Priscilla Diniz, da confeitaria de mesmo nome: a baiana é uma das pioneiras do produto viral (Priscilla Diniz/Divulgação)
Publicado em 24 de julho de 2025 às 18h27.
Última atualização em 24 de julho de 2025 às 18h48.
No mês em que se comemora a “festa julina”, a maçã do amor perdeu lugar para o “morango do amor”.
Coberta com brigadeiro branco e uma casca de açúcar vermelha, o produto tem viralizado nas redes sociais por seu visual atrativo e “instagramável”. E tem se mostrado uma oportunidade lucrativa: em menos de uma semana, já rendeu um bom dinheiro para algumas empreendedoras — dentro e fora do Brasil.
Laís Prates, dona da Piece Confeitaria, anunciou a venda dos morangos na última terça-feira, 22, por R$ 16,90. Antes do fim de semana chegar, o estoque acabou.
"Limitamos a 100 unidades por dia, mas sabemos que dá para vender 3x mais que isso. Estamos aumentando o time para dar conta, provavelmente deve durar um tempo", diz a dona da loja localizada no Tucuruvi, zona norte de São Paulo.
Com essa demanda, Prates está ganhando aproximadamente R$ 1.600 por dia com a venda dos "morangos do amor" desde que começou na última semana.
Uma das pioneiras do doce que viralizou na internet é Priscilla Diniz, dona da confeitaria de mesmo nome, que foi inaugurada em 2012 e hoje soma 8 lojas em Salvador, Bahia.
"Morango do Amor é uma receita muito antiga. Eu tive a ideia em 2023 de fazer e lançar nas vitrines da nossa confeitaria. Até então nunca tinha visto ninguém fazer e vender em lojas", diz a empresária, que afirma que é o produto mais vendido da empresa, por R$ 17,90.
O sucesso foi instantâneo. Desde então, Diniz lançou o 'Ovo de Páscoa do Amor' e o 'Buquê do Amor' (no Dia dos Namorados). "O doce fez sucesso até em pistas de dança de casamentos", diz Diniz.
Neste tempo, a empresária de Salvador lembra que influencers e famosos como Ana Paula Siebert, Giovanna Antonelli e Claudia Leitte, provaram e fizeram um marketing totalmente espontâneo e gratuito.
"Isso ajudou a viralizar pelo Brasil. O público respondeu imediatamente de uma maneira incrível, e até hoje não consigo atender à demanda, tanto nas lojas, no delivery, como nas encomendas. Ele chega e esgota no dia", afirma Diniz, que há 2 anos tem um setor na confeitaria que só faz "morango do amor".
"Estamos com três turnos para tentar atender a demanda. É uma correria maravilhosa!", diz a confeiteira. "Acho super bacana que a minha ideia de lançar um produto 'esquecido' está ajudando muitas outras confeiteiras a ter o trabalho valorizado e reconhecido", afirma.
Por conta da alta demanda da região, Diniz conta que os nove produtores de morango já reajustaram seus valores de venda de 50 a 100% do que ela pagava antes em cada caixa. "Ainda assim não conseguem entregar a quantidade e qualidade do que precisamos para manter nosso padrão. Estamos nos virando em mil. Precisamos aproveitar a onda desse doce fenômeno", diz.
Mesmo com a temperatura por volta dos 30 °C, os americanos também estão em busca dos morangos do amor. A brasileira Celina Bredemann diz que os pedidos não param de chegar na cafeteria, Araras Coffee, localizada na cidade de White Plains, em Nova Iorque, da qual ela é dona.
Celina Bredemann, empresária do Araras Coffe (Araras Coffe/Divulgação)
Desde segunda-feira, 21, Bredemann está vendendo cerca de 270 morangos por dia pelo preço de US$ 7,99 cada (aproximadamente R$ 44 na cotação atual). Isso significa que, em uma semana, a brasileira pode chegar a faturar mais de R$ 50 mil somente com os doces "instagramáveis" — seguindo a média de R$ 11 mil por dia.
