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´Não seria impossível unir a Vivo a outra operadora´, diz acionista da Portugal Telecom

Em entrevista exclusiva ao site de EXAME, o português Nuno Vasconcellos, presidente da Ongoing, explica porque é contra a venda da operadora brasileira

Nuno Vasconcellos: "Vender a Vivo é sempre uma possibilidade, mas não nesses termos. É impossível deixar o mercado brasileiro"

Nuno Vasconcellos: "Vender a Vivo é sempre uma possibilidade, mas não nesses termos. É impossível deixar o mercado brasileiro"

DR

Da Redação

Publicado em 18 de abril de 2012 às 14h03.

São Paulo - A disputa entre a operadora espanhola Telefônica e a Portugal Telecom pelo controle da Vivo terá novo desfecho neste mês. No dia 30 de junho, os acionistas minoritários da Portugal Telecom se reunirão em assembleia geral para avaliar a proposta de 6,5 bilhões de euros feita pela Telefônica para adquirir os 50% que a PT detém na Vivo e assim ter o controle completo da operadora brasileira, líder no mercado nacional.

Mas os planos da Telefônica podem naufragar no que depender de Nuno Vasconcellos, presidente da empresa portuguesa Ongoing, detentor de 6,74% das ações na Portugal Telecom. Ele estará presente na assembleia e avisa: "Por esse valor, votarei contra". Mas, ao contrário do que possa parecer, a negativa à oferta pode ser revista. "Sou um homem de negócios. Vender a Vivo é sempre uma possibilidade, mas não nesses termos. É impossível deixar o mercado brasileiro", diz. Nos últimos três anos, o fundo investiu cerca de 1 bilhão de euros nas áreas de tecnologia, mídia e -- claro -- telecomunicações. Na semana passada, o presidente do Ongoing recebeu a reportagem do site EXAME no escritório do grupo em São Paulo. Leia a entrevista.</p>

EXAME - Analistas dizem que a venda da participação da Portugal Telecom na Vivo é uma questão de preço. Basta a Telefônica melhorar a oferta para fechar o negócio. É tão simples assim?
Nuno Vasconcellos -
Infelizmente não é tão simples. Imagine que nós somos parceiros e compramos um carro. Passados alguns anos, você diz que quer comprar a minha parte do carro, mas eu não quero vender. Gosto de andar com ele no fim de semana. Se você pagar só o valor da minha metade, não consigo comprar outro. É isso que está acontecendo com a Telefônica. A GVT, por exemplo, foi vendida para a Vivendi por 3,8 bilhões de reais, mesmo sendo pequena. A Vivo é a maior da América Latina e a décima do mundo -- só no Brasil, tem 30% do mercado e pode crescer ainda mais em áreas como banda larga, tecnologias 3G e 4G. Há cinco anos, a Vivo tinha 25 milhões de clientes; hoje tem 55 milhões. Agora que vai começar a distribuir dividendos, querem comprar nossa parte? A Vivo até hoje não deu muito dinheiro para os acionistas porque investiu muito. Imagine que daqui a 5 anos ela valha 12 bilhões. A Telefônica diz que tem sinergias de 2,8 bilhões de euros. Na verdade, eles têm 4 bilhões. No total, está longe dos 6,5 bilhões de euros, não?

EXAME - Mas isso dá a entender que vocês poderiam aceitar a venda por um novo valor...
Vasconcellos -
Sou um homem de negócios. Sei aquilo que eu quero e o que é melhor para a Portugal Telecom e para seus acionistas. Estou falando daqueles que investem a médio e longo prazo, não dos traders. Os últimos cinco anos no Brasil foram ótimos e, nos próximos, o país vai crescer mais. Não faz sentido uma oferta de 6,5 bilhões. Não é muito dinheiro.


EXAME - Então, a proposta da assembleia geral do dia 30 será negada.
Vasconcellos -
Por mim vai ser negada. Não falo pelos outros acionistas, mas digo que estamos com interesses aliados. Ao contrário do que possa parecer, nós somos facilitadores de negócios. Vamos optar pelo que for bom para a PT, para seus acionistas e para o mercado de telecomunicações no Brasil.

EXAME - A Telefônica anunciou que realizaria uma série de reuniões para tentar convencer os acionistas. O senhor foi procurado?
Vasconcellos -
Não fui procurado por ninguém.

EXAME - Como o pessoal da Vivo está reagindo a essa história toda?
Vasconcellos -
Não tenho contato com eles. Quando quero saber como está a situação, falo com o presidente da Portugal Telecom.

EXAME - Você se encontra com os outros acionistas com frequência?
Vasconcellos -
Além de uma amizade com os acionistas, obviamente tenho uma relação institucional com eles. Faço parte do conselho da Portugal Telecom. Não falo diariamente, mas nessas alturas trocamos impressões, dou minhas sugestões. Não combinei nada com os outros acionistas. O que faço é dar publicamente minha opinião para que as pessoas saibam que o que queremos é o melhor para a PT, para seus acionistas e para a indústria. Se a indústria não ganhar, não adianta. Estamos no setor de telecomunicações porque é estratégico. Não estamos lá apenas para colher frutos, portanto damos a nossa opinião não só quando nos perguntam, mas também quando não pedem nada.

