição maior do governo brasileiro. "Além de ser essencial para nós, é positivo para a percepção do Brasil frente ao mundo, seja o governo ou empresas”, diz.

A Suzano tem suas próprias metas ligadas ao ESG. Poucos dias antes da abertura oficial da COP26, a Suzano afirmou que vai antecipar de 2030 para 2025 a sua meta de remover 40 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera. Fora o sequestro, a fabricante também já havia se comprometido a reduzir em 15% suas emissões de CO2 dos escopos 1 e 2 e aumentar em 50% a exportação de energias renováveis até o final da década.

Apesar de o governo não ter apresentado metas específicas para o desmatamento, o documento nacional “Diretrizes parra uma Estratégia Nacional para Neutralidade Climática” detalha a intenção do Brasil de zerar o desmatamento ilegal até 2028.

Em degradação do solo e desmatamento, duas metas ainda a serem definidas e anunciadas pelo Brasil, a Suzano também já tem seu pioneirismo. Os espaços florestais de onde a fabricante produz celulose são áreas restauradas e que, com o plantio comercial, recebem novamente uma cobertura vegetal, bem como passam a ser “adotadas” pela empresa, que se compromete a manter as boas práticas de conservação por ali.

Hoje a empresa tem 2,5 milhões de hectares, sendo 1 milhão e meio de hectares destinados ao comércio e 1 milhão de hectares compostos de florestas nativas. Para Schalka, isso é insuficiente quando o assunto é restauração. “Vamos ter que passar por um processo de regeneração global”, diz. “Nós (empresas) temos que ter mais áreas de restauração do que áreas comerciais. Assim podemos ajudar no compromisso de combate ao desmatamento do país”, diz.

Para Schalka, o desempenho do governo, que até então era negativo, pode mudar daqui em diante. “Esse pode ser um ponto de virada”, diz. “É importante, e serve de ponto de partida em uma negociação climática que é global e da qual o Brasil precisa participar”.

A mudança deve acontecer fora do ambiente público. Para o setor privado, a mudança de percurso ambiental do poder público também deve forçar uma aceleração em prol de metas mais ágeis de descarbonização no mundo corporativo, segundo o CEO. “O race to zero será antecipado por todos”.

Colocando na balança

Em posicionamento publicado nesta segunda-feira, o Observatório do Clima avaliou o novo compromisso como falho, pois as metas empatam com as sugeridas em 2015. “Se quisesse apresentar um compromisso compatível com o Acordo de Paris, a meta deveria ser de pelo menos 80% de corte”, afirma a instituição.

Segundo Talita Assis, especialista em meio ambiente na EXAME, é preciso ter cautela ao analisar a nova meta anunciada durante a COP26. Afinal, apesar de representar um avanço comparada à NDC anterior (considerada por ambientalistas como um retrocesso na pauta ambiental), a nova NDC revisita os compromissos assumidos antes dos definidos pelo governo atual. “A meta anunciada pelo ministro Joaquim Leite é um grande avanço em relação à NDC anterior, que estava vigente desde 2020. Porém, é preciso ter em mente que a revisão anterior da NDC, ocorrida em 2020, representava um retrocesso em relação às metas que constavam na NDC original. O que se tem agora, com as metas anunciadas hoje, são valores absolutos para 2030 próximos àqueles da meta original, apresentada em 2015”, diz.

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