Rupert Murdoch: fechamento do tabloide é visto como tentativa de proteger os interesses do grupo, cujas ações caíram nas bolsas de valores e tiveram prejuízos com publicidade (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2011 às 12h22.
São Paulo - O empresário Rupert Murdoch, dono do império de comunicações News Corp., viaja neste sábado dos Estados Unidos ao Reino Unido para tentar estancar a crise gerada pelo escândalo das escutas ilegais de seu jornal dominical News of the World. Em sua última cartada, o empresário decidiu fechar o jornal dominical após a revelação de que entre os alvos dos grampos estava, além de políticos e celebridades, uma menina de 13 anos que desapareceu em 2002 e depois foi encontrada morta. A última edição do tabloide, mais vendido em língua inglesa, circula amanhã.
Segundo o jornal britânico The Guardian, a polícia investiga se um executivo da News International, braço da News Corp que edita o News of the World, apagou milhões de e-mails de um arquivo interno para obstruir o trabalho da Scotland Yard. Acredita-se que esse arquivo revele detalhes do contato diário entre editores com pessoas de fora da redação, incluindo investigadores particulares. Um porta-voz do tabloide negou o ocorrido. "Esta afirmação é lixo", insistiu a fonte, que ressaltou que o periódico está "cooperando ativamente com a polícia" e "não destruiu nenhuma prova".
A News International é presidida pelo filho de Murdoch, James, que veio a público explicar as "medidas contundentes" tomadas sobre o futuro do jornal - no caso, pôr fim a 168 anos de história.
A escalada da crise, as atenções voltam-se para Rupert Murdoch, também dono do Time e Wall Street Journal, entre muitos outros títulos.
Esta semana o australiano se pronunciou pela primeira vez sobre o caso. Ele saiu em defesa de Rebekah Brooks, à frente da News International, e disse que a decisão de fechar o jornal foi coletiva. Rebekah, antiga diretora de News of the World, informou na sexta-feira aos funcionários que deixará de dirigir a investigação interna por conflito de interesses.
O escândalo - O caso das escutas ilegais estourou há cinco anos, quando foi revelado que o News of the World contratou detetives para grampear políticos e celebridades. A crise se agravou no início de junho deste ano, quando a polícia britânica descobriu que personalidades como Kate Middleton e o ex-premiê Tony Blair haviam sido alvos das escutas ilegais do News of the World. O caso ganhou uma dimensão ainda maior nesta semana, com a revelação de que um dos alvos de escuta ilegal foi a menina de 13 anos Milly Dowler. Mensagens de sua caixa postal foram apagadas pelos investigadores pagos pelo tabloide, de modo a liberar espaço para mais recados. Isso induziu polícia e familiares a pensar que a garota ainda estivesse viva.
Prisões - Nesta sexta-feira, o ex-secretário de imprensa do premiê David Cameron, Andy Coulson, foi detido e interrogado por nove horas. Após pagamento de fiança, foi solto, mas terá de se reapresentar à polícia em outubro. Coulson compandou o tabloide entre 2003 e 2007, antes de trabalhar com Cameron. Também foi detido na sexta-feira Clive Goodman, jornalista especializado na cobertura da família real britânica, que já cumpriu pena de quatro meses em 2007 por interceptar caixas de correio de celulares, em colaboração com o detetive Glen Mulcaire. Outros três jornalistas do jornal foram detidos e postos em liberdade condicional enquanto continua a investigação.
Último dia - Jornalistas que trabalham no News of the World relataram que houve protestos neste sábado, último dia de trabalho. “Um dos repórteres trombou com um manifestante lá fora que o xingou. Os telefones tocaram toda a semana com pessoas gritando coisas sujas e abusivas. Mas hoje as pessoas estão ligando para mostrar apoio”, declarou um jornalista ao The Guardian.
Mercado - O fechamento do tabloide, que põe fim a 168 anos de história com a possível demissão de 200 trabalhadores, é vista nos círculos políticos e empresariais como a derradeira tentativa de proteger os interesses do grupo, cujas ações caíram nas bolsas de valores e tiveram prejuízos com publicidade.
O escândalo surge no momento em que o governo decide se autoriza a compra do controle da cadeia BSkyB pela News Corp, por 10 milhões de libras. O grupo de Murdoch já possui 39% da companhia. Frente à crise de credibilidade da rede, vários ministro pressionam para adiar a análise da compra. Até agora Cameron tem resistido a suspendê-la. No entanto, fontes do governo dão como certo o atraso do processo pelo menos até setembro.