Negócios

No South Summit, as histórias de luta de negócios gaúchos afetados pela enchente de 2024

Carolina Cavalheiro, do Instituto Caldeira; Rafael Sartori, do Mercado Público de Porto Alegre; e Renato Arenhart, da Lajeadense Vidros contaram ao público como encontraram resiliência para seguir adiante

Palco do South Summit Brazil 2025, em Porto Alegre: histórias de resiliência de empreendedores gaúchos retratadas pela EXAME (Leandro Fonseca /Exame)

Palco do South Summit Brazil 2025, em Porto Alegre: histórias de resiliência de empreendedores gaúchos retratadas pela EXAME (Leandro Fonseca /Exame)

Leo Branco
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 10 de abril de 2025 às 15h18.

Última atualização em 23 de abril de 2025 às 19h00.

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As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2023 e 2024 não apenas causaram estragos materiais significativos, mas também testaram a resiliência de empreendedores que, diante da tragédia, precisaram se reinventar.

Contar essas histórias foi o foco do projeto Negócios em Luta, hub de informações da EXAME sobre os múltiplos esforços da sociedade gaúcha para reconstruir o que as enchentes levaram.

Nesta quinta-feira, 10 de abril, algumas dessas histórias estiveram no palco do South Summit Brazil 2025, um dos principais eventos de inovação do mundo e cuja edição brasileira é realizada no Cais Mauá, uma das regiões de Porto Alegre mais afetadas pela enchente de maio de 2024. O South Summit Brazil é um evento de inovação realizado numa parceria entre o IE University, da Espanha, e o governo gaúcho.

Menos de um ano após a tragédia, empresários de setores diversos compartilharam suas histórias de superação. No palco estavam Carolina Cavalheiro, diretora de Novos Negócios do Instituto Caldeira; Rafael Sartori, presidente da Associação dos Mercadeiros e do Mercado Público de Porto Alegre; e Renato Arenhart, presidente da Lajeadense Vidros, destacaram a força da união e a importância de manter uma visão de futuro mesmo nos momentos mais desafiadores. O painel foi mediado por Daniel Giussani, jornalista de Negócios da EXAME.

Carolina Cavalheiro, do Caldeira: ideia de não apenas resistir ao choque, mas sair mais forte dele (Leandro Fonseca /Exame)

Resiliência com apoio da comunidade

Carolina Cavalheiro, à frente do Instituto Caldeira, compartilhou sua experiência sobre como a inovação e a união da comunidade foram fundamentais para superar o impacto das enchentes.

O Caldeira, um dos maiores hubs de inovação do Brasil, ficou submerso por dois metros de água, afetando severamente suas operações. O espaço, que abriga 520 empresas, viu 69 delas perderem tudo no primeiro andar do prédio histórico, onde estavam localizadas.

A água ficou por 28 dias, e muitos temiam que o impacto da tragédia fosse irreversível. Mas a resposta do Caldeira foi rápida e coordenada.

Carolina lembrou o conceito de antifragilidade, proposto pelo pensador Nassim Taleb, como uma das bases para a recuperação.

"A ideia de que não apenas podemos resistir ao choque, mas sair mais fortes, foi um guia importante para nós. Não queríamos perder a mobilização da comunidade de empresas que tanto ajudou a criar esse espaço", afirmou Carolina.

Ela destacou a importância de uma ação humanitária imediata, com geradores sendo instalados e equipes trabalhando para garantir que as empresas pudessem retomar suas atividades o mais rápido possível.

"A nossa maior lição foi como a comunidade se uniu para reerguer tudo. Se não fosse pela confiança entre os membros, não teríamos conseguido", disse.

Três meses após a enchente, o primeiro andar já estava funcionando, e o Caldeira estava novamente de portas abertas, mais forte e preparado para o futuro.

O instituto não apenas se recuperou, mas também está expandindo. O projeto de uma nova área de 33 mil metros quadrados já está em andamento, com espaços planejados para eventos, galeria de arte e até uma escola técnica.

"Temos um grande sonho de construir o maior distrito de inovação da América Latina", afirmou Carolina. O Caldeira, então, se reafirma como exemplo de como uma comunidade forte e unida pode superar até os maiores desafios.

Renato Arenhart, da Lajeadense Vidros: "Nossa prioridade foi pagar as contas e garantir que a produção voltasse" (Leandro Fonseca /Exame)

Superação após a destruição

Renato Arenhart, da Lajeadense Vidros, trouxe uma perspectiva diferente sobre como as enchentes podem afetar diretamente o processo de produção e as estruturas empresariais.

Localizada em Lajeado, a Lajeadense Vidros foi atingida por três enchentes em menos de um ano. A primeira, em setembro de 2023, foi a maior da história da região, com a água subindo a 2,40 metros dentro da fábrica, destruindo estoques e equipamentos.

