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Não é Disney, é Carreta da Alegria: ela largou o direito e fatura milhões com trenzinhos no Paraná

Aos 26 anos, a advogada Maria Antonia Schimaneski faz parte da terceira geração do negócio familiar; um curso na Disney inspirou mudanças na gestão, no atendimento ao cliente e até em um novo personagem

Maria Antonia Schimaneski, do Carreta da Alegria: o avô dela trouxe a experiência dos trenzinhos ao Paraná

Maria Antonia Schimaneski, do Carreta da Alegria: o avô dela trouxe a experiência dos trenzinhos ao Paraná

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 16 de maio de 2025 às 06h00.

Última atualização em 16 de maio de 2025 às 14h20.

Como brigadeiro, capoeira e festa junina, existe algo intrinsecamente brasileiro no Carreta da Alegria. Tente explicar para alguém de fora: um ônibus de até dois andares que passa pelas ruas com música alta enquanto pessoas vestidas de Capitão América e Mario se encaram em uma batalha de dança. Dentro dele, crianças, adolescentes e adultos vão à loucura em volta do brilho das luzes de LED e dos pirotécnicos. Só podia ter sido inventado por aqui.

Quem nunca viu um pelas ruas, pode conhecer pelos vídeos na Internet — e até confundir com o Carreta Furacão, de Ribeirão Preto. Mas, apesar das semelhanças, a Carreta da Alegria tem a própria história e um crescimento sólido que a tornou um negócio familiar milionário no Paraná. Foram cerca de R$ 5 milhões de reais em faturamento em 2024, vendendo ingressos de R$ 20 a R$ 25 todos os dias da semana.

Da tristeza para a felicidade

O negócio começou por volta de 1980, criado pelo paranaense Antônio Schimaneski. Ele é avô da advogada Maria Antonia Schimaneski, que hoje comanda a operação. Na época, Antônio trabalhava numa funerária em Goiás e estava cansado de trabalhar com a tristeza. "Tinha um ônibus que passava com música lá na cidade, e era a alegria dele. Foi assim que ele decidiu trabalhar com isso", conta a empreendedora.

O avô levou a ideia para o Sul e começou com um trenzinho, ou Trenzinho da Alegria, em Ponta Grossa, no Paraná. Ao longo das décadas, o negócio virou da família: os tios e pais de Maria Antonia passaram a ter os próprios trens e, eventualmente, a primeira carreta em 2017. Apesar de hoje carregar o nome da empresa, o veículo foi um gasto de R$ 500 mil que virou arrependimento na hora.

Maria Antonia Schimaneski quando criança, em cima de um Trenzinho da Alegria

Tal qual Ayrton Senna, o pai de Maria Antonia, Charles Schimaneski, rapidamente percebeu que a estrutura do veículo não era boa suficiente para o trajeto que eles queriam percorrer. Ferro torto, chão irregular e outros defeitos levaram a família a vender a carreta. Todas são feitas por Charles desde então, e o custo para desenvolvê-las fica por volta dos R$ 300 mil.

Apesar de estar sempre envolvida de alguma forma ou de outra nos negócios da família — ela e a irmã ajudavam a escolher músicas pop, por exemplo —, Maria Antonia estava determinada a estudar Direito e não continuar no Carreta. Depois que se formou, passou alguns anos trabalhando num escritório de advocacia e não se sentiu completa. Assim como seu avô mais de quarenta anos antes, Maria percebeu que queria escolher a felicidade ao invés da tristeza.

Então, quando a mãe de Maria Antonia, Renata Schimaneski, a pediu para assumir o negócio familiar em 2024, ela aceitou na hora. "Percebi que poderia ajudar minha família a enfrentar desafios na gestão, principalmente nas áreas de marketing e administração. Aí não hesitei: larguei tudo e mergulhei de cabeça", diz a jovem de 26 anos. Ela sabia que precisaria trazer mudanças com ela, e foi atrás de aprender mais. Fez um curso na Disney com outros 20 empresários em abril de 2024, onde conheceu os bastidores da empresa e aprendeu coisas valiosas sobre como melhorar a experiência do cliente.

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Modelo 'Disney'

As transformações começaram pelo olhar atento ao que o público faz, do momento que chega para comprar o ingresso até a saída da carreta. “Percebi que não bastava só a música alta e os personagens dançando. Precisávamos criar uma conexão real com as pessoas”, diz Maria Antonia. Ela introduziu recepcionistas para dar as boas-vindas e até animadores dentro das carretas para que o show não parasse em nenhum momento.

Além disso, a profissionalização passou pela padronização dos uniformes, atualização dos figurinos e a criação de uma identidade visual que conecta toda a equipe e os veículos. A inovação também chegou ao elenco: em 2025, a Carreta da Alegria lançou a primeira personagem feminina, Mary Happy. Idealizada por um desenhista em Gramado, é o primeiro boneco original da empresa. "Temos Mario, Chaves, Fofão, Homem-Aranha e às vezes Capitão América, mas nenhuma mulher. As meninas amam de qualquer forma, mas não se reconhecem, né?", diz.

Elenco do Carreta da Alegria posa em frente a um dos veículos da empresa

Com uma frota hoje composta por seis carretas e seis trenzinhos, a empresa emprega cerca de cinco pessoas por veículo, que ensaiam coreografias próprias e trabalham até oito horas por dia para manter o padrão de qualidade. A Carreta de Alegria está presente em Foz do Iguaçu, Ponta Grossa e Guaratuba – nessa última, faz parte do calendário oficial da cidade após vencer licitação.

Maria Antonia sonha em levar a Carreta da Alegria para o YouTube, com um desenho animado e um elenco próprio de personagens. Ela também quer levar a experiência das carretas de entretenimento para cidades como Dubai, onde o clima e a vida noturna combinariam com o formato do espetáculo. “Queremos mostrar que a alegria que criamos aqui pode conquistar qualquer lugar do mundo”, afirma a paranaense. “Se a pessoa está triste e vê o Homem-Aranha dando mortal ou o Fofão dançando funk, ela sorri. Esse é o nosso combustível”.

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