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Presidente da Petrobras manda recado a Bolsonaro em entrevista

Executivo, que será substituído após intervenção de Bolsonaro na estatal, diz a analistas de mercado que 'combustíveis devem ter preço de mercado'

Castello Branco: a frase "Mind the gap" vem sendo repetida por Castello Branco em apresentações ao longo dos últimos dois anos (Petrobras/Reprodução)

Castello Branco: a frase "Mind the gap" vem sendo repetida por Castello Branco em apresentações ao longo dos últimos dois anos (Petrobras/Reprodução)

AO

Agência O Globo

Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 16h00.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 08h05.

Em sua primeira aparição pública após o anúncio de que será destituído do cargo, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, se apresentou em uma videoconferência com analistas do mercado usando uma camisa com os dizeres "Mind the gap". E mandou seu recado: disse que a Petrobras de hoje é melhor do que a de um ano atrás e que os preços dos combustíveis estão abaixo da média global.

Castello Branco, que está em home office, usou como pano de fundo na videoconferência uma foto do edifício sede da Petrobras, na Avenida Chile. A "call" com analistas na manhã desta quinta-feira era para comentar o lucro recode da empresa, divulgado na véspera. E os dizeres na camisa traziam uma mensagem subliminar.

A expressão "mind the gap" em inglês, usada nos avisos sonoros do metrô de Londres para alertar os passageiros sobre o vão entre o trem e a plataforma, pode ser traduzida também para "atenção à defasagem". Em inglês, "gap" é o termo usado para se referir à distância entre dois preços.

E foi justamente a polêmica sobre a defasagem entre os preços dos combustíveis aqui e no exterior um dos principais motivos para a demissão de Castello Branco.

Pressionado pelos caminhoneiros, o presidente Jair Bolsonaro se queixava de os preços do diesel e da gasolina terem subido muito no Brasil este ano — o último reajuste foi na sexta-feira passada, mesmo dia em que o presidente da República anunciou a destituição de Castello Branco.

A frase "Mind the gap" vem sendo repetida por Castello Branco em apresentações ao longo dos últimos dois anos. Na quarta-feira, a estatal apresentou lucro líquido recorde de R$ 59,9 bilhões no quatro trimestre de 2020, com uma política de preços que segue a paridade internacional.

Castello Branco explicou o porquê de usar a camisa em sua última conferência com analistas:

"Desde que assumi em janeiro de 2019 comecei a implantar uma estratégia que foi seguida à risca. Nossa visão estratégica é baseada no lema 'Mind the gap', que está escrito na minha camisa. Pedimos emprestado ao undergound (metrô) de Londres o Mind the gap porque em vez de ter uma visão interna, ou seja, de nos compararmos com nós mesmos, queremos nos comparar com os melhores e ser o melhor ou pelo menos uma das melhores empresas petróleo do mundo", justificou.

Endividamento ainda alto

Para Castello Branco, é surpreendente que, em pleno século XXI, o país esteja discutindo os preços dos combustíveis. Segundo ele, o petróleo é uma commodity como outros produtos, que são cotados em dólar e seguem a lei de oferta e demanda global.

"Fugir da regra da paridade de preço de importação, a Petrobras já provou que foi desastrasosa. A Petrobras perdeu US$ 40 bilhões. E tem outro impacto. Reduzimos a dívida em US$ 36 bilhões em dois anos e a empresa ainda é muito endividada. Devemos US$ 75,5 bilhões. Nossa dívida é majoritariamente em dólares e como você vai conciliar obrigações em dólares com receita em reais? Outro efeito perverso do descolamento da paridade dos preços de importação", dissse ele.

Castello Branco frisou que a média dos preços do Brasil estão abaixo dos preços globais, embora alguns impostos aqui sejam altos, pressionando os valores para cima.

"O preço não é barato nem caro. O preço é o preço de mercado. Se o Brasil quiser ser uma economia de mercado tem que ter preço de mercado. Preços abaixo do mercado geram muitas consequências, algumas previsíveis outras imprevisíveis, mas todas negativas", acrescentou.

Defasagem de preços

André Chiarini, diretor executivo de Comercialização e Logística da Petrobras, disse que a gasolina teve, ao longo de 2020, 19 variações para baixo e outras 19 para cima. No fim do ano, o preço estava 4% menor em relação ao fim de 2019.

No caso do diesel, foram 15 reduções e 13 altas, com o preço 13% abaixo em dezembro em relação ao fim de 2019.

"E, em 2021, fizemos reajustes adicionais em linha com a política adotada ao longo de 2020. Queria reforçar uma mensagem que o consleho de Administração passou, de que vai zelar com grande rigor o cumprimento da politica de preços de paridade internacional", disse Chiarini.

Castello garantiu que até o dia 20 de março a empresa vai manter a paridade de preços dos combustíveis:

"Vamos trabalhar normalmente até o dia 20 de março, sobretudo até no que diz respeito à manutenção da paridade de preços de importação. Não se atende aos melhores interesses da sociedade é subsidiando os preços dos combustiveis. Optamos sim por ter uma visão social baseada em projetos que possuem alta taxa de retorno social seja na educação, meio ambiente e combate ao Covid".

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