A proposta trata de uma remodelação definitiva para a companhia, com a possibilidade de desalavancagem por meio de conversão de parcela do crédito em ações. (Grupo Casas Bahia/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 3 de maio de 2024 às 09h17.
Última atualização em 3 de maio de 2024 às 09h57.
O acordo com os principais bancos parceiros, anunciado no domingo, 28 de abril, é mais um passo no plano de transformação do Grupo Casas Bahia, iniciado no ano passado. Com o reperfilamento da dívida, a companhia irá preservar R$ 4,3 bilhões de caixa até 2027, sendo R$ 1,5 bilhão somente em 2024. O prazo médio para a amortização, que era de 22 meses, passa a ser de 72 meses, com a redução de 1,5 p.p. no custo médio da dívida – uma economia de R$ 400 milhões no período.
A operação tem perímetro restrito, ou seja, inclui apenas dívidas financeiras sem garantias, como debêntures e CCBs emitidas junto aos bancos. Com o alongamento e a redução de custo da dívida, o movimento traz ainda mais confiança e segurança a todos os fornecedores, parceiros, clientes e colaboradores do Grupo.
Veja em 5 pontos os principais benefícios do novo perfil da dívida do grupo:
Para Renato Franklin, presidente da companhia, o movimento traz ainda mais confiança e segurança a todos os fornecedores, parceiros, clientes e colaboradores do Grupo, já que gera um novo fluxo de caixa mais robusto e que dá mais segurança contra volatilidades do mercado, aumentando ainda mais a confiança na execução do plano de transformação.
O mercado reagiu muito bem à proposta da companhia. Em 29 de abril, primeiro dia de pregão após o anúncio do acordo, as ações da Casas Bahia foram o destaque do dia. A ação ON (BHIA3) fechou em alta de 34,19%. Já o Ibovespa terminou o dia com um aumento de 0,65%.
O reperfilamento inclui apenas CCBs e debêntures — dívidas financeiras sem garantias. Do ponto de vista específico dos credores, o acordo preserva o valor do principal para este grupo (sem “haircut” ou deságio), com juros de mercado e garantia real.
Com isso, a empresa segue uma rotina normal, sem que haja qualquer impacto para clientes, fornecedores, colaboradores e sellers.
“As dívidas que são objeto de renegociação são estritamente financeiras e não afetarão clientes, fornecedores, vendedores ou colaboradores. O acordo tem um escopo limitado, não abrangendo outras dívidas do Grupo, como aquelas relacionadas a operações com fornecedores e parceiros. Essas dívidas continuarão a ser honradas regularmente e dentro dos prazos estipulados, sem qualquer interrupção ou descontinuidade”, detalha Franklin.
Veja os principais aspectos do processo de reestruturação da dívida da companhia:
A) Manutenção dos compromissos com fornecedores e seguradoras
Reestruturação da dívida financeira da Casas Bahia, mantendo inalteradas as condições de pagamento com seus fornecedores e seguradoras.
B) Vinculação de credores financeiros pulverizados
O acordo permite que os termos da reestruturação previstos no plano sejam vinculantes aos seus credores financeiros pulverizados.
C) Continuidade operacional assegurada
(1) Não afeta os direitos de trabalhadores e fornecedores da companhia;
(2) Não requer monitoramento das atividades da companhia pelo Juízo ou por administrador judicial;
(3) Não impõe riscos ou hipóteses de convolação da RE em falência;
(4) Preserva a possibilidade futura de renegociações bilaterais ou coletivas.
A proposta trata de uma remodelação definitiva para a companhia, com a possibilidade de desalavancagem por meio de conversão de parcela do crédito em ações.
O acordo, aprovado por Jomar Juarez Amorim, juiz da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais (Tribunal de Justiça de São Paulo) na segunda-feira, 29, detalha o cronograma estimado, além dos principais aspectos do processo.
Em até uma semana, a previsão é a seguinte:
- Pedido de RE - Plano de RE, celebrado com os credores detentores de 54,5% da dívida reestruturada, foi apresentado ao Juízo.
- Revisão do Pedido de RE — Juízo analisa o pedido de RE e abre prazo para eventuais objeções.
Na sequência, em até 30 dias (levando-se em consideração as objeções taxativas e limitadas pela lei), deve ocorrer a homologação do Plano de RE. Nela, o Juízo analisa o plano de RE (e as eventuais objeções) e decide sobre a sua homologação.
Por último, ocorre a implementação do Plano de RE, com a substituição da dívida financeira reestruturada por novos instrumentos de dívida.
O acordo, analisa o presidente do Grupo, é um passo muito importante que permite ter mais foco e acelerar alguns pontos do plano de transformação. A companhia, segundo Franklin, segue ciente dos desafios e de como está o mercado atualmente.
“A estratégia do Grupo não será impactada pelo reperfilamento de dívidas. O foco continuará tendo protagonismo e liderança em nossas categorias core e gerando mais rentabilidade, foco na redução de custos e melhora da margem”, salienta.
Ainda segundo o executivo, de 2025 em diante, há melhorias a serem implementadas. No entanto, o Grupo Casas Bahia já começa a se concentrar em captura de valor por meio de CRM, precificação, inauguração de lojas no modelo de store in store e evolução nas soluções financeiras e serviços. “Com esta negociação, certamente, a empresa conseguirá antecipar alavancas do plano de transformação e melhorar o resultado.”
O Grupo Casas Bahia tem suas ações listadas na B3 desde 2013, está em, aproximadamente, 400 municípios, 22 estados e no Distrito Federal. Ao todo, são ao redor de 1,2 mil lojas e por volta de 40 mil colaboradores.
Os pontos de venda e o e-commerce contam com o apoio de 29 centros de distribuição e hubs de entregas para que os produtos, créditos, serviços financeiros e outras soluções tecnológicas cheguem a cerca de 97 milhões de clientes.
Antes do acordo, a direção do Grupo colocou em prática uma série de ações de recomposição da operação. Entre elas, estão o posicionamento da empresa como um player especialista, com foco em rentabilidade e a mudança da denominação social para Grupo Casas Bahia.
A companhia conseguiu a redução de R$ 1,2 bilhão de estoques e a otimização de sortimento de loja. Ao todo, 23 categorias foram migradas totalmente para o 3P e 8,6 mil posições foram reduzidas em 2023.
Além disso, 55 lojas tiveram as operações encerradas; foi adotado um plano de recuperação dos pontos de venda, quatro centros de distribuição passaram por readequações e outros dez estão em fase de replanejamento.
A empresa atingiu um maior alcance de serviços em lojas e adotou o Retail Media, por meio do Casas Bahia Ads. Também se vê hoje estoques saudáveis. Além disso, nos próximos dias, a companhia está abrindo uma loja no shopping Aricanduva, com mais de 3,5 mil metros quadrados e segue o conceito de modernização da empresa. Esse lançamento não apenas reflete o compromisso do Grupo com a inovação no varejo, mas também a dedicação total em proporcionar uma experiência única aos seus milhares de clientes.
Com estas etapas já cumpridas, não há planos para uma nova readequação do quadro de funcionários ou o fechamento de mais lojas. Como explica o presidente do Grupo, o plano se concentra principalmente na melhoria de caixa, com maior foco nas alavancas operacionais do plano de transformação.
Após todo o movimento, “pela primeira vez em quatro anos, se tem um fluxo de caixa livre positivo em R$ 648 milhões no 4T23 e uma realocação estratégica de produtos para o marketplace e lojas físicas, visando otimizar a lucratividade”, diz Franklin.