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Não há mais o que comprarmos hoje no Brasil, diz Totvs

Em entrevista, CEO da companhia conta sobre os planos pós-aquisição da Bematech e fala do desafio de substituir o fundador


	Totvs, em São Paulo: integração com Bematech deve começar até início de novembro, espera empresa
 (Germano Lüders/Site Exame)

Totvs, em São Paulo: integração com Bematech deve começar até início de novembro, espera empresa (Germano Lüders/Site Exame)

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Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2015 às 13h19.

São Paulo – Em tempos de crise, grandes oportunidades podem aparecer para empresas com dinheiro em caixa – e planos de longo prazo. Foi o caso da Totvs, fabricante de software que comprou neste mês a concorrente Bematech.

As duas companhias criam soluções similares, softwares de gestão, mas para públicos distintos. Se uma é boa em atender grandes magazines a outra é especialista em restaurantes.

“Não conseguimos ainda quantificar a sinergia dos negócios, mas ela será grande porque somos complementares em serviços, vendas e até em clientes”, disse Rodrigo Kede, diretor geral da Totvs, em entrevista exclusiva à EXAME.com.

Além do desafio da integração pela frente, Kede tem nas mãos o desafio de substituir, desde junho, o fundador da empresa, Laércio Cosentino, no comando.

Veja, a seguir, os principais trechos da conversa que contou também com a participação de Cléber Morais, atual CEO da Bematech.

EXAME.com - Desde quando a negociação acontecia entre as empresas?

Rodrigo Kede - Nós conversávamos sobre a possiblidade há muito tempo porque as duas empresas dividem os mesmos valores e atuam em segmentos complementares.

Nos últimos meses as conversas se intensificaram e fechamos o negócio, que ainda precisa passar pela assembleia de acionistas, no próximo dia 3, e pelo Cade. Esperamos começar a integração até o início de novembro.

EXAME.com – Como as empresas pretendem criar sinergias? Quais as metas estabelecidas dos dois lados?

Kede - Como não temos ainda as aprovações oficiais, não podemos comentar sobre isso. Depois de recebermos sinal verde é que vamos definir os detalhes de como essa operação vai funcionar. A expectativa é grande. Sabemos que, a partir do primeiro momento, já existem sinergias para ofertas conjuntas, integração de time, portfólio e canal de distribuição.

EXAME.com – Quantos funcionários cada uma das empresas possui hoje e qual a diferença de estrutura de cada uma delas?

Kede - A Totvs tem 7.000 funcionários diretos e cerca de 6.000 de operações franqueadas. Estamos em 10 segmentos de varejo, com 27.000 clientes que faturam 2 milhões de reais por ano, em média.

Cléber Morais – Na Bematech trabalham 1.200 profissionais. Nosso canal de vendas conta com 5.000 parceiros em 5.000 cidades do país e atende 500.000 clientes entre pequenos e médios varejistas, como redes de farmácias e padarias.

Kede – Apesar das duas serem empresas de software, a Totvs é forte em alguns segmentos de varejo, como comercio eletrônico e magazines, enquanto a Bematech é forte em restaurantes e cosméticos.

A base de clientes e tíquete médio também é outra. Há complementariedade em canal de vendas, serviços e perfil de clientes. Juntas, poderemos coletar mais dados de consumidores para entender comportamentos de consumo em algumas regiões ou tipos de varejos.

EXAME.com - Até quando as ações da Bematech devem ser retiradas do mercado?

Kede - Depois de tudo aprovado é que começamos o processo. Uma vez anunciado, acreditamos que os valores de mercado das duas tendem se aproximar, aos poucos.

EXAME.com - Por que fechar um negócio desta magnitude em meio à crise?

Kede – Primeiro, acreditamos no Brasil a longo prazo e sabemos que esse cenário de crise vai passar. Depois, vemos uma oportunidade de um caminho sem volta da digitalização do varejo. Hoje, o setor corresponde a 1% do PIB, mas tem potencial para chegar a 3%.

EXAME.com - Outras aquisições estão previstas pela Totvs para este ano?

Kede - Não comentamos planos de aquisição ou fusão, mas o fato é que sempre fazemos negócios quando achamos que o alvo tem um preço justo e vai agregar em serviços.

EXAME.com – Quais outras oportunidades a companhia enxerga no atual cenário econômico do país?

Kede – Acredito que a consolidação de alguns segmentos deve acontecer nos próximos anos, mas não acreditamos que há ainda nenhum grande player hoje no Brasil para a Totvs comprar. Claro que acompanhamos de perto o mercado e, se houver boas oportunidades, vamos avaliar. 

EXAME.com – Como estão adequando o negócio aos atuais tempos de crise?

Kede – Tem um processo anual de ajuste de preço que não teve alteração, mas estamos mudando nossa postura em relação ao mercado. Queremos, cada vez mais, nos mostrar como uma empresa de soluções de negócios, com conhecimento profundo de tecnologia, especializada em segmentos e com foco em integração de cadeias.

EXAME.com – O negócio foi impactado com a alta do dólar?

Kede – Não porque nossa base de custos e despesas é em Real e a maior parte de nossa receita vem do Brasil. Apenas 10% da Bematech e 4% do faturamento da Totvs vem de fora.

EXAME.com – Como ficará o comando da Bematech durante a integração?

Kede – Em um primeiro momento, o Cléber deve continuar conosco para passar os detalhes da operação e histórico das contas.

EXAME.com - Em julho você saiu do comando da IBM para assumir a Totvs. Comandar uma empresa centenária deve ser bem diferente de estar em uma brasileira, não?

Kede – Sim, muito. Apesar das duas serem de tecnologia, são empresas de perfis bem diferentes. Trabalhei por 21 anos na IBM, já era conselheiro da Totvs, então foi um movimento natural e já conhecia bem a companhia.

Ainda assim, tem uma grande diferença entre trabalhar em uma multinacional e em uma brasileira de capital aberta, que te dá mais liberdade para tomar decisões, mas acaba “te exposto mais ao sol”, porque elas trazem impactos maiores e até imediatos.

EXAME.com – E sobre o desafio de substituir o fundador?

Kede – Isso é realmente um grande desafio. Conheço o Laércio há muito tempo, mas é ele quem sabe mais do negócio e da equipe, leva um tempo até eu conhecer tudo.

A empresa é muito legal e inovadora, fui muito bem recebido. Pelos próximos três anos ficarei no dia-a-dia da operação, com os vice-presidentes se reportando a mim. Cosentino ficará com a definição do modelo de processos e ajudará a passar o histórico de clientes.

A ideia é dar tranquilidade a todos de que a transição será tranquila - e realmente está sendo. 

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