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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
A americana Monsanto, uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo, investirá 28 milhões de dólares, em cinco anos, para desenvolver no Brasil uma nova tecnologia para as sementes de soja usadas no país. É a primeira vez que a companhia aplica recursos na criação um produto específico para um mercado fora dos Estados Unidos.
A maior parte do investimento servirá para a abertura de três novas estações de pesquisa no Brasil, em cidades ainda não definidas do Tocantins, Rio Grande do Sul e Paraná. Outra parcela da soma irá para a ampliação das duas unidades de pesquisa de sojicultura já existentes, em Sorriso (MT) e em Morrinhos (GO).
O objetivo principal de criar novas estações é acelerar as fases de desenvolvimento e teste para comercialização de uma semente de soja com duas características inexistentes sem a modificação genética. A primeira é o aumento da tolerância a herbicidas freqüentemente utilizados na lavoura de soja, aqueles à base de glifosato. Esta resistência ao composto químico já é encontrada nas sementes vendidas hoje pela Monsanto, as que contam com o gene Roundup Ready, mas a empresa afirma que uma "segunda geração" dessa tecnologia poderia aumentar a produtividade da planta em até 11%.
A segunda característica é a resistência à lagarta da soja, praga que ataca principalmente na Argentina e no Brasil e, só neste último, provoca gastos de US$300 milhões ao ano com o controle do problema. Por causa desse aspecto, a Monsanto caracteriza a tecnologia a ser desenvolvida como "específica para a região".
Expansão acelerada
Os testes da nova tecnologia começarão ainda em 2007 e já foram aprovados pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), órgão de assessoria ao governo federal para definição de políticas sobre transgênicos. Eles serão feitos inicialmente nas estações de pesquisa mais antigas, mas conforme fiquem prontas as novas unidades, as experiências devem se expandir para essas regiões.
Embora a empresa não divulgue um prazo para o início das vendas das novas sementes, a estimativa é que o projeto leve quatro a cinco anos para alcançar a fase de comercialização.
Segundo o presidente da Monsanto, Alfonso Alba, a decisão de investimento no Brasil foi tomada por causa da relativa liberalização dos transgênicos no país.
"A CTNBio voltou a funcionar, esse ano, e a gente sente que o processo regulatório e a proteção aos direitos intelectuais estão avançando mais", afirma.
Em maio de 2007, o governo federal aprovou a liberação da primeira variedade de milho transgênico no Brasil, a variedade LibertLink, da alemã Bayer.
O plantio de soja transgênica, que começou irregularmente no país, mas foi liberado a partir de 2005, também avança: deve ocupar, na safra 2007/2008, 60% da área total de soja no Brasil, ante 51% na safra anterior, de acordo com a Monsanto.
Alfinetada no Greenpeace
O presidente da Monsanto no Brasil aproveitou o anúncio de investimento para criticar a postura do grupo ambientalista Greenpeace, um dos principais opositores à expansão dos transgênicos.
"Eles deveriam ir aos nossos campos para aplaudir a gente. Não entendo por que são contra. Se eles vissem o quanto os transgênicos podem ser benéficos ao meio ambiente, eles iriam querer ser nossos sócios", alfinetou.
Para o Greenpeace e outras ONGs ecológicas, alimentos geneticamente modificados podem representar um risco ao meio ambiente e ao organismo humano, por causa da impossibilidade de se conhecer seus efeitos a longo prazo, com os estudos feitos até o momento.