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No Bradesco, pessoas voltam a pegar empréstimos, mas empresas não

As previsões são um pouco mais otimistas para 2018: crédito deverá crescer cerca de 5%, segundo economistas

Bradesco: maior perda entre os bancos (Andrew Harrer/Bloomberg)

Bradesco: maior perda entre os bancos (Andrew Harrer/Bloomberg)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 1 de novembro de 2017 às 15h54.

São Paulo – Para o Bradesco, a economia já dá sinais de recuperação da crise econômica. No entanto, essa retomada é sentida de maneiras bem diferentes por empresas e por pessoas.

Um dos sinais é a carteira de crédito do banco, que chegou a 486,9 bilhões de reais no terceiro trimestre, queda de 6,7% em relação ao ano anterior.

Esse número concentra duas realidades distintas. De um lado, pessoas físicas voltaram a pedir empréstimos e, do outro, empresas ainda não se recuperaram completamente.

As operações de crédito para pessoas físicas totalizaram 172,21 bilhões de reais, um crescimento de 0,7% em relação a setembro de 2016. Já as operações a pessoas jurídicas atingiram 314,66 bilhões de reais, uma redução de 10,3% em relação a setembro de 2016.

Para o Bradesco, as grandes empresas estão em processo de recuperar seus balanços e ajustar suas dívidas. Mesmo assim, os problemas não acabaram.

"Já atingimos o pico de inadimplência de grandes empresas e vemos uma tendência de queda. No entanto, essa linha deve continuar um pouco mais volátil, com oscilações e ainda podemos ter uma instabilidade pontual", afirmou Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado.

"Vemos sinais de melhora em todas as linhas de crédito para pessoas físicas", disse. "As pessoas voltaram a consumir, antes das empresas voltarem a investir".

O crédito a micro, pequenas e médias empresas foi 17,8% menor nesse trimestre. "As pequenas e médias empresas sofreram bastante com a crise e a demanda ainda é restrita", disse Firetti.

Já as grandes empresas ainda vão levar um tempo para retomar a confiança na economia e para decidir investir e, consequentemente, tomar crédito nos bancos, diz o diretor. Para grandes contas, os empréstimos foram 6,8% inferiores ao mesmo período no ano anterior.

As previsões são um pouco mais otimistas para 2018. Para os economistas do banco, o crédito deverá crescer cerca de 5% no ano que vem.

Calotes

Se por um lado a tomada de crédito ainda não se recuperou, por outro os calotes diminuíram.

A inadimplência por mais de 90 dias foi de 4,77% no trimestre. O pico foi no primeiro trimestre do ano, quando a porcentagem de pagamentos não realizados chegou a 5,6%.

Com a diminuição dos calotes, o banco também consegue diminuir os custos atrelados a eles. O Provisionamento para Devedores Duvidosos, que correm o risco de não cumprir com suas obrigações, caiu para 3,8 bilhões de reais.

Esse é um dinheiro gasto pela empresa para se proteger dos calotes, que chegou ao máximo no terceiro trimestre do ano passado, em 5,7 bilhões de reais.

Os calotes de grandes empresas foram um desafio para os bancos no ano passado. Com a recuperação judicial de empresas como a Oi e Sete Brasil, os bancos aumentaram muito os custos de proteção contra devedores duvidosos, o que afetou seus lucros.

Demissões e fechamentos de agências

Por conta da crise e da aquisição da divisão de varejo do HSBC, o Bradesco passou por uma intensa reestruturação. A compra, realizada em 2015, foi concluída em julho de 2016. Os dois bancos possuíam sobreposição de agências e de funcionários.

Para economizar, o banco finalizou esse trimestre o seu Plano de Demissões Voluntárias. Cerca de 7,4 mil pessoas aderiram ao programa apenas no trimestre. Em um ano, o banco fechou 9,3 mil vagas de trabalho.

O custo com essas demissões será de 2,3 bilhões de reais e o valor já foi contabilizado no balanço do terceiro trimestre. A empresa acredita que, com um quadro de funcionários reduzido, irá economizar 1,5 bilhão por ano. Assim, o plano será pago em 16 meses.

Outro corte foi no número de agências: 223 foram fechadas no trimestre e quase 500 em um ano.

"Para esse momento, acreditamos que os resultados que apresentamos estão adequados, tanto em relação ao plano de demissões quanto ao número de agências", afirmou o vice-presidente de relações com investidores e risco, Alexandre Glüher.

"Mas ainda há algum movimento a ser feito em termos de agências, pois ainda não concluímos o fechamento das agências sobrepostas" do HSBC e Bradesco, disse.

O lucro líquido ajustado da companhia foi de 4,8 bilhões de reais, crescimento de 7,8% contra o ano anterior.

O lucro ajustado não considera efeitos não recorrentes. Um desses efeitos é o gasto de 2,3 bilhões de reais com o plano de demissões. Considerando esses gastos, o lucro líquido foi de 2,88 bilhões de reais, queda de 10,9%.

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