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Na NotCo, mais R$ 367 milhões para trazer, enfim, o lucro

Startup chilena anuncia novo aporte de US$ 70 milhões para acelerar estratégia de licenciar tecnologia proprietária para a indústria de alimentos

Cofundadores da NotCo: extensão de série D de US$ 70 milhões (NotCo/Divulgação)

Cofundadores da NotCo: extensão de série D de US$ 70 milhões (NotCo/Divulgação)

A chilena NotCo é uma startup que já alcançou status de unicórnio ao fabricar alimentos à base de plantas como leite, maionese e sorvete vegetal. Agora, os produtos “não-produtos” da empresa parecem ter caído, novamente, no gosto de investidores. A startup anuncia nesta segunda-feira (12) um novo aporte de capital, fechando o ano com mais US$ 70 milhões em caixa — algo como R$ 367 milhões.

O cheque surge como uma extensão da série D, que aconteceu inicialmente em julho de 2021, e que já havia trazido à empresa um investimento de US$ 235 milhões de dólares.

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O novo capital vem para dar nova injeção de ânimo aos planos já anunciados pela empresa ainda na captação do ano passado. O primeiro deles o de reforçar suas verticais B2B, de empresa para empresa.

Na NotCo isso acontece basicamente por meio da política de licenciamento de tecnologia, para que outras companhias do segmento de alimentação (especialmente plant-based) possam adotar a Giuseppe — IA da chilena que se dedica a criar itens com texturas, sabores e aroma iguais aos de origem animal — para criarem seus próprios produtos.

Trata-se de uma unidade de negócios com atuação ainda tímida na empresa, já que foi inaugurada há poucos meses após a bem-sucedida joint-venture com a Kraft Heinz. Em fevereiro, a startup e a fabricante de alimentos uniram forças para lançar a The Kraft Heinz Not Company, empresa que une a inteligência artificial da NotCo e o portfólio de produtos e marcas da Kraft Heinz para trazer novos itens à base de plantas ao mercado.

Agora, com o aporte, a ideia é ampliar o acesso à mesma tecnologia ao maior número de marcas de alimentos e bebidas, fornecedores de ingredientes e provedores de tecnologia. O propósito é que, com a IA da NotCo, essas marcas possam acelerar seus processos de pesquisa e desenvolvimento, reduzindo os cronogramas e colocando novos produtos na rua num processo que acontece “em questão de meses ao invés de anos”.

A estratégia de venda de produtos, contudo, permanece intocada. Hoje, o portfólio da NotCo é composto pelo NotMilk, NotBurger, NotMeat, NotIceCream, NotCreme de Leite e NotChicken, vendidos em mais de 2.000 pontos de venda no Brasil, além do e-commerce próprio, Rappi e marketplaces como Mercado Livre, Amazon e Justo.

Quem são os investidores

Liderada pela Princeville Capital, a atual extensão da Série D inclui investidores já de longa data e com certo histórico de aportes na NotCo, como Tiger Global, DFJ Growth, L Catterton, Kaszek Ventures, Future Positive e The Craftory. O fundador da Amazon, Jeff Bezos, também participa novamente de uma rodada envolvendo a chilena através da Bezos Expeditions, que já investiu na NotCo no passado.

Em entrevista à EXAME, o fundador e presidente da NotCo, Matías Muchnick, afirma que o crescimento desmedido da empresa justifica o aporte aos 45 do segundo tempo em 2022. Segundo Muchnick, o interesse partiu de fundos já familiarizados com a startup e que viram a permanência “no barco” como oportunidade de também se beneficiar de uma receita que cresce, em média, 20 vezes ao ano.

Além da Princeville Capital, a rodada também contou com Marcos Galperin, fundador e CEO do Mercado Livre.

Os planos da NotCo

A série D, em 2021, serviu para estabelecer algumas grandes metas na companhia e, de lá para cá, alguns objetivos foram colocados em prática. A adoção de outros tipos de carne no portfólio é um deles. A NotCo passou a vender também carne de frango, o NotChicken, numa tentativa de estender sua linha de substitutos para além da carne vermelha.

Algumas ações, contudo, foram colocadas em segundo plano. A NotCo adiou os planos de expansão para a Ásia e Europa, bem como o lançamento de novos produtos que substituam a carne branca, como uma alternativa à carne de peixe.

A expectativa agora é que, mesmo capitalizada a empresa coloque o pé no freio. “Não seguimos essa filosofia de queimar caixa a todo custo. Vimos que ter 70 milhões de dólares a mais seria algo vantajoso para nossos planos B2B, e que seriam bem-vindos, mas isso não significa que vamos mirar o crescimento a todo custo”, diz.

Sem novas rodadas no radar, Muchnick afirma que o aporte atual prepara o caminho para uma possível abertura de capital no futuro e, antes disso, coloque as contas no azul. “Essa rodada deve tirar a NotCo do mercado nos próximos cinco anos. Sabemos que o que não queremos, definitivamente, é ir novamente para o mercado privado”, diz. "Queremos fazer da NotCo uma empresa lucrativa em dois anos”.

A expectativa, agora, é que 50% da receita global da NotCo venha do promissor modelo de licenciamento de tecnologia e marcas. No Brasil, pelo menos 10 empresas estão em fase de negociação, segundo o fundador. “Nossa obsessão é que a NotCo lidere essa revolução plant-based na América Latina, e faremos isso com essas parcerias”, diz.

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