Alex Lin, Rodrigo Balotin, Rogério Arcanjo, da Bubble Mix: "nós queremos chegar a 300, 400 lojas no Brasil" (Matheus Borrasca/Bubble Mix/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 24 de fevereiro de 2024 às 08h03.
A cultura de chás de Taiwan carrega alguns séculos de história, mas é nos últimos 40 anos que uma inovação começou a aparecer e ser exportada aos quatro cantos do mundo. O bubble tea, uma base de chá gelado e pérolas de tapioca caramelizadas, transpôs fronteiras, gera milhões em negócios e recebeu até homenagem do Google no ano passado.
Assim como em outros países, os imigrantes foram os responsáveis por trazer essa cultura para o Brasil. Filho de taiwaneses, o paranaense Alex Lin cresceu degustando a bebida, feita ainda de forma muito artesanal e caseira, em uma colônia asiática que frequentava no Paraguai.
Anos mais tarde, quando cruzava diariamente a fronteira entre a sua residência em Foz do Iguaçu e a Ciudad Del Este, no Paraguai, seu local de trabalho, “redescobriu” a bebida - e um potencial negócio.
Com o amigo de infância Rodrigo Balotin, com quem sempre nutriu o sonho de empreender, fincou as bases da Bubble Mix, uma empresa que faturou R$ 29,4 milhões em 2023 e conta com 86 franquias distribuídas por 18 estados do país.
Aos dois, se uniu um outro amigo, Rogério Arcanjo, o “degustador inicial” dos produtos, ainda na fase de teste, que se tornou o terceiro sócio, trazendo o conhecimento em gestão de projetos.
A Bubble Tea abriu a primeira loja há 10 anos, em 2014, após dois anos de estudo. Os sócios acumularam milhas em viagens a Taiwan para entender o mercado, encontrar fornecedores e pensar nas dinâmicas que queriam estabelecer para o produto no Brasil.
“O nosso desejo era por encontrar uma forma de manter a tradição, trazer essa história, e adaptá-la para o mercado brasileiro”, afirma Lin. A estratégia foi fazer bebidas mais suaves, refrescantes, cítricas e muito geladas.
Na Ásia, com uma cultura milenar de chás, o bubble tea carrega um sabor mais acentuado e marcante, em misturas com açúcar, leite e acompanhamentos.
“Aqui, mesmo sem inverno ou não, o pessoal só quer tomar a bebida gelada, não existe conceito de frio. E lá eles consomem frio”, diz o sócio. Foi neste processo de adaptação que também entraram produtos à base de mate e hibisco, não tão comuns em outras regiões.
As novas misturas procuram ampliar o mercado potencial do negócio, desde o início pensado para sair do pequeno quiosque inaugural de 10 metros quadrados e avançar por outras regiões. “Desde o começo, nós falamos que queríamos criar um modelo que fosse escalável para todo o Brasil”, afirma Balotin.
Os primeiros dois anos, porém, foram de muita “ralação”. Enquanto o negócio ganhava maturidade, os três acumulavam jornadas duplas de trabalho. “A gente meteu uma dose de dedicação que eu considero que deve ser um pouco acima da média”, diz Arcanjo.
À época, ele trabalhava no Parque Tecnológico Itaipu, Balotin tinha uma trading com uma cadeia de fornecedores na China e Lin continuava entre Brasil e Paraguai, ajudando em um negócio de comércio exterior da família.
O modelo de franquia nasceu após o negócio ter dois anos de vida da Bubble Mix. Começou pequeno e perto de casa, num formato conhecido como espiral. De lá, cresceu. O inusitado na história é a participação no Programa Shark Tank, em 2017.
Eles receberam a proposta de um investimento de R$ 300.000 por 25% do negócio do tubarão João Apolinário. Declinaram: “as cláusulas eram muito leoninas”, afirma Ballotin.Segundo eles, a oferta era, basicamente, um contrato de empréstimo, em que o acionista poderia comprar participação ou exigir o dinheiro de volta corrigido; vender as cotas para quem quisesse; e, por outro lado, eles não poderiam fazer nenhum movimento de venda. ”Elas amarravam muito e o risco de perder o controle era muito grande”, diz.
Apesar do acordo não ter andado, a participação rendeu frutos e interessados no negócio. Cada vez que o programa é reprisado, chovem candidatos a franqueados. Por isso, mas não só, óbvio, a empresa tem avançado nos últimos anos.
Um impulso recente foi durante a pandemia de covid-19. Com um modelo baseado em lojas em shoppings, a Bubble enfrentou dificuldades para crescer em razão dos preços dos aluguéis. Quando muitas lojas fecharam no período mais crítico da crise sanitária e os valores dos espaços foram reduzidos, muitos franqueados chegaram à rede.
“Teve também a questão da economia ali, em que as taxas de juros começaram a diminuir, e as pessoas viram que deixar o dinheiro parado no banco não era muito interessante. Isso fez as pessoas buscarem empreendimentos”, afirma Arcanjo. Entre 2020 e 2021, a empresa tinha em torno de 28 lojas, cerca de um terço dos números atuais.
A meta agora é superar a barreira das 100 unidades e encerrar 2024 com faturamento de R$ 40 milhões. No formato, os franqueados investem R$ 190.000, sendo R$ 50.000 o valor da taxa de franquia. Pelos números da Bubble, o retorno acontece no prazo médio entre 18 e 24 meses.
A empresa está ensaiando um novo modelo, de rua, e vai inaugurar uma loja conceito nos próximos meses em Curitiba, capital do Paraná. Quer ser “destino, não só passagem”, como acontece nos shopping centers. Para atrair os consumidores, os sócios irão agregar novas experiências.
"Nesse novo modelo, vamos trabalhar com Bubble tea, obviamente, mas também com cafeteria, confeitaria e produtos asiáticos importados de países, como Coreia do Sul, China e Japão, e ainda souvenirs e chás a granel ”, afirma Lin. “Essa é a maneira que vemos para chegar ao número de 300, 400 unidades pelo Brasil”.
A estratégia dialoga com um novo boom da cultura asiática pelo mundo e no Brasil, notado pela expansão de coteúdos e entretenimento, principalmente oriundos da Coreia do Sul, como o K-Pop e as séries de dorama.
Em outra frente, o trio se prepara para levar a marca para os Estados Unidos, um país que movimentou mais de 360 milhões de dólares em consumo de bubble tea, segundo estimativas da Fortune Markets Insights. Para 2033, a previsão é de que o setor gire 1,2 bilhão de dólares por lá.
A primeira loja deve ser aberta até o fim deste ano na Flórida e consumir investimentos da ordem de US$ 500.000. “Nós percebemos que existe muito espaço para nossa marca competir lá e para desenvolver os nossos produtos”, diz Balotin.
Assim como no mercado brasileiro, a aposta é em furar a bolha da comunidade asiática e encontrar as oportunidades para falar com todos os públicos. A empresa entra com loja própria e, a depender dos movimentos, evoluirá para as franquias.