Negócios

Na crise (mas não só), valor do investimento vai além do financeiro

Diretora da VOX Capital, fundo que aporta em startups de impacto, fala sobre importância da relação entre investidores e fundadores além dos cheques

Startups: venture capital deve ir além do investimento financeiro, diz diretora da VOX Capital (Malte Mueller/Getty Images)

Startups: venture capital deve ir além do investimento financeiro, diz diretora da VOX Capital (Malte Mueller/Getty Images)

Depois de um recorde de injeção de capital, seguido de um choque de baixa liquidez com aumento das taxas de juros em consequência da inflação, a indústria de investimento em Venture Capital está reajustando seu apetite ao risco e se voltando às análises fundamentalistas e de capacidade de entrega das startups.

Nesse contexto, com investidores mais seletivos, as empresas e todo o ecossistema evoluem. Os planos e projeções serão ajustados para cenários mais realistas e menos fantásticos, e a relação entre gestora e startup tende a avançar para uma parceria muito além do aporte financeiro.

Assine a EMPREENDA e receba, gratuitamente, uma série de conteúdos que vão te ajudar a impulsionar o seu negócio.

Em 2022, no que tem sido chamado de “inverno” das startups, a figura da gestora de Venture Capital como conselheira e apoiadora das empresas ficou ainda mais importante. Afinal, a evolução de um negócio é fruto de seu gradual amadurecimento e relevância na sociedade, e tais elementos não se dão somente pelo acesso ao capital.

Mais do que nunca, as startups precisam ter ao lado investidores-gestores experientes, capazes de apoiá-los nas tomadas de decisões estratégicas que garantam a sustentabilidade dos negócios.

A geração de valor para as investidas deve seguir dois princípios:

O primeiro é que as empresas são feitas por pessoas e, naturalmente, quando elas amadurecem sua forma de pensar, decidir e agir, os negócios também evoluem – em maturidade e performance.

  • Empreendedores responsáveis merecem ser acompanhados por investidores também responsáveis e comprometidos com o sucesso do negócio no longo prazo. Em vez de fazerem uma pressão demasiada associada ao crescimento acelerado a qualquer custo, os investidores devem estimular a evolução dos empreendedores e ajudá-los a antecipar e se preparar para diferentes cenários, de crise e de bonança, visando o crescimento consistente.

Ou seja, para fomentar a consolidação das investidas, é preciso apoiar startups com recomendações relacionadas a estratégia, negócios e governança. O objetivo é propiciar decisões mais assertivas e que considerem riscos e oportunidades de crescimento por meio da geração de receita e valor junto ao cliente.

  • O segundo aspecto considera que os negócios mais promissores são os que efetivamente se posicionam como agentes transformadores a partir da sua concepção.

Embora essa seja uma ambição cada vez mais comum, vide o aumento de negócios tidos como de impacto socioambiental, a forma de concretizá-la segue sendo um desafio substancial para boa parte das startups. O propósito para que o negócio foi criado e o impacto que se deseja alcançar deve ser a linha mestra e estar sempre no centro das decisões, independentemente das adversidades.

Nesse contexto, as gestoras mais atentas à geração de valor no longo prazo precisam contribuir para que as empresas efetivamente solucionem problemas reais.

É somente desta forma que os negócios poderão gerar cada vez mais impacto socioambiental positivo, entregando e capturando mais valor junto à sociedade. E isso não significa se dissociar do mercado: ao lidar com problemas reais, as empresas que atuam com impacto estão menos suscetíveis às oscilações dos ciclos econômicos.

Em suma, a gestão dos negócios e o suporte dos investidores devem seguir um modelo de duplo-propósito, em que as metas socioambientais retroalimentam os objetivos do negócio, portanto estão diretamente ligados à performance financeira da investida.

O que esperar dos investidores?

Primeiro, o investidor deve analisar a intencionalidade do impacto que a empresa pretende promover por meio de sua solução e quais são os recursos necessários para que tal transformação positiva ocorra. A partir dessa reflexão, é possível elaborar uma agenda de desenvolvimento do impacto atrelado diretamente ao negócio central da empresa.

Na sequência, é importante implementar uma rotina de governança, com a definição de indicadores-chave financeiros e de impacto, diretamente relacionados. Trata-se aqui de um acompanhamento recorrente, em que seja possível planejar a evolução e traçar novos rumos ou oferecer suporte para que os empreendedores e seus times naveguem em diferentes contextos de mercado e negócios.

Os investidores são ainda ponte importante entre os fundadores e o ecossistema de negócios, facilitando a conexão entre executivos, mentores, fundos de investimento e outros(as) fundadores(as) de diferentes investidas. Aproximam também os negócios a grandes companhias interessadas em inovação por meio do impacto socioambiental, tendência cada vez mais robusta no mercado corporativo.

Por fim, diante do ganho de maturidade da indústria do venture capital, será cada vez mais comum vermos os melhores empreendedores escolhendo a dedo de quem aceitam receber capital e apoio estratégico para os seus negócios. O jogo e a percepção sobre o que é valor para empresas e sociedade evoluíram. É nesta direção que queremos evoluir, ainda mais, junto às nossas investidas.

VEJA TAMBÉM

Startups de RH nadam contra a corrente e 'surfam' com onda de demissões

Klavi, startup que leva o Open Finance às fintechs, capta US$ 15 milhões

Acompanhe tudo sobre:StartupsVenture capital

Mais de Negócios

'E-commerce' ao vivo? Loja física aplica modelo do TikTok e fatura alto nos EUA

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Startups no Brasil: menos glamour e mais trabalho na era da inteligência artificial

Um erro quase levou essa marca de camisetas à falência – mas agora ela deve faturar US$ 250 milhões