Loja da Nissei: rede paranaense com 476 lojas ocupa hoje a sétima posição entre as maiores do Brasil (Divulgação/Divulgação)
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Publicado em 25 de novembro de 2025 às 12h29.
O varejo farmacêutico movimentou 103,14 bilhões de reais em 2024, segundo a Abrafarma. Apesar do tamanho do setor, a competição é fragmentada.
A RD Saúde, antiga Raia Drogasil, lidera o mercado há 14 anos. O Grupo DPSP aparece em segundo. Pague Menos, São João e Panvel completam o top 5.
A disputa segue acirrada, porque nenhum grupo domina a operação no país.
A Nissei, rede paranaense com 476 lojas, ocupa hoje a 7ª posição entre as maiores do Brasil.
A empresa opera em cinco estados e aposta no formato de drugstore, cujo mix costuma incluir medicamentos, cosméticos, itens de higiene, além de alimentos e bebidas.
O objetivo é disputar o cliente num ambiente em que supermercados, minimercados e plataformas digitais avançam sobre o mesmo território.
Neste momento, o ritmo na empresa é o de preparação para uma mudança significativa no negócio daqui para frente.
A Nissei acaba de entrar no programa piloto da reforma tributária, que testa o novo modelo de cobrança de impostos que entra em vigor em 2026.
A empresa integra a lista das 129 companhias selecionadas pelo governo para operar o sistema antes da transição.
“Acho que isso mostra um pouco da credibilidade que a gente tem”, afirma André Lissner, CFO da Nissei. “Ao mesmo tempo, trata-se de uma oportunidade de contribuir com uma mudança importante”, diz.
O futuro da empresa passa por maturar o ciclo de expansão acelerado, em um ano a empresa abriu 100 lojas.
A origem da Nissei remete ao percurso do fundador, Sérgio Maeoka.
Aos 14 anos, recém-chegado a Curitiba, começou como entregador em uma farmácia.
Depois virou caixa, atendente e gerente. Com a rescisão — o equivalente a mil dólares — abriu duas frentes: uma farmácia e uma pastelaria.
A rotina era direta: massa pela manhã, balcão da farmácia à tarde, pastel no almoço e mais farmácia no fim do dia.
Em 1986, já somava três farmácias e três pastelarias. Ao perceber que não sustentaria os dois modelos, vendeu as pastelarias e focou no varejo farmacêutico.
Em 2002, com a autorização da Anvisa para supermercados venderem medicamentos, Sérgio ampliou o tamanho das lojas e adotou o formato de drugstore, com itens de conveniência, alimentação, papelaria e pet.
Hoje, nenhuma unidade da Nissei abre com menos de 300 metros quadrados. O mix passa de 18 mil em estoque.
André Lissner, da Nissei: “Se você está numa loja de público BCD, a promoção aparece mais. Se está numa área nobre, o cliente não quer ser interrompido” (Divulgação/Divulgação)
O programa piloto simula o pagamento dos novos tributos — a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), federal, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), estadual e municipal — que substituem PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS. O objetivo é identificar falhas antes da entrada definitiva das regras.
A Nissei realizou cadastramentos, montou comitês internos e aguarda as etapas técnicas.
“A partir da hora que você participa de um processo como esse, estará muito mais preparado para a reforma. Vou mitigar riscos, saio na frente de toda essa adaptação”, afirma Lissner.
A transição começa em 2026 e segue até 2033. No setor farmacêutico, a discussão é sensível: medicamentos carregam peso tributário alto no preço final, e qualquer mudança afeta margem e repasse ao consumidor.
A entrada no piloto também tem relação com governança. A Nissei é uma S.A. de capital aberto, classe A na CVM, mas sem ações negociadas.
Publica ITR, possui auditoria interna e externa de Big Four e acumula, há quatro anos consecutivos, um selo internacional de governança que apenas 16 empresas brasileiras possuem.
“Nós temos prêmios que só 16 empresas têm no Brasil. Isso mostra essa credibilidade que a gente vem construindo”, diz André.
A empresa agora prepara uma frente de ESG — energia renovável em 98,5% das lojas, coleta de medicamentos e liderança feminina de 72% — que será comunicada pela primeira vez ao mercado.
“A gente já tem as práticas, mas não divulgava. Agora vamos estruturar essa comunicação”, afirma Rhanna Sarot, gerente institucional.
A Nissei abriu cerca de 25 lojas por ano nas últimas décadas. Mas em 2023 decidiu acelerar.
Para isso, comprou pontos da Poupa Farma, em São Paulo, além de 32 lojas que compunham uma parte dos ativos à venda na recuperação judicial da rede Santa Marta, no Centro-Oeste.
Isso levou a empresa para São Paulo, litoral paulista, Goiás e Distrito Federal.
Entre dezembro de 2023 e o fim de 2024 foram 100 lojas abertas em 13 meses — um aumento incomum para a empresa.
O capex subiu, o caixa caiu e o EBITDA percentual recuou com a maturação das lojas novas.
Os resultados de 2025 mostram recuperação:
“Esses números mostram que a aposta foi muito acertada”, diz André.
Por ser S.A. classe A, ele não pode dar guidance. Mas afirma que 2025 e 2026 serão anos de maturação, não de expansão. Até agora, apenas 8 lojas foram abertas.
O formato de drugstore exige mudança de comportamento. Não é apenas visita por remédio, mas compra de conveniência. Essa dinâmica varia por região e depende do hábito local.
Para lidar com isso, a Nissei usa clusterização, como André define. “Se você está numa loja de público BCD, a promoção aparece mais. Se está numa área nobre, o cliente não quer ser interrompido”, diz.
A disputa pela conveniência inclui supermercados 24 horas, minimercados de bairro e plataformas digitais — todos brigando por a mesma compra rápida.
André Lissner chegou à Nissei em 2016 após uma carreira em departamentos de auditoria em multinacionais. Um dos focos do trabalho é a estruturação de governança em empresas familiares.
“Eu não acredito naquele financeiro que bate na mesa. Hoje, o melhor financeiro é mais psicólogo do que financeiro”, afirma.
Ele acompanhou o quase IPO de 2020, interrompido após piora no mercado internacional. Na época, prometia entregar 91 milhões de EBITDA e fechou com 105.
Agora, os 12 meses móveis até setembro marcam 252 milhões — número já divulgado no RI.