Trabalhadores fazem mobilização na Mercedes-Benz. A empresa propôs diminuir 20% da jornada de trabalho e 10% dos salários (Roberto Parizotti/ SMABC)
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2015 às 08h05.
São Paulo - A Mercedes-Benz propôs aos cerca de 10 mil metalúrgicos e pessoal administrativo da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a redução da jornada de trabalho em 20% e dos salários em 10%. A medida, se aceita, vai vigorar por um ano.
A contrapartida da empresa é a garantia dos empregos nesse período. A montadora informou ter cerca de 2 mil trabalhadores excedentes.
Funcionários dos três turnos da fábrica votaram na quinta-feira, 2, de forma secreta (em urnas), se aceitam a proposta.
A votação ocorreria até o final da noite e o resultado será divulgado nesta sexta-feira, 3. Se aceita, será a primeira vez que a fabricante de caminhões e ônibus adotará essa medida.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a proposta inclui ainda a aplicação de apenas metade do reajuste salarial pela inflação (INPC) no próximo ano. Em acordo anterior, os trabalhadores já haviam aceitado abrir mão do aumento real, acima da inflação.
Outra medida prevê a abertura de um programa de demissão voluntária (PDV) para aposentados e trabalhadores com estabilidade. Nas vagas dos que aderirem ao PDV, a Mercedes vai recontratar parte dos 300 trabalhadores demitidos em maio.
"Foi uma negociação muito dura. Consideramos que essa é a proposta de acordo possível para esse cenário de crise", afirmou, em nota, o diretor do sindicato, Moisés Selerges. "O mercado de caminhões registra queda de quase 50% e, na nossa avaliação, só deve melhorar a partir do segundo semestre de 2016."
A empresa não comentou o assunto. Desde o ano passado a Mercedes adota medidas como lay-off (suspensão de contratos de trabalho por cinco meses), férias coletivas, folgas e semana reduzida de trabalho para enfrentar a queda nas vendas.
No primeiro semestre, as vendas totais de caminhões caíram 42% em relação a igual período de 2014, para 37,4 mil unidades, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O segmento de ônibus caiu 25%, para 11,7 mil unidades. As vendas da Mercedes caíram em proporções semelhantes.
Ford
A Ford informou ontem que vai parar toda a produção da fábrica de carros e caminhões em São Bernardo entre os dias 13 e 17, aproveitando a emenda do feriado de 9 de julho. Cerca de 2,4 mil trabalhadores ficarão em casa. Em Taubaté (SP), cerca de 1,4 mil funcionários terão férias coletivas de 13 a 31 de julho na área de motores e de 20 a 31 na de transmissões.
A empresa alega necessidade de "ajustar o ritmo de produção à atual demanda do mercado".
Proteção
O setor automotivo aguarda do governo federal uma medida provisória estabelecendo o Programa de Proteção ao Emprego (PPE).
Ele prevê a redução em até 30% da jornada e igual porcentual para os salários, mas metade será bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Após várias promessas, a medida era aguardada para o fim de junho, mas agora os sindicalistas esperam que seja anunciada nos próximos dias.
Se a MP for publicada, a Mercedes poderá adotar o sistema em substituição ao que propôs ontem. A medida é vista por indústria e sindicatos como forma de segurar empregos.
Somando automóveis e comerciais leves, as vendas totais de veículos na primeira metade do ano atingiram 1,318 milhão de unidades, 20,7% a menos do que em igual período de 2014.
Até maio, 6,3 mil trabalhadores foram demitidos nas montadoras. Ontem, funcionários da Mitsubishi voltaram ao trabalho após acordo com a empresa.
Eles ficaram parados um dia em protesto contra 150 demissões na fábrica de Catalão (GO). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.