(Reprodução/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 6 de janeiro de 2024 às 08h02.
Última atualização em 3 de junho de 2024 às 10h44.
No século 20, com destaque para os anos 1970 e 1980, numa época sem computador para fazer a compra com poucos cliques, ir até uma grande loja de departamentos - as famosas magazines - era quase como um evento especial.
Muitas famílias iam juntas para visitar os corredores e descobrir os produtos dos momentos em gigantes como Mesbla, Mappin, Arapuã e Jumbo Eletro.
Os fenômenos de 40 anos atrás, porém, perderam força com o passar dos anos. Muitas passaram por crises por um desequlíbrio financeiro e de entendimento do setor e fecharam as portas. Outras voltaram, recentemente, com operações online e tentando reviver as marcas.
A EXAME separou cinco grandes lojas que bombaram nas últimas décadas do século passado e te conta o que aconteceu com cada uma delas. Boa volta ao tempo! E boas compras.
Não tem como falar de lojas de departamento dos anos 1980 sem citar a Mesbla, a líder do mercado por décadas. Inaugurada em 1912 no Rio de Janeiro, a rede foi, pelo menos nas primeiras décadas do século passado, a maior varejista do país.
No seu auge, por volta dos anos 1980, chegou a ter 180 pontos de venda e depósitos pelo país, com lojas icônicas e enormes em vários Estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul e, claro, Rio de Janeiro.
Nas unidades, era comum ouvir os funcionários dizerem que por lá, vendiam quase tudo. “Só não vendemos caixão”, brincavam. Tinha eletrodomésticos, roupas, máquinas e roupas de cama. Em 1986, foi eleita a empresa do ano pela EXAME.
No início dos anos 1990, porém, a popularização de varejistas especializadas, que vendiam produtos mais nichados, fez com que o setor de grandes magazines estremecesse. A entrada de shoppings centers pelo país também colaboraram para a crise da empresa. Soma-se isso a uma hiperinflação no final dos anos 1980, que fez com que muitas empresas aumentassem seus estoques de produtos, o que escalou as dívidas.
Em 1995, a Mesbla entrou em concordata, que era o instrumento de recuperação existente à época, hoje atualizado para recuperação judicial. Na época, o processo envolveu 930 milhões de reais em dívidas com o fisco, Estados, União e com quase 2.000 fornecedores. O processo durou dois anos. Em 1997, foi vendida ao empresário Ricardo Mansur, que tentou dar sobrevida à empresa, focando na queda dos preços e focando em classes mais baixas. Mas não deu certo. A empresa faliu em 1999.
Por volta dos anos 2010, foi ensaiada uma retomada da marca via lojas online, mas o projeto não andou adiante. Em 2022, os empresários Marcel Jeronimo e Ricardo Viana investiram em torno de 500 mil reais para reativarem o site da empesa. Hoje, a Mesbla funciona como um marketplace na internet.
Um ano depois da Mesbla nascer no Rio de Janeiro, nascia em São Paulo sua principal concorrente, a Mappin. A marca virou uma referência no varejo brasileiro durante praticamente todo o século 20 e trouxe várias novidades para o mercado brasileiro. Foi dela, por exemplo, as primeiras lojas com vitrines de vidro na fachada.
Assim como a Mesbla, ficou conhecida por suas lojas icônicas. A maior delas foi inaugurada em 1939 na Praça Ramos de Azevedo, na capital paulista.
Nos anos 1940 foi vendida para o empresário Alberto Alves Filho, que transformou a loja. Até então vendendo apenas produtos importados, passou a comercializar também itens nacionais, criar crediários e se popularizar.
Nos anos 1980, chegou ao seu auge, chegando a ultrapassar, inclusive, concorrentes como a Mesbla. Em 1983, foi reconhecida como uma das principais empresas de varejo da década pela EXAME.
Os problemas financeiros, porém, seguiram um ritmo parecido ao da rival. No início dos anos 1990, a empresa comprou a Sears, outra importante rede da época. O crescimento, porém, maior do que esperado, produziu um descontrole contábil interno. Em 1995, alegou um prejuízo de quase 20 milhões de reais.
