Biamar: famílias Biazoli e Marmentini comandam negócio que fatura R$ 120 milhões (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de junho de 2025 às 06h16.
Última atualização em 18 de junho de 2025 às 06h40.
A malharia gaúcha Biamar não é uma atacadista convencional. Em vez de apostar na produção massificada de peças baratas, a empresa familiar investe em malhas de alta qualidade, com design e acabamento.
A sede em Farroupilha, na serra gaúcha, é um reflexo dessa estratégia. Com um investimento de R$ 100 milhões, a unidade conta com uma loja de 5.000 metros quadrados, com o padrão de uma loja de shopping — peças organizadas, manequins estilizados e ambiente impecável.
A fábrica com 18.000 metros quadrados é equipada com tecnologia de ponta. Com chão brilhando e máquinas a todo vapor, a Biamar controla o ritmo de produção de cada máquina por meio de um sistema digital.
O projeto de expansão da sede, realizado nos últimos anos, envolveu a construção de um caminho subterrâneo para ligar duas partes da planta.
Apesar de toda a sofisticação, a empresa ainda adota práticas tradicionais do mercado atacadista. Todos os dias, a empresa recebe vans e ônibus com clientes de cidades e estados vizinhos. As compras começam às seis da manhã, e antes disso, os clientes já se organizam em fila na portaria. Diariamente, o CEO Itacir Marmentini recebe os consumidores pessoalmente, fazendo questão de chegar logo cedo com eles.
Após as compras, vans levam os clientes para outros pontos da cidade, inclusive para visitar concorrentes. Com 70 mil habitantes, Farroupilha é um importante polo têxtil na serra gaúcha. Com 71 marcas locais e 400 pontos de venda, o segmento é responsável pela geração de mais de 3 mil empregos diretos.
Com esse olhar diferenciado para o atacado, a Biamar faturou R$ 120 milhões no último ano e projeta alcançar R$ 135 milhões até 2025."O cliente precisa entender que a cidade é um polo atrativo. Ele encontra tudo o que precisa por aqui", diz Itacir Marmentini, CEO da Biamar.
"Crescemos com o princípio de fazer tudo bem feito, pensado e desenvolvido para atender e fidelizar nosso consumidor", diz o CEO.
Fundada em 1986 por Itacir Marmentini e Devilda Marmentini Biazoli, a Biamar iniciou sua trajetória com a produção de peças infantis na serra gaúcha. O nome da empresa é fruto da união das famílias Biazoli e Marmentini. Foi a transição para a malharia retilínea, tecnologia que utiliza máquinas para produzir malhas com a precisão do trabalho artesanal, que permitiu à Biamar se destacar no mercado têxtil.
Com 38 anos de história, a Biamar permanece uma empresa familiar, agora com a segunda geração assumindo papéis estratégicos. Suélen Biazoli, filha de Devilda, lidera o marketing e a comunicação da marca, enquanto seu irmão, Luciano Biazoli, comanda a produção. A irmã Silvia Biazoli fica à frente da área administrativa. Além deles, Sônia Marmentini e Segundo Biazoli, casados com os fundadores, continuam ativos no negócio, ocupando posições-chave nas áreas comercial e como sócio-diretor.
Atualmente, a empresa conta com mais de 450 funcionários e 400 máquinas para a produção de peças, com capacidade para 700 mil unidades por ano."Não digo que sempre tivemos um público premium, mas sim um produto desejo que, aos poucos, foi se valorizando", afirma Suélen Biazoli.
A empresa familiar nunca perdeu seu olhar atento a comunidade local. Durante a tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul no ano passado, a empresa adaptou parte de sua linha de produção para confeccionar cobertores às vítimas das enchentes no estado. Foram doados 1.000 cobertores por semana.
O setor têxtil brasileiro enfrenta desafios estruturais significativos, como a concorrência com o mercado internacional, a escassez de mão de obra qualificada e os altos custos de produção. Em meio a esse cenário, a Biamar se destacou por apostar cedo em inovação. A empresa sempre manteve um olhar atento para a tecnologia, incorporando soluções modernas que impactam diretamente sua linha de produção, garantindo competitividade e o crescimento sustentável.
A malharia retilínea, utilizada pela Biamar, permite que as peças saiam da máquina praticamente prontas, com a costura finalizada por funcionários. Esse processo não só aumenta a precisão, como também reduz o desperdício de material.
Além disso, a empresa conta com um sistema de rastreamento das peças, acompanhando toda a cadeia de produção, desde a confecção até a entrega final. Isso permite que a empresa saiba exatamente quem produziu cada peça e para quem ela foi vendida, garantindo um controle de qualidade rigoroso.
A Biamar também adota uma estratégia flexível de vendas para atrair ainda mais lojistas. Não há quantidade mínima para compras, e os lojistas podem adquirir produtos no início do ano, começando a pagar apenas quando o volume de vendas aumentar, no outono. Esse modelo permite que a Biamar apoie a compra dos lojistas, criando uma relação de confiança e fidelidade. A companhia conta com 10.000 clientes ativos e o ticket médio gira em torno de R$ 30.000.
A cada ano, a empresa lança cerca de 12 coleções, sendo duas principais e as demais em formato cápsula, mais limitadas e com foco em tendências específicas.
Embora o foco da companhia seja o atacado, a empresa já estuda a possibilidade de abrir uma loja própria em São Paulo, oferecendo produto de forma direta ao consumidor final. Hoje, já é possível comprar peças pelo e-commerce da marca.
Conhecida pelo planejamento estratégico e pela cautela na expansão, a Biamar avalia cuidadosamente as possibilidades, garantindo que cada movimento esteja alinhado aos seus princípios de qualidade e exclusividade. Se a loja acontecer, será um reflexo da filosofia da marca, que busca oferecer produtos únicos com atenção a cada detalhe.