Porto Digital, no Recife: um dos primeiros movimentos para estruturar a inovação no Nordeste começou no Recife, com o Porto Digital (WikimediaCommons/Américo Nunes)
Repórter de Negócios
Publicado em 28 de abril de 2025 às 10h55.
O mapa da inovação brasileira está mudando.
Pela primeira vez, o Nordeste ultrapassou o Sul e se tornou a segunda maior região do país em número de startups, atrás apenas do Sudeste. O movimento, apontado no Sebrae Startups Report 2024, marca uma nova fase no ecossistema nacional, com crescimento fora do eixo tradicional Rio-São Paulo.
O levantamento, feito pelo Observatório Sebrae Startups, mapeou 18.056 startups ativas no Brasil. O Sudeste concentrou 36,15% delas. Já o Nordeste apareceu com 23,53% do total — superando o Sul, que ficou com 21,06%.
"O Brasil vive uma descentralização da inovação, com novos polos surgindo fora dos grandes centros", afirma Décio Lima, presidente do Sebrae.
O timing do movimento não é aleatório.
Desde 2022, o Sebrae investe em programas como o StartupNE e o Inova Biomas, focados no fortalecimento dos ecossistemas locais. Além disso, eventos como o NordesteOn ganharam força e ampliaram a conexão entre empreendedores, investidores e governo. “Apostar na inovação regional é garantir que as soluções venham das próprias necessidades locais”, diz Lima.
Mas, é importante destacar, não é de hoje que a região tem hubs de tecnologias importantes para o desenvolvimento do setor no país.
Um dos primeiros movimentos para estruturar a inovação no Nordeste começou no Recife, com o Porto Digital. Criado em 2000, o parque tecnológico foi pioneiro ao combinar desenvolvimento econômico, revitalização urbana e preservação do patrimônio histórico. Hoje, o Porto Digital é um dos maiores distritos de inovação da América Latina e referência em como políticas públicas regionais podem impulsionar novos ecossistemas de startups.
O futuro aponta para um Nordeste ainda mais ativo no cenário de inovação. O Neon 2025, que acontecerá no primeiro semestre do próximo ano, será a vitrine para as boas práticas e para a consolidação de hubs regionais como Recife, Fortaleza e Natal — hoje entre as dez cidades com maior número de startups do país.
O avanço do Nordeste é parte de uma transformação nacional. O Centro-Oeste apresentou um crescimento proporcional de 189% no número de startups em um ano, e o Norte dobrou sua representatividade. A tendência é que novos polos regionais ganhem espaço, movidos por incentivos locais, redes de apoio e a necessidade de soluções adaptadas a realidades específicas.
No Nordeste, a expansão é puxada por setores como Tecnologia da Informação, Saúde e Bem-Estar e Educação — os três segmentos que concentram 33% das startups da região.
Florianópolis e São Paulo ainda lideram em volume absoluto, mas Recife e Fortaleza já se posicionam como centros estratégicos de inovação.
“Estamos vendo uma transformação cultural nas capitais nordestinas, com mais acesso a capacitação e incentivo para startups voltadas a resolver desafios reais das comunidades locais”, afirma Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional.
O Sebrae Startups Report 2024 também revelou uma mudança histórica no perfil dos fundadores de startups.
A participação feminina entre os sócios saltou de 8,65% em 2023 para 30,18% em 2024. O crescimento é atribuído a políticas de inclusão atreladas a programas de capacitação e redes de mentoria.
Além do aumento da diversidade de gênero, o estudo aponta uma diversificação nos modelos de negócios.
Apesar do B2B continuar dominante (50,9%), o B2B2C e o B2C também ganharam força, refletindo uma aproximação maior das startups com o consumidor final.
Apesar do avanço no número de startups, a maioria ainda opera em estágios iniciais: 22% estão em ideação e 33% em validação. Apenas 3,72% chegaram ao estágio de escala. A falta de investimentos, a baixa experiência de gestão e a dificuldade de expansão para outros mercados seguem como entraves para a consolidação dos novos polos.
Outro dado crítico é o faturamento. Mais da metade das startups mapeadas (52%) ainda não geram receita, e apenas 1,53% faturam acima de 4,8 milhões de reais por ano. A maioria trabalha com equipes enxutas — 80% com até três pessoas.
“A inovação é o motor econômico do país, mas o desafio é garantir que ela seja acessível para todos os brasileiros, independentemente da sua região ou origem", afirma Quick. Segundo ele, a missão do Sebrae é atuar como "escudo de proteção" para que os pequenos negócios possam competir num mercado dominado por gigantes da tecnologia.