Em 1996, a empresa foi vendida para o empresário Ricardo Mansur, que viria a comprar, no ano seguinte, também a Mesbla. O executivo trabalhou para transformar o modelo de negócio da empresa em franquia, mas não deu certo. A empresa entrou em falência em 1999.
Em 2010, a Rede Marabraz adquiriu, em leilão público, os direitos para usar a marca Mappin por 5 milhões de reais. A partir daí, lançou um e-commerce, que funciona até hoje.
Outra loja que bombava muito nos anos 1970 e 1980 era a Lojas Arapuã, uma das maiores redes de varejo do país. A empresa chegou a ter mais de 220 lojas espalhadas pelo Brasil, vendendo, majoritariamente, eletrodomésticos.
Em 1996, quando outras varejistas já enfrentavam crises, a Arapuã chegou a bater um faturamento bilionário de 2,2 bilhões de reais, conforme noticiou a EXAME na época. O lucro líquido atingiu 119 milhões de reais.
O negócio, porém, sofria de um dos males que até hoje acometem as grandes empresas de varejo: a alta inadimplência de vendas a prazo. Com isso, as dívidas chegaram a ultrapassar 1 bilhão de reais.
Em 1998, a empresa entrou em concordata, instrumento semelhante ao que é hoje a recuperação judicial. A partir do acordo, tentou reestruturar o negócio, aumentando o portfólio de produtos. Mas não conseguiu voltar a se equilibrar economicamente.
De lá para cá, entrou num imbróglio judicial que se arrastou por 22 anos. Em julho de 2002, a Justiça decidiu em primeira instância decretar a falência da Arapuã. A empresa reverteu a decisão até chegar ao STJ em 2009. Lá, o Superior Tribunal de Justiça decidiu por decretar a falência da empresa. Mas entre a decisão e a promulgação do acórdão, a Arapuã entrou em recuperação judicial. Credores recorreram e o STJ voltou a julgar o caso somente em 2020, quando decretou, novamente, a falência da empresa.
A Ultralar nasceu em 1956 como um braço da Empresa Brasileira de Gás a Domicílio — que depois se chamou Ultragás, uma das principais distribuidoras de gás do país. A ideia inicial da loja era vender fogões a gás e incentivar esse tipo de produto no Brasil, para valorizar, por vez, a venda de botijões.
A operação ganhou escala e passou a vender outros tipos de produto, se tornando uma das principais varejistas do país, listada em Bolsa. O crescimento foi tanto que, em 1974, a empresa abriu seu primeiro hipermercado, o Ultracenter Ultralar, depois vendido ao Carrefour.
Ns anos 1990, por uma reestruturação de negócio, o grupo Ultra passou a vender os negócios que não tinham relação com a operação principal, de venda e distribuição de gás. Com isso, a Ultralar foi vendida ao Grupo Susa Vendex (que juntava o conglomerado nacional Victor Malzoni com o holandês Vendex), que também controlava as lojas Sandiz e a Sears. Depois, também foi vendida ao empresário Paulo dos Santos.
No final dos anos 1990, a empresa passou a enfrentar concorrência de lojas especializadas e não conseguiu se modernizar. Sem espaço no mercado, encerrou suas atividades em 2000 e teve seus então 17 pontos de venda comprados pela Casas Bahia.
Outra varejista de sucesso na década passada era a Eletroradiobraz, que nasceu nos anos 1940 no Brás, em São Paulo. Ela começou consertando rádios e pequenos eletrodomésticos, mas com o passar do tempo, passou a vender novos produtos. Com isso, abriu, no mesmo endereço, uma enorme loja de departamentos de sete andares, no mesmo endereço em que consertava rádios.
Nos anos seguintes, resolveu apostar, também, no ramo de supermercados. Em 1971, abriu seu primeiro hipermercado na bairro da Água Branca, em São Paulo. Cinco anos depois, enfrentando problemas administrativos e financeiros, vendeu as operações para o Grupo Pão de Açúcar.
Com isso, os supermercados da Eletroradiobraz viraram Pão de Açúcar e, os hipermercados, Jumbo Eletro. Alguns anos depois, a companhia resolveu mudar o nome da empresa, e a Jumbo Eletro virou Extra. Em 2021, a empresa resolveu sair do setor de hipermercados, e as 71 lojas do Extra foram vendidas para o Assaí.