Estudantes do Colégio Santo Américo durante o CSA MUN, simulação da ONU realizada anualmente na escola, em São Paulo (Arquivo Pessoal Colégio Santo Américo)
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Publicado em 16 de outubro de 2025 às 16h25.
Última atualização em 16 de outubro de 2025 às 17h20.
No Colégio Santo Américo, em São Paulo, os corredores ganham ares de diplomacia internacional uma vez por ano. É quando ocorre o CSA MUN, uma simulação da ONU conduzida por alunos do colégio com supervisão acadêmica.
Durante três dias, os estudantes assumem papéis de delegados, negociam acordos e enfrentam dilemas globais – experiências que, segundo Cristiano Silva, coordenador pedagógico do Santo Américo, ampliam competências essenciais para a vida adulta e o mercado de trabalho.
As simulações reproduzem os protocolos e organismos da Organização das Nações Unidas, com comitês temáticos que debatem questões internacionais. “A ideia é expor os jovens aos problemas mais difíceis e às situações de negociação mais complexas, seguindo os protocolos diplomáticos da ONU”, afirma Cristiano.
No projeto, os alunos são organizados em delegações e assumem o papel de países em comitês que simulam o Conselho de Segurança, a Assembleia Geral, o Unicef ou a Organização Internacional do Trabalho. Cada grupo deve pesquisar, debater e redigir documentos diplomáticos com propostas concretas de solução.
“A nossa simulação tem dez comitês e ocorre durante três dias, sempre no fim de outubro. A escola para, e os debates tomam conta do colégio”, afirma.
Delegados do CSA MUN durante uma das sessões que reproduzem os protocolos diplomáticos da ONU (Arquivo Pessoal Colégio Santo Américo)
O evento culmina em janeiro, quando um grupo menor viaja aos Estados Unidos para participar da Yale Model United Nations (YMUN), tradicional conferência internacional. “Ficamos dez dias no país, com uma agenda cultural e geopolítica em Nova York, e depois seguimos para New Haven, onde acontece a simulação em Yale.”
Embora as simulações da ONU sejam comuns em universidades e escolas dos Estados Unidos e da Europa, no Brasil ainda são raras. Para Cristiano, há uma explicação cultural e estrutural. “O Brasil é uma potência regional. Não é algo do dia a dia do brasileiro pensar em questões geopolíticas”, afirma. “Nos Estados Unidos, a agenda nacional se desdobra numa agenda internacional. Aqui, não.”
Outro obstáculo é o custo. “Organizar uma simulação diplomática é um esforço muito relevante, tanto de tempo quanto de recursos financeiros”, observa. Além disso, o modelo de contratação de professores dificulta o engajamento. “No hemisfério norte, é comum que os docentes sejam contratados em regime integral. Aqui, recebem por aula dada. É difícil encaixar um projeto desses na rotina tradicional.”
Apesar dos desafios, iniciativas como a do Santo Américo mostram que a diplomacia estudantil traz inúmeros benefícios na formação acadêmica.
Alunos assumem o papel de delegados em comitês temáticos que simulam o Conselho de Segurança e outras agências da ONU (Arquivo Pessoal Colégio Santo Américo)
As simulações têm impacto direto no desenvolvimento pessoal e profissional dos alunos. “O debate é um grande laboratório de resolução de problemas”, explica. “Eles precisam propor soluções, negociar, desenvolver oratória e lidar com temas complexos.”
Os estudantes também podem integrar a equipe organizadora, responsável por áreas como marketing, secretaria acadêmica, finanças e relações públicas. “O CSA MUN é como uma empresa”, resume o professor. “Hoje temos cerca de 45 alunos à frente do evento.”
A partir de 2025, o colégio incorporou metodologias de gestão de projetos ao treinamento dos organizadores. “Incluímos elementos de metodologias ágeis e do PMBOK (guia internacional de boas práticas em gestão de projetos). A ideia é que o CSA MUN seja um laboratório de gestão dentro da escola.”
A aluna Dora de Almeida Prado Sanches, 17 anos, é Secretária-Geral Institucional do CSA MUN e supervisiona todo o evento. “É uma grande responsabilidade. Lidar com pessoas nem sempre é fácil, mas quando a gente faz o que ama, tudo vale a pena”, afirma.
Para Dora, a experiência tem sido uma antecipação do que enfrentará no futuro profissional. “É muito legal poder participar disso com 17 anos, porque talvez seja uma experiência de liderança que eu só teria na vida adulta”, diz.
Apaixonada por política e interessada em cursar Direito, ela vê nas simulações um campo fértil para crescimento pessoal. “O CSA MUN está me ajudando a ficar cada vez melhor em lidar com pessoas. É uma oportunidade de desenvolver habilidades que vou usar em toda a minha vida”, completa.
Maria Eduarda Solera Clemente, aluna de 16 anos do Santo Américo, também sonha em cursar Direito e participar das simulações certamente vai contribuir para a carreira que escolheu. Isso porque, de acordo com ela, o projeto trouxe uma grande transformação em sua forma de se comunicar. “Eu sempre fui muito tímida”, revela. “As simulações me ajudaram muito na oratória e a falar em público.”
Agora, Maria Eduarda se prepara para a próxima simulação, que acontece no fim do mês. “Estou muito animada. Treinei bastante para que tudo saia perfeitamente. Minhas expectativas estão bem altas.”
Segundo o professor Cristiano, a vivência nas simulações oferece vantagens reais para os alunos quando chegam à universidade e ao mercado. “Eles têm a experiência de construir algo grande e ver o resultado. Isso cria confiança e senso de realização”, afirma. “Aprendem a lidar com conflitos, a se organizar e a resolver problemas.”
Cristiano acompanha a evolução dos alunos com entusiasmo. “É muito estimulante e comovente ver o processo de desenvolvimento deles se acelerar”, afirma. “Em poucos meses, muitos amadurecem, ganham consistência intelectual e emocional, e descobrem que são capazes de muito mais do que imaginavam.”
Ao fim de cada edição, entre discursos, negociações e risadas, o que se forma no Santo Américo vai além de um evento acadêmico. É, como define o professor, “a transmissão de um legado” – o de preparar jovens para compreender o mundo e agir nele com empatia, responsabilidade e visão global.