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Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2011 às 19h32.
A hoteleira Accor vai unir as forças das bandeiras Mercure e Parthenon para constituir o que será a maior rede de flats e hotéis da categoria midscale (equivalente a quatro estrelas) de toda a América da Sul, de acordo com promessa da companhia francesa. As divisões se fundirão sob o nome Mercure, marca conhecida globalmente, para gerar um negócio de 300 milhões de reais por ano, com 73 empreendimentos espalhados por 34 cidades brasileiras.
Nascida no Brasil há 22 anos, a marca Parthenon cresceu sem cruzar fronteiras de países e agora será eliminada. O braço mais "brasileiro" da Accor acabou sacrificado justamente por causa de sua difusão regional, diz o diretor de operações da rede Orlando de Souza, algo que limita o reconhecimento da rede por turistas vindos do exterior. Souza resume os benefícios da fusão à Accor em dois pontos: o alinhamento internacional com base em marcas globais, como a Mercure, e o fortalecimento da rede como um todo no país. "A fusão é uma resposta à grande competição na hotelaria midscale no mercado. E também é uma vantagem competitiva, com a criação da maior rede de hospedagem nacional - e com uma marca global", diz Souza.
A decisão atingiu a Parthenon, uma cadeia de 59 flats, em trajetória crescente de resultados. Em 2005, os proprietários das unidades viram o valor das locações crescer 10% em relação a 2004. A alta se repetiu no primeiro trimestre de 2006, com um avanço de 15% contra o mesmo período do ano passado. Já a ocupação cresceu 5 pontos percentuais em 2005, para 56%, uma taxa mais alta do que a da Mercure, de 47%, que tem 13 hotéis no país. "Esses resultados positivos [da Parthenon] certamente influenciaram nossa decisão de fusão das marcas", diz Souza.
Remodelação
Para transformar o que era Parthenon em Mercure, será preciso desembolsar aproximadamente 5,5 milhões de reais, nas contas da Accor. Os gastos se concentrarão em ações de comunicação da mudança da marca, adaptação das unidades e treinamento dos colaboradores. A maior parte - 60% - será despendida pelos investidores, donos dos flats, enquanto a rede francesa, responsável pela operação hoteleira, arcará com 40%. Em média, o custo por apartamento a ser despendido pelos proprietários será de 8 a 10 mil reais, estima Souza. Até o fim de 2006, a meta é converter 15 empreendimentos de flat, em um processo que deve ter fim em 2007.
Também estão nos planos dois novos Mercure, um em Angra dos Reis, Rio de Janeiro (o 73ª hotel da futura rede integrada ao Parthenon), e outro em Santos, São Paulo. De acordo com a Accor, está mantida ainda a abertura de dois novos Parthenon, que serão inaugurados, no entanto, sob o nome Mercure, na categoria Appartments.
Impacto para empregados e hóspedes
Assumindo um discurso otimista em que a palavra de ordem é "expandir", a Accor refuta qualquer chance de demissões da equipe de funcionários, que chega a 4 000 pessoas nas duas bandeiras - 2 500 mil na Parthenon e 1 500 mil na Mercure.
A princípio, diz a rede, também não haverá prejuízo para os hóspedes com o aumento de tarifa. Mas um reajuste deve ocorrer no futuro próximo, admite Souza, já que os preços praticados pela Mercure estão em média, em 120 reais, enquanto os da Parthenon giram em torno de 100 reais. "Nossa expectativa é de que, no médio prazo, possa ter reflexo nos preços das tarifas, uma vez que a rede Mercure hoje já tem uma tarifa média 20% maior. Além disso, a própria evolução do mercado poderá, também, impactar no crescimento da tarifa média", diz Souza.
Medida previsível
Ainda que a Accor diga que as operações da Parthenon mostravam números crescentes, o analista da consultoria especializada em hotelaria BSH Alexandre Mota diz que a supressão da marca era esperada por quem acompanha o processo de enfraquecimento do sistema de flats. "Foi um movimento natural", afirma, "só no Brasil existe flat, lá fora é quase inexistente".
O consultor explica que, depois de chegar ao país nos anos 80 e viver uma década de 90 áurea, os flats passam agora por um período em que se tornaram quase "repelentes" a investimento, derrotados pelo sistema do "condotel".
No regime mais comum de gerenciamento de flat, explica Mota, cabe à operadora gerenciar a hotelaria do empreendimento e receber parte da receita com aluguéis, deixando aos donos das unidades o risco da oscilação na freqüência. No "condotel", no entanto, o risco fica com a operadora, que remunera os proprietários por meio de um valor fixo, independentemente da receita do mês.
O retorno mais seguro que o "condotel" oferece, diz o consultor, tornou o modelo muito popular no exterior e ameaça o negócio de flats brasileiro. Por isso, uma marca como a Parthenon estava fadada a desaparecer. "O investidor está começando a ter aversão a tudo o que está ligado a flar", afirma Mota.