Vale: com as decisões futuras da empresa será possível saber o nível de intervenção do governo (Kiko Ferrite)
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2011 às 11h07.
São Paulo – As primeiras impressões do mercado sobre Murilo Ferreira estão mais para positivas do que para assustadoras. Analistas ouvidos por EXAME.com destacam a história de Ferreira na Vale e afirmam que a recepção é boa, pelo menos por enquanto. Somente com as decisões futuras da empresa em relação a algumas pendegas com o governo – como investimentos em siderurgia e a entrada no setor de energia - será possível saber a força da intervenção do governo na empresa.
Como Ferreira é um profissional com longa passagem pela Vale, a primeira impressão é positiva, segundo Oswaldo Telles, analista da Banif Corretora. “É uma pessoa com formação acadêmica e histórico profissional adequados. Acho que isso evita qualquer crítica, resolve rapidamente um assunto que é muito sensível para a empresa”, diz.
“O mercado vai ficar preocupado, mas só vamos saber a força do braço do governo, conforme os sinais forem dados ao mercado”, diz Pedro Galdi, analista da SLW. No curto prazo, os efeitos poderão ser observados em negociações como o pagamento de royalties da mineração, por exemplo – o governo cobra 4 bilhões de reais e a Vale de Agnelli dizia não reconhecer o valor.
Incerteza futura
No longo prazo, será mais fácil acompanhar possíveis mudanças na companhia. “Mais para a frente, o que vimos de várias declarações é que o governo pediria para a empresa fazer várias coisas que estão fora do negócio principal dela, como entrar em Belo Monte. Tem que esperar para ver como a coisa anda”, afirma Telles. “O papel do governo nessa nova direção ficará mais claro no anúncio do plano de investimentos e dos próximos movimentos da Vale”, diz Marcelo Varejão, analista da Socopa
Galdi relativiza a suposta a amizade entre Ferreira e a presidente Dilma Rousseff como um fator relevante na escolha. “Há muitas pessoas com história lá dentro e amigos no governo que não foram escolhidas”, diz.
Mesmo que a escolha seja bem vista por ora, a retirada de Agnelli leva os analistas a ficarem de olho no papel do governo dentro da empresa. “A Vale era vista como absolutamente privada, buscando maximizar o lucro em todas as áreas e escolhendo bem os projetos. Todo mundo vai ficar atento se ela vai continuar fazendo isso”, diz Telles. “Vamos ter que acompanhar os sinais”, diz Galdi.