Leonardo Linden, CEO da Ipiranga: “Com investimento de R$ 1,4 bilhão do Grupo Ultra, vamos investir em tecnologia, segurança, expansão no Centro-Oeste e Norte e a abertura de 300 novos postos” (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 06h09.
Última atualização em 1 de setembro de 2025 às 06h24.
A Ipiranga, rede de distribuição de combustíveis com quase 90 anos de história, movimenta números que impressionam: 120 bilhões de reais em faturamento anual, 24 bilhões de litros vendidos por ano, 6 mil postos e 1,5 milhão de abastecimentos diários. Mas, para Leonardo Linden, CEO da Ipiranga, o maior desafio da empresa vai além de inovar rumo ao centenário e da transição energética - o maior obstáculo para o negócio é a concorrência desleal.
“O nosso maior desafio é o mercado irregular. Estimamos que o país perdeu cerca de R$ 30 bilhões com evasão tributária e práticas ilegais”, afirma Linden em entrevista exclusiva à EXAME no podcast “De frente com CEO”.
Entre os investimentos recorrentes, o CEO afirma o setor de segurança ocupa papel central na estratégia da Ipiranga. A companhia destina milhões por ano a tecnologias aplicadas em caminhões e bases de distribuição, com foco em reduzir riscos operacionais.
“A Ipiranga investe por ano cerca de R$ 100 milhões em segurança e tem que competir com quem não tem a menor preocupação com isso”, diz o presidente da Ipiranga.
O Brasil, segundo o executivo, tem 160 distribuidoras, e desse total cerca de 60 operam fora das regras de negócio, de acordo com os dados do Instituto Combustível Legal - instituto empresarial e multissetorial que combate o comércio irregular no país.
"Essas operadoras são consideradas ilegais seja por evasão fiscal, por alteração de produto, por importação ilegal ou pelo não cumprimento das regras do setor, como a não mistura de biodiesel”, afirma Linden.
O executivo diz que vê esforços dos órgãos reguladores e de parte do corpo político em resolver a situação, mas de fato é um grande desafio nacional.
"Neste processo irregular todos perdem: a indústria de biocombustíveis, o consumidor e os estados com a evasão fiscal", afirma.
O desafio do mercado ilegal de combustíveis, inclusive, foi uma das principais notícias da última semana. No dia 28 de agosto aconteceu uma megaoperação da Receita Federal contra o crime organizado no setor de combustíveis em São Paulo. A entrevista de Linden ao podcast da EXAME, no entanto, ocorreu antes dessa investigação.
Apesar de ser conhecida principalmente pelos seus 6 mil postos espalhados pelo Brasil, a Ipiranga tem uma operação muito mais ampla, afirma o CEO. A companhia atende cerca de 7 mil clientes empresariais, que vão de usinas e ferrovias a fábricas, transportadoras, minas, hospitais e shoppings. “Onde tiver motor, tem combustível da Ipiranga”, afirma o presidente do Ipiranga.
A estrutura logística é outro pilar relevante para o negócio. Diariamente, cerca de 3 mil caminhões da companhia circulam pelo país, realizando 10 mil operações de carga e descarga em suas 90 bases de distribuição.
No varejo, a Ipiranga também se consolidou como líder em outros segmentos. São 1.500 lojas de conveniência, das quais 800 com padarias, o que a torna a maior rede franqueada de padarias do Brasil. Além disso, a empresa mantém 1.100 unidades do JetOil, voltadas para serviços rápidos como troca de óleo e manutenção leve.
“Pouca gente sabe, mas a Ipiranga é a maior franquia de padarias do Brasil. Nas nossas lojas de conveniência, o cliente encontra de tudo: do café ao autosserviço”, diz Linden.
Considerando esses diferentes clientes empresariais, o CEO afirma que alguns segmentos se destacam na geração de receita.
“Somos bem fortes no negócio de agronegócio, especialmente em usinas”, afirma o CEO. “O transporte público e o transporte de carga também são áreas em que temos grande presença e que puxam muito a nossa demanda”.
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O Grupo Ultra, controlador da Ipiranga, tem programado para 2025 um investimento total de R$ 2,5 bilhões. Deste total, a Ipiranga receberá R$ 1,4 bilhão em investimentos.
“O foco desse investimento está na modernização tecnológica, na expansão de bases de distribuição para regiões em crescimento, como Centro-Oeste e Norte, além da abertura de cerca de 300 novos postos”, diz o presidente, que reforça que também está incluído o valor anual de R$ 100 milhões em segurança operacional.
A chegada da COP30 mantém em evidência a pressão por mudanças no setor de energia. Para o CEO da Ipiranga, a transição deve ser encarada como um processo de diversificação, e não de substituição imediata.
“A Ipiranga é uma empresa de mobilidade. Independente de qual seja a energia do futuro — elétrica, fóssil ou biocombustível —, estaremos lá. Temos 6 mil pontos de venda bem localizados e precisamos nos preparar para atender a todas essas demandas”, afirma.
Hoje, a companhia já opera rede de recarga elétrica em postos e é uma das maiores comercializadoras de biocombustíveis do Brasil, responsável por 17% do volume movimentado no país.
Com 2.900 funcionários diretos e 4 mil revendedores responsáveis pelos postos, Linden valoriza a proximidade cultural como diferencial.
“A Ipiranga é uma empresa de gente que gosta de gente. Preservar essa relação próxima com o revendedor e com o cliente é parte da nossa identidade,” diz o CEO.
Sobre o futuro, Linden reforça a responsabilidade de conduzir a Ipiranga rumo ao centenário, mantendo a essência de ser uma empresa completa de mobilidade, preparada para atender diferentes demandas e atravessar a transição energética sem perder espaço no mercado.
“Nosso legado será entregar uma Ipiranga renovada, eficiente e pronta para os próximos 100 anos”.