“Está uma loucura. Os pedidos não param de chegar. Já vendemos tudo e ainda há uma grande fila de espera”, conta Bredemann, que trabalha nos Estados Unidos em pleno verão de 30 °C. “Apesar da alta demanda, não enfrentamos falta de morangos, já que o verão favorece bastante a produção.”
Até grandes marcas de docerias, como a Sodiê Doces, estão apostando na febre dos morangos. O produto foi oficialmente lançado nesta quarta-feira, 23, e 8 mil unidades já foram vendidas em toda a rede, sendo 10% delivery.
“É uma resposta estratégica a uma demanda do consumidor, sem abdicar da qualidade artesanal que nos acompanha há mais de duas décadas”, afirma Fábio Araujo, diretor-geral da Sodiê Doces.
No entanto, por se tratar de um item feito com morangos frescos, sua disponibilidade pode variar conforme a sazonalidade da fruta e a logística de cada unidade. A franquia recomenda consultar previamente a loja mais próxima.
Criadores de conteúdo estão transformando a tendência em fonte de renda: o confeiteiro e empreendedor Leonardo Flakes, por exemplo, já oferece apostilas de R$ 40 para quem quer aprender a fazer e vender.
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A influenciadora Geicy Galindo também vende um passo a passo de como fazer o morango do amor pelo mesmo valor. Nos vídeos, ela conta que chegou a vender 120 unidades em apenas 20 minutos de delivery. No terceiro dia, vendeu 300 doces em uma hora, e desde então conta com uma equipe de cinco pessoas trabalhando diariamente.
A confeiteira Milena Moreira já acumula vídeos com mais de 1,5 milhão de visualizações e compartilha com frequência as filas gigantescas que se formam na porta do seu negócio. Em um dos relatos, um cliente chegou a oferecer R$ 50 para furar a fila e garantir o doce.
Desde julho, o termo 'morango do amor' tem estado entre mais buscados no Google, com aumento de 100% na procura, segundo dados do Google Trends. Já no TikTok, os termos estão na terceira hashtag mais buscada da semana, com mais de 16 mil postagens no Brasil sobre o tema nos últimos 30 dias — sendo 14 mil delas nos últimos desde segunda-feira, 21.
Abaixo, veja como é o processo para fazer um "morango do amor":
Como as paletas mexicanas, o bubble tea e o pistache, o morango do amor é mais um hype que, em breve, deve perder o seu charme — e os preços salgados devem cair junto.
A paranaense Los Paleteros, dos picolés recheados, chegou a vender R$ 72 milhões em produtos no ano em que o produto viralizou, em 2014. A marca alcançou 102 unidades em dois anos, e o custo para abrir uma franquia era a partir de R$ 230 mil.
As paletas mexicanas não entraram na rotina dos brasileiros e, com a queda do hype, a empresa viu o fechamento de quase todas as franquias. Hoje, existem três unidades em São Paulo e, para sobreviver, a empresa teve que apostar em estar nos freezers de padarias, farmácias e mercadinhos.
A história é um pouco diferente para a marca argentina Franui. Em 2023, viralizou com seu doce de framboesa congelada coberta com chocolate. Foram mais de 100 milhões de visualizações sob a hashtag no TikTok.
Na época, o CEO Aldo Fenoglio afirmou que 1,8 mil toneladas eram produzidas por ano (ou seja, cerca de 12 milhões de potes de 150 gramas). O sucesso da marca continuou graças à presença em 40 países, mas novos concorrentes surgem no Brasil e afora, como as brasileiras Fruit-Titüs e Berry Bites.
Sem marca por trás, o morango do amor será sempre uma opção nos cardápios de confeiteiros pelo Brasil. O produto já está sendo adaptado para o maracujá, a bergamota e até o milho, além de versões em buquês e bolos. Assim como o pistache, cujo sabor é inserido em doces variados, a cobertura de açúcar vermelha vem para adocicar mais o setor.