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Mercedes prevê queda maior na venda de caminhão

Philipp Schiemer, presidente da empresa no Brasil: "Se 2015 foi um ano de ociosidade nas fábricas, 2016 será um ano de fechamento de empresas e mais desemprego"


	Philipp Schiemer, presidente da empresa no Brasil: "Se 2015 foi um ano de ociosidade nas fábricas, 2016 será um ano de fechamento de empresas e mais desemprego"
 (Thomas Niedermueller/Getty Images)

Philipp Schiemer, presidente da empresa no Brasil: "Se 2015 foi um ano de ociosidade nas fábricas, 2016 será um ano de fechamento de empresas e mais desemprego" (Thomas Niedermueller/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2015 às 12h53.

São Paulo - A queda das vendas de caminhões deve superar a casa dos 50% neste ano, acima do previsto inicialmente. O setor calculava vender 75 mil veículos - ante 137 mil em 2014 -, mas o volume pode atingir no máximo 68 mil unidades, o piro resultado para o setor em 11 anos.

Sem mudanças no cenário econômico e político, 2016 deve ser ainda pior, prevê o presidente da Mercedes-Benz no Brasil, Philipp Schiemer. "Se 2015 foi um ano de ociosidade nas fábricas, 2016 será um ano de fechamento de empresas e mais desemprego", diz.

Em tom de desabafo, o executivo alemão, que em várias passagens já viveu mais de 15 anos no Brasil, criticou na quarta-feira, 2, a falta de liderança do governo em buscar uma alternativa para a crise.

A única saída que ele vê atualmente é um pacto entre governo, partidos políticos, empresários, centrais sindicais, Congresso e Senado para buscar uma solução.

"É preciso criar uma coalizão e preparar um plano para um Brasil melhor no futuro", sugere. "É preciso se preocupar com o país e não com cargos".

Ele diz que é preciso fazer um diagnóstico da situação, reconhecer erros e criar uma ponte para mudanças. "Para isso, é preciso ter uma liderança com credibilidade, honesta e que seja transparente. Hoje sabemos que infelizmente essa liderança não existe."

O executivo considera ser difícil para a presidente Dilma Rousseff assumir esse papel em razão do seu baixo índice de aprovação pela população. "E se ela não conseguir fazer isso, algo tem de ser feito ou 2017 e 2018 também serão piores e o Brasil não vai aguentar", afirma. "Antes visto com esperança, o país hoje é visto com muita descrença e desconfiança por parte dos investidores".

Incompetência

A gota d’água para a revolta do executivo foi a confusão criada pelo governo federal no fim de outubro ao antecipar em um mês - de novembro para outubro - o fim do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, com juros subsidiados à compra de bens de capital.

Dias depois do anúncio, o governo voltou atrás e reabriu o programa, mas com mudanças, como a redução do limite de financiamento para cada banco, impossibilitando a compra por parte de vários clientes que entraram com pedidos.

Além disso, muitos dos financiamentos aprovados ainda não foram liberados. "Foi uma incompetência total do governo. Essa manobra só fez confusão e parou o mercado".

Essa é a principal razão para a queda de 61% nas vendas de caminhões em novembro na comparação com o mesmo mês de 2014, informa Schiemer. Ele acredita que dezembro será ainda pior, por isso a projeção para o ano foi revista.

Nova fábrica

O executivo ressalta que "não pode ficar quieto vendo que o país está entrando num caos". Ele diz que a Mercedes é responsável por mais de 50 mil famílias, levando em conta seus 12 mil empregados, os 20 mil da rede de revendedores e 25 mil dos fornecedores de autopeças. "Têm fornecedores e concessionários que não vão sobreviver."

Ele afirma que a matriz do grupo na Alemanha está preocupada e será mais difícil obter investimentos futuros no país.

O plano atual, de R$ 730 milhões para o período 2015 a 2018 para as fábricas de caminhões e ônibus de São Bernardo do Campo (SP) e Juiz Fora (MG) será mantido.

A nova fábrica de automóveis de luxo que o grupo constrói em Iracemápolis (SP), com investimento de R$ 500 milhões, será inaugurada no primeiro trimestre de 2016, conforme previsto inicialmente.

Jornadas e salários

A Mercedes-Benz estuda medidas para adequar a produção à baixa demanda por caminhões e ônibus no próximo ano e pode propor aos trabalhadores a ampliação do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) ou esticar o período de férias coletivas de fim de ano na sua maior fábrica, no ABC paulista, onde trabalham cerca de 10 mil pessoas.

Inicialmente, as férias começam na sexta-feira e se estendem por um mês. O PPE, em vigor desde setembro, estabelece corte de jornada e salários em 20% (sendo 10% bancado pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT).

Com isso, a fábrica opera apenas quatro dias por semana. Uma possibilidade é ampliar o corte para 30%.

"Essa é a pior crise da história da Mercedes em 60 anos de Brasil", afirma Phillip Schiemer. A produção prevista para este ano, de cerca de 22 mil caminhões, "deve voltar mais de 30 anos atrás".

Ao longo do ano, a montadora colocou trabalhadores em lay-off (suspensão de contratos), deu férias coletivas, licenças e abriu programas de demissão voluntária. Somando todas as paradas, a fábrica de São Bernardo deixou de funcionar por quatro meses. Hoje, opera com metade de sua capacidade produtiva.

De janeiro a novembro, o mercado total de caminhões caiu 46,3%, para 66,2 mil unidades. Em novembro foram vendidas 4.735 unidades, 18,1% menos que no mês anterior e 61% abaixo do volume de um ano atrás.

O segmento de ônibus registra queda total de 36%, para 18,7 mil veículos, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

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