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“Nossa relação com dinheiro ainda vai mudar muito”, diz diretora do PayPal

Paypal enfrenta uma concorrência mais forte, como PicPay. Mercado Pago e MagaluPay; PIX e bitcoins também transformam o mercado

Paula Paschoal diretora geral do PayPal no Brasil (PayPal/Divulgação)

Paula Paschoal diretora geral do PayPal no Brasil (PayPal/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 16 de dezembro de 2020 às 12h00.

Última atualização em 16 de dezembro de 2020 às 12h28.

O PayPal, sistema de pagamentos americano, está há dez anos no Brasil. Mas, se há uma década a empresa tinha um dos primeiros meios de pagamento para a internet e o comércio eletrônico estava começando a se desenvolver, hoje o cenário é outro. 

Mesmo antes de a pandemia impulsionar o comércio eletrônico, varejistas já apostavam em meios de pagamento próprios para fidelizar consumidores. É o caso do Mercado Pago, divisão financeira do Mercado Livre, Ame da B2W e Lojas Americanas, MagaluPay do Magazine Luiza, entre outras. Também surgiram carteiras digitais como PicPay.

Para Paula Paschoal, diretora sênior do PayPal no Brasil, a concorrência é benéfica e o desenvolvimento do setor deve incluir ainda mais brasileiros nos serviços financeiros. “Muito mudou, mas ainda vai mudar muita coisa nos próximos anos na maneira como nos relacionamos com o dinheiro”, diz ela, em entrevista à EXAME. 

A companhia tem soluções exclusivas para o mercado brasileiro e busca manter o crescimento apesar da concorrência. A empresa não abre dados sobre sua operação brasileira, mas diz que o país é um dos focos para o seu desenvolvimento no futuro. São mais de 200 mil vendedores que usam o PayPal como opção de pagamento, além de parceiros como Uber, 99, Rappi, Privalia, Google, Disney e outros.

Paschoal está na empresa praticamente desde a chegada ao país, primeiro como líder da área comercial e chegando ao cargo atual em maio de 2017. Com valor de mercado de quase 260 bilhões de dólares globalmente, o valor da ação mais que dobrou em um ano, com alta de 103,8%. Confira a entrevista abaixo. 

O mercado de pagamentos digitais mudou drasticamente desde que o PayPal chegou ao Brasil. Quais foram as principais transformações?

Muito mudou, mas ainda vai mudar muita coisa nos próximos anos na maneira como nos relacionamos com o dinheiro. Uma das grandes mudanças foi nossa relação com o smartphone. De ser usado para fazer ligações a controle remoto das nossas vidas, o smartphone é um fator chave para o acesso a serviços financeiros. O brasileiro já passa bastante tempo online e trazer meios de pagamentos para o online é importante.

Há dez anos o e-commerce também estava começando, não havia tantas categorias. As vendas de moda e supermercados amadureceram nesses anos, apareceram novos serviços. Outro ponto que amadureceu foi o acesso da população desbancarizada, cada vez mais uma população que não tinha acesso a serviços financeiros está sendo incluída no mercado.

Um ponto chave para o PayPal é que nesses 10 anos aumentou muito a sofisticação na gestão de fraude. A internet é um lugar cada vez mais seguro e estão desaparecendo as barreiras para quem compra e para quem vende online.

O Paypal permite pagamentos para compras internacionais, mesmo para quem não tem um cartão de crédito internacional. Qual é o público do PayPal no Brasil? 

Nosso público é qualquer pessoa que quer comprar no Brasil ou no mundo através da internet ou de aplicativos. Tem sim o público que quer ter a experiência de comprar fora do Brasil em sites internacionais, mas temos uma presença muito forte nas compras feitas no Brasil também.

Como o Paypal acompanhou essas mudanças do mercado?

Apesar de ser uma empresa global, o PayPal acompanha os mercados de forma muito local. Desde o lançamento no Brasil temos o pagamento parcelado, por exemplo, um produto que o brasileiro está muito acostumado a usar. O brasileiro não olha se o preço final cabe no bolso, olha se o parcelado cabe no orçamento. O Brasil também é o único país do mundo em que o boleto é usado para carregar a carteira digital. Esse meio de pagamento está caindo em desuso, mas ainda é importante no comércio eletrônico e pode chegar a 25% de todos os pagamentos dependendo da categoria.

Também disponibilizamos compras pelo cartão de débito sem a necessidade de um processo de verificação a cada uso. E temos o One Touch. Se alguém usa sempre o mesmo computador para fazer compras, o sistema entende de forma inteligente que aquela é uma transação segura e não pede a senha a cada compra.

A concorrência também cresceu nesta década. Novos meios de pagamento surgiram, com concorrentes como PagSeguro e Mercado Pago, e varejistas como Lojas Americanas e Magazine Luiza criaram seus próprios meios de pagamento. Como o PayPal busca continuar relevante?

Não só a concorrência mudou em 10 anos, mas o regulador também. Vemos um Banco Central muito ativo, trazendo inovações, incentivando a competição, realizando consultas públicas. Essa ótica mudou bastante. A competição é benéfica e nos desafia a sermos melhores e trazermos produtos e serviços mais completos para os clientes. Quem ganha são os compradores e vendedores que usam nossas ferramentas.

Não há dúvidas de que o mercado brasileiro de meios de pagamento está mais desenvolvido, com novos bancos digitais, carteiras virtuais e inovações como o PIX. Globalmente, o Paypal começou a comprar bitcoins. Mas ainda há muitos brasileiros sem acesso a esse mercado, com 60 milhões de desbancarizados. Pode haver um descompasso entre o crescimento do mercado e a falta de acesso de uma camada da população?

Sempre temos que ser cuidadosos para que a tecnologia ajude a diminuir o vão e democratizar os serviços financeiros. Não podemos deixar que a complexidade do mercado e siglas nos separem. Mas eu acredito no amadurecimento e na desmistificação dos serviços financeiros, na popularização dos serviços que chegaram para trazer mais opções para os clientes. A inclusão é uma questão de tempo.

Como será a próxima década para o PayPal?

Estamos saindo de uma situação de pandemia mais próximos como sociedade e mais digitais como consumidores. O caminho da economia digital será encurtado, não vamos usar mais tanto dinheiro e sim soluções digitais, pagamentos por QR Code, aproximação. Quanto mais digital a economia, mais inclusiva será, porque os meios de pagamentos digitais são mais eficientes, custam menos e significam mais dinheiro na mão de quem precisa. Esse é um caminho sem volta.

Outro ponto para a próxima década é ter uma sociedade mais igualitária, com mais diversidade presente nas empresas, para que todos tenham oportunidades iguais. Trabalhamos para não precisar esperar até 2082 para que homens e mulheres recebam os mesmos salários. No PayPal, escolhemos ser uma empresa inclusiva, com programas para salários iguais, grupos de afinidade para que as pessoas se sintam acolhidas. Hoje temos 54% da liderança composta por mulheres, o que é impressionante em uma empresa de tecnologia e finanças.

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