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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.
A Brasil Telecom (BrT) surpreendeu o mercado ao anunciar que irá provisionar 622 milhões de reais para compensar eventuais processos trabalhistas, disputas judiciais e riscos de perda de clientes, entre outros. O provisionamento é uma medida contábil de segregação de recursos financeiros para quitar gastos pendentes. Embora a atitude seja interpretada pelos analistas como positiva e corriqueira em situações de troca de comanda de empresas, o montante de dinheiro ficou acima do esperado.
"Mais do que surpreender, o tamanho da provisão assusta", afirma Luciana Leocádio, analista de telecomunicações do Banco Espírito Santo Securities. Como comparação, ela lembra que o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) da companhia, no terceiro trimestre, foi de 745 milhões de reais. Ou seja, as provisões representam mais de 80% da geração trimestral de caixa da operadora.
Como o provisionamento será lançado no balanço de 2005, o impacto contábil será sentido rapidamente. Isso não significa, contudo, que a empresa terá despesas efetivas. Como as provisões são reservas de caixa para disputas ainda em andamento, o dinheiro só será desembolsado se, de fato, a BrT perder as causas em que está envolvida. "No curto prazo, não haverá comprometimentos concretos", diz Luciana.
A maior quantia 198 milhões de reais será reservada para eventuais indenizações em processos trabalhistas e previdenciários. Outros 171 milhões poderão ser gastos com ajustes nos cálculos atuariais da Fundação BrT Prev o fundo de pensão da companhia. Estornos de créditos fiscais, especialmente de ICMS, somam mais 127 milhões. Outro item que mereceu provisões foram os riscos de perda de clientes, com 74 milhões de reais. Já as disputas em torno do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações requereram 52 milhões de reais.
Apesar de assustar pelo volume, a provisão dos recursos foi bem recebida pelos analistas. Segundo Luciana, isso indica uma mudança na relação da BrT com o mercado. "É uma atitude de maior transparência", diz. Além disso, o provisionamento é uma medida comum em momentos de mudança de gestão. Muitas diretorias recém-empossadas optam por limpar o balanço de eventuais esqueletos, a fim de administrarem as empresas sem sobressaltos. "Foi uma medida conservadora, comum a várias mudanças de management", afirma Luciana.