As enchentes subsequentes, especialmente a de maio de 2024, agravaram ainda mais a situação, com a água atingindo 13,60 metros e passando por cima de tudo.

A perda de 150 toneladas de vidro e de todo o estoque foi devastadora para a empresa, que viu a maioria de seus bens ser arrastada pela correnteza.

Contudo, em vez de sucumbir ao desespero, Arenhart tomou decisões estratégicas rápidas para minimizar o impacto. "Nossa prioridade foi pagar as contas e garantir que a produção voltasse a funcionar o quanto antes", disse.

A mudança de localização foi uma das medidas adotadas. "Saímos da cota 25 e vamos para uma cota de 70 metros, bem acima da linha das inundações. Isso nos dá mais segurança e também nos permite dobrar a produção", disse Arenhart, com um semblante de quem, mesmo após tanta perda, vê a reconstrução como uma oportunidade para o futuro.

A nova fábrica estará em funcionamento dentro de dois meses, e Renato acredita que, ao investir em novos equipamentos, será possível não apenas se reerguer, mas também aumentar a produção de maneira significativa.

Ele compartilhou que, em momentos de crise, é importante manter a mentalidade positiva. "A principal lição que tiramos disso tudo é que temos que seguir em frente, olhar para o futuro. Não podemos nos deixar abater. O que passou, passou", afirmou.

A transformação da área onde estava a antiga fábrica também trará benefícios à comunidade local. O espaço será transformado em uma marina e em um novo polo de negócios, com a proposta de diversificar as atividades e gerar novos empregos.

Painel do South Summit Brazil 2025 com empreendedores afetados pela enchente: momento de reinvenção (Leandro Fonseca /Exame)

Mercado Público: Inovação e tradição em harmonia

O Mercado Público de Porto Alegre, um dos mais tradicionais pontos de comércio do estado, também sofreu com as enchentes.

O mercado histórico, com mais de 150 anos, foi invadido pela água que subiu lentamente do sistema hidro sanitário, atingindo 1,80 metros e permanecendo no local por 21 dias.

O impacto foi severo, especialmente na parte inferior das lojas, que ficou inutilizada, e em equipamentos essenciais para o funcionamento.

Rafael Sartori, presidente da Associação dos Mercadeiros e do Mercado Público, destacou como o mercado conseguiu se reerguer rapidamente, graças ao esforço coletivo dos comerciantes e à ajuda externa.

"Tivemos que agir rápido para evitar que os comerciantes desistissem. O mercado é um ponto de referência para muitos, e nossa missão era garantir que ele continuasse vivo", disse Sartori.

Apesar dos desafios, o Mercado Público passou por um processo de revitalização e reinvenção. "O mercado já passou por incêndios e outras dificuldades, mas nunca se deixou abalar. Agora, estamos apostando na gastronomia como um dos pilares da nossa recuperação", disse Sartori.

De fato, o mercado se transformou em um polo gastronômico, com novas opções de restaurantes e bares, além de eventos como o festival de jazz, que têm atraído novos públicos e revitalizado o espaço.

A taxa de ocupação do Mercado Público subiu de 85% para 96%, refletindo o interesse renovado. Sartori destacou a importância de manter a tradição, mas sem perder a capacidade de inovar.

"Nosso objetivo foi combinar inovação e tradição. Não queríamos perder a identidade, mas sabíamos que era necessário agregar novas opções para atrair mais pessoas", afirmou.

Lições para o Rio Grande do Sul e para o Brasil

O painel no South Summit evidenciou que, mesmo em face de grandes adversidades, a resiliência é o maior diferencial para a sobrevivência e crescimento dos negócios.

Carolina, Renato e Rafael, com suas histórias de superação, mostraram que não basta apenas reconstruir o que foi perdido — é preciso inovar, unir forças e manter a confiança no futuro.

O Rio Grande do Sul, conhecido por sua forte cultura empresarial e comunitária, mostrou mais uma vez sua capacidade de adaptação e crescimento.

Empresas como o Caldeira, a Lajeadense Vidros e o Mercado Público não apenas superaram o impacto das enchentes, mas transformaram a tragédia em oportunidade para fortalecer seus negócios e gerar novos empregos.

Com uma combinação de inovação, colaboração e determinação, esses empresários estão criando novos rumos para suas empresas, reforçando a ideia de que, mesmo nas situações mais difíceis, é possível transformar a adversidade em força para o futuro.

A lição que fica é clara: a resiliência não é apenas a capacidade de resistir, mas também de crescer e se fortalecer com os desafios.

O caminho à frente é de reinvenção e fortalecimento. O Caldeira está se expandindo para se tornar um dos maiores hubs de inovação da América Latina, a Lajeadense Vidros está apostando em novos investimentos para dobrar sua produção, e o Mercado Público continua a atrair visitantes e comerciantes, agora como um polo gastronômico de Porto Alegre.

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