EXAME - O banco Santander avaliou que uma oportunidade interessante seria a venda em etapas da Vivo para que a PT encontrasse outra oportunidade de continuar no mercado brasileiro. O que o senhor acha dessa proposta?
Vasconcellos -
Tenho muito respeito pelo banco, mas ele sempre foi um grande acionista da Telefônica. Vender aos poucos não é uma opção. Dá na mesma. A Telefônica criou um problema à PT e aos acionistas. Não podemos esquecer que ela tem dois membros do conselho na Portugal Telecom e tem o dever fiduciário de defender a operadora, mas não fez isso. Deveriam ter procurado uma solução.

EXAME - E qual seria?
Vasconcellos -
Nos ajudar a encontrar uma maneira de continuar no mercado brasileiro.

EXAME - A Vivo foi líder isolada por muito tempo, mas agora está equilibrada com as outras na participação de mercado. Uma das opções seria se aliar a outra operadora, como a Oi, que é a maior empresa de telecomunicações do país?
Vasconcellos -
Não é impossível. Mas falo pela Ongoing, não pelos outros. Vender a Vivo é sempre uma possibilidade. Se você me perguntasse se eu prefiro comprar ou vender a Vivo, eu ficaria com a primeira opção. É uma empresa líder e que nós já conhecemos. Mas isso não quer dizer que eu não possa pegar a Vivo e, de repente, juntar com outras. Haverá um limite de crescimento para a operadora no Brasil. Poderíamos nos internacionalizar. A PT tem mostrado ao mundo que é uma empresa sólida e que está aberta a soluções, mas elas têm de ser boas para todos. A Oi tem 37 milhões de clientes na telefonia móvel e 30 milhões no fixo. É a única operadora que consegue oferecer serviços diversificados. A parte de telefonia fixa da Vivo poderia crescer, mas como a Telefônica tem a Telesp, isso não é possível, porque a Anatel não permite. Nós nomeamos o CEO da Vivo, por exemplo. Ora, eu não sou acionista da Telefônica; tenho que passar valor para os acionistas da Vivo.


EXAME - A Oi não tem investidor internacional, o que pode ser um problema para seu crescimento...
Vasconcellos -
Não sei se é um problema, sobre ela não posso me pronunciar. Seria indelicado da minha parte.

EXAME - A Telefônica ganharia muito poder no mercado, não?
Vasconcellos -
Sim. Se a Telefônica comprar a Vivo, vai continuar na Telecom Itália, por exemplo? É uma questão de justiça. Como o Cade e a Anatel se pronunciariam sobre esse assunto? Penso que, pela lei atual, isso não deve acontecer. Não é um capricho da Ongoing ou de outros acionistas. Há uma diferença entre aquilo que queremos fazer e o que é correto fazer. Faço o que é correto e tento conciliar com o que quero. Há outras empresas importantes no país.

EXAME - O que todos concordam é que sair do Brasil está fora de cogitação.
Vasconcellos -
Claro. Como sair de um país que tem uma ótima taxa de crescimento e onde a Portugal Telecom tem experiência? A PT investiu dinheiro durante muitos anos. Se quero continuar na PT, preciso que ela tenha uma estratégia de crescimento, como tem tido. Isso passa pelo Brasil. Você pode dizer que há oportunidades na China e na Índia, mas não tem nada a ver com a gente. A Índia, por exemplo, tem um mercado de telecomunicações mais difícil de entrar. Há questões de conhecimento do mercado. O Brasil é um mercado nosso também. O mesmo serve para outros mercados como os africanos de língua portuguesa.

EXAME - Tempos atrás, o diretor financeiro da Telefônica, Santiago Valbuena, disse que, caso a PT não aceitasse a proposta de compra de 50% da Brasilcel, a operadora espanhola poderia bloquear indefinidamente os dividendos da empresa que controla a Vivo. Como o senhor reagiu a isso?
Vasconcellos -
Eu não aceito ameaças. O fato de terem dito que iam cortar os dividendos é ilegal. Isso pode fazer com que eles percam direito de voto na Brasilcel. Uma coisa é botar pressão, outra coisa é entrar em termos que não são bonitos. Temos duas empresas com uma dimensão mundial, então as pessoas têm de saber dar o exemplo. A Telefônica está desesperada. Eles acham que nós também estamos. Esse é o problema.

EXAME - Esse tal desespero talvez não seja pelo fato de que quase metade do faturamento da PT ter vindo da Vivo no primeiro trimestre?
Vasconcellos -
Eles devem achar que os acionistas da PT estão muito endividados, que Portugal está numa situação muito delicada. Quase metade dos resultados da PT vem da Vivo, o que se torna mais um motivo para não vendermos agora. Todos nós estamos conscientes que o poder aquisitivo dos brasileiros vai crescer. O Brasil é estratégico. As pessoas vão gastar mais chamadas de celular, vão ver mais TV, vão usar banda larga. Temos que continuar presentes aqui.

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