Monsanto: o sistema consiste em uma série de sensores instalados nas máquinas agrícolas, que conectam-se a tablets e computadores, coletando dados (Natalie Behring/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 7 de dezembro de 2016 às 18h34.
São Paulo - A gigante do setor de biotecnologia Monsanto planeja lançar no Brasil dentro de 12 a 18 meses, em escala comercial, serviços digitais para a agricultura, abrindo uma nova frente para a empresa mais conhecida pelo desenvolvimento de sementes transgênicas.
Os pacotes de serviços de análise de dados de plantio e colheita, inicialmente focados em fazendas de soja e milho, deverão estar disponíveis para a safra 2017/18 ou 2018/19.
Na atual temporada 2016/17, o sistema está sendo testado por 100 agricultores convidados pela empresa em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia.
O sistema consiste em uma série de sensores instalados nas máquinas agrícolas, que conectam-se a tablets e computadores, coletando dados de desempenho que posteriormente são enviados pela Internet aos servidores da Monsanto, onde são cruzados e analisados.
A ideia é que o produtor rural tenha relatórios com mapas e coordenadas geográficas de sua propriedade que mostrem a performance das máquinas e o potencial produtivo de cada área da fazenda, permitindo avaliar maneiras de aumentar a produtividade.
"O potencial de aumento de produtividade é muito grande", disse o líder da Monsanto na América do Sul, Rodrigo Santos, em encontro com jornalistas nesta quarta-feira, ressaltando que os resultados da plataforma variam de acordo com as condições de cada fazenda e que muitos dados sobre seu uso no Brasil ainda estão sendo coletados.
Os valores que serão cobrados dos usuários do sistema também não foram definidos ainda.
A iniciativa da Monsanto não é inédita no mercado e busca garantir espaço em um novo mercado que ainda engatinha, mas promete ser bastante grande e competitivo nos próximos anos.
O projeto da Monsanto está em linha com outras grandes multinacionais, como a fabricante de máquinas agrícolas John Deere e a empresa de químicos e sementes Basf, que também oferecem serviços de coleta e análise de dados para agricultores.
Nos Estados Unidos, a plataforma batizada de Climate FieldView já está sendo oferecida comercialmente e abrange 37 milhões de hectares, em uso por 100 mil agricultores.
Os Estados Unidos plantaram um total 173 milhões de acres, ou 70 milhões de hectares, com soja e milho em 2016.
Apesar do foco no lançamento de produtos digitais para a agricultura, a Monsanto não pretende desacelerar seus investimentos em biotecnologia, setor no qual é líder no mercado brasileiro.
"Nosso investimento em biotecnologia continua muito forte. Inclusive porque a agricultura digital não se sobrepõe, ela maximiza o resultado de outras tecnologias", disse Santos.
A área plantada com soja Intacta RR2 Pro pode crescer até 57 por cento na safra 2016/17 nos quatro países onde a empresa atua na América do Sul, segundo estimativa recente da companhia.
A semente, que combina genes oferecendo tolerância a herbicida eproteção contra lagartas, atingiu 14 milhões de hectares no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai em 2015/16, podendo subir para 18 a 22 milhões de hectares em 2016/17.
Santos disse que uma nova geração de sementes transgênicas de soja está em fase de pesquisa, com lançamento previsto para 2020 ou 2021.
O produto vai agregar a tolerância ao herbicida dicamba --atualmente a tolerância é apenas ao glifosato--, além de repelir uma maior variedade de lagartas.
O executivo da Monsanto disse que a empresa espera um crescimento da safra brasileira de grãos em 2016/17, mas não revelou números. Ele destacou que será a primeira vez em muito tempo que haverá crescimento de plantio de soja e milho na temporada de verão e também avanço na área de milho "safrinha".
"A safrinha (de milho) vai crescer, mas não ao ponto de faltar sementes", projetou Santos.
Ele também evitou fazer comentários detalhados sobre a compra da Monsanto pela Bayer, anunciada em setembro por 66 bilhões de dólares, mas reforçou a expectativa de que o negócio seja aprovado por órgãos reguladores ao redor do mundo, inclusive no Brasil, até dezembro de 2017.
"Existe complementariedade muito grande (entre os negócios das duas empresas). A sobreposição é muito limitada. Estamos confiantes na aprovação", disse Santos.