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Na BRF, um novo conselho e uma obsessão: voltar ao lucro

Novo conselho da fabricante de alimentos se reuniu pela primeira primeira vez nesta sexta-feira. A primeira batalha é escolher um novo presidente

BRF: atual meta é devolver a empresa à excelência operacional e moldar estratégia para investir em produtos de maior valor agregado (Paulo Whitaker/Reuters)

BRF: atual meta é devolver a empresa à excelência operacional e moldar estratégia para investir em produtos de maior valor agregado (Paulo Whitaker/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 27 de abril de 2018 às 17h42.

Última atualização em 27 de abril de 2018 às 17h43.

Eleito na noite de quinta-feira, o novo conselho de administração da fabricante de alimentos BRF se reuniu pela primeira primeira vez nesta sexta-feira com inúmeros problemas a resolver, mas com um único objetivo de longo prazo: fazer a dona das marcas Sadia e Perdigão voltar a dar lucro.

Os primeiros prejuízos da história da empresa vieram justamente nos últimos dois anos, em meio a um quiproquó entre seus acionistas e a sucessivos erros de gestão. Em 2017, a BRF perdeu mais de 1 bilhão de reais, uma monstruosidade para uma empresa líder absoluta de mercado e dona da marca de maior exportadora de frango do planeta.

A caminhada do novo conselho, iniciada nesta sexta-feira, visa, primeiro, a devolver a empresa à excelência operacional que um dia apresentou e, depois, a moldar sua estratégia para investir em produtos de maior valor agregado, atuando em novos segmentos e em mais países. É, em suma, o que o empresário Abilio Diniz tentou fazer desde que assumiu o conselho de administração, há cinco anos, mas deu tudo errado. Agora, a BRF corre atrás dos cinco anos perdidos.

Substituindo a formação comandada pelo empresário Abílio Diniz, os 10 membros do novo conselho, liderados pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, precisam mostrar que constituem um grupo unido, pacificador das desavenças entre acionistas e executivos que estão no cerne da crise vivida pela companhia. Em outra frente, precisam dar importância à gestão do lado agropecuário do negócio, o qual foi menosprezado no passado recente por gestores que tinham como objetivo transformar a BRF em uma empresa de grandes marcas e guiada pelas demandas do mercado consumidor.

A nova composição do conselho, ao menos no papel, mostra equilíbrio entre os principais acionistas. Parente foi ideia de Abilio Diniz, que tem também indicou Flávia Buarque de Almeida, sua sócia na holding Península. Augusto Marques da Cruz Filho, presidente do conselho de administração da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, o advogado Francisco Petros, e Walter Malieni, um vice-presidente do Banco do Brasil, são da quota dos fundos de pensão Petros (de funcionários da estatal petrolífera) e Previ (de empregados do banco). Luiz Fernando Furlan, neto do fundador da Sadia, é a voz das famílias que começaram o negócio. José Luiz Osório é presidente da gestora de investimentos Jardim Botânico, também acionista da BRF. Dan Ioschpe, presidente do conselho de administração da fabricante de autopeças Iochpe-Maxion, é colega do ex-presidente da Perdigão Nildemar Secches no conselho de administração da fabricante de motores WEG. Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, foi chamado para dar as bases técnicas para as decisões, enquanto Roberto Mendes, diretor financeiro da Localiza, deve ajudar na gestão do dinheiro na BRF.

Entre os investidores próximos da administração da companhia e analistas de mercado, o sentimento é que existe um grande esforço tanto dos grandes acionistas como dos executivos que sobraram para demonstrar harmonia e confiança nas novas estratégias que serão adotadas. A primeira reunião do novo conselho aconteceu nesta sexta-feira de manhã em São Paulo, porém nenhuma informação sobre o seu conteúdo foi divulgada.

“É um trabalho de auto-convencimento de que agora vai dar certo, mas só saberemos de fato quando as medidas de reformulação começarem a ser colocadas em prática”, diz um desses investidores. “Não temos alternativas a não ser confiar. E torcer.”
A reação à confirmação dos nomes escolhidos para o conselho era morna na B3, a bolsa de valores brasileira: a ação da BRF subia 0,1%, para 25,99 reais, na tarde desta sexta-feira, ainda acumulando perdas de 29% neste ano. Desde a primeira notícia do nome de Parente as ações subiram 23%.

As animosidades que vinham se acumulando entre os principais acionistas da empresa viraram uma briga pública em fevereiro, justamente depois da divulgação de que a BRF teve uma perda de 1,1 bilhão de reais em 2017, fazendo com que Petros e Previ exigissem a destituição do conselho. Em 10 de março, quando o conselho se reunia para tratar do pedido, o ex-presidente da companhia, Pedro Faria, ligado à gestora Tarpon Investimentos, importante acionista da BRF, foi preso em meio a novos desenvolvimentos da Operação Carne Fraca. A investigação da polícia federal sobre fraudes sanitárias é, aliás, outro dos grandes desafios que se apresentam ao novo conselho da empresa.

A assembleia de acionistas desta quinta-feira, na cidade catarinense de Itajaí, começou com otimismo de que o conselho já estava escolhido. Mas uma solicitação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que fiscaliza o mercado financeiro, de que os votos fossem dados a cada candidato individualmente, restabelecendo a metodologia definida no dia 14 e alterada na véspera da reunião, causou transtorno e fez com que a eleição demorasse mais de dez horas para ser concluída. Um foco de desconforto foi causado pelo esforço de Luiz Fernando Furlan, neto do fundador da Sadia e conselheiro eleito, para tentar dar uma cadeira no conselho ao consultor Vicente Falconi, ex-integrante do conselho. Entretanto, no final do dia, o esforço de buscar um consenso nos nomes já combinados acabou prevalecendo.

Mantendo a linha conciliatória, o presidente da Petros, Walter Mendes, minimizou hoje o episódio com Furlan.

“Todos sabemos que o Furlan é um acionista interessado no bem da empresa, que sabe a importância de um conselho unido”, disse Mendes em entrevista conjunta com Gueitiro Genso, presidente da Previ, no começo da tarde desta sexta-feira.

O mesmo tom foi usado por ambos ao comentar as afirmações recentes de Abilio Diniz, destituído do seu cargo de presidente do conselho da BRF, de que mudanças na administração de uma companhia de controle pulverizado são normais, mas que desta vez poderiam ter ocorrido de forma mais suave não fosse a agressividade dos fundos.

“Quando pedimos a destituição do conselho, achamos que o melhor a ser feito. Mas agora isso é passado e o que importa é que chegamos a um acordo, escolhendo nomes de consenso”, disse Mendes.

No conselho anterior, havia executivos que entendiam do negócio, mas a opinião deles era sempre tolhida pelo estilo autoritário de Diniz, segundo um acionista. O antigo dono do Grupo Pão de Açúcar chegou ao conselho em 2013, apoiado pela Tarpon, que construiu junto com o empresário a malsucedida estratégia da BRF nos últimos anos. “Nesse período, por conta da influência da Tarpon, prevaleceu uma visão muito financista da empresa. Esperamos que essa ótica mude agora”, diz um investidor.

As expectativas são as melhores possíveis. Infelizmente, para a empresa, também o eram cinco anos atrás, quando Abilio assumiu a companhia. O conselho da BRF terá que vencer uma batalha de cada vez, a começar pela escolha do novo presidente da companhia.

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