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Mentira foi maior erro de Dilma, diz Klein, da Casas Bahia

Ele admite, no entanto, que a incerteza política atrapalha o País e atravanca o investimento das empresas, especialmente daquelas que precisam de crédito


	Klein, da Casas Bahia: para ele, seria melhor para o País que a presidente Dilma Rousseff saísse do governo
 (Divulgação)

Klein, da Casas Bahia: para ele, seria melhor para o País que a presidente Dilma Rousseff saísse do governo (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2016 às 14h06.

São Paulo - O empresário Michael Klein, filho do fundador da Casas Bahia e atualmente dono de negócios no segmento de aviação, automóveis e imobiliário, diz já ter visto o Brasil em crises econômicas piores. 

Ele admite, no entanto, que a incerteza política atrapalha o País e atravanca o investimento das empresas, especialmente daquelas que precisam de crédito.

Para ele, seria melhor para o País que a presidente Dilma Rousseff saísse do governo.

"Como ela não tem maioria no Congresso, acho melhor ela sair. Sem o apoio de deputados e senadores, nada é aprovado, e isso trava o mercado como um todo", afirmou.

Klein diz que o impeachment não é golpe. "Quando ela assumiu esse cargo, sabia que estaria sujeita a regras e que uma das penalidades poderia ser o impeachment."

O empresário considera que o maior erro de Dilma foi "mentir" durante a campanha para sua reeleição.

"Ela disse que o País estava bem, que o preço da energia estava assegurado e que o combustível não ia subir. E fez exatamente o contrário. Ninguém gosta de ser enganado." A seguir, trechos da entrevista.

Como o sr. vê essa confusão toda na economia e na política?

Desde que minha família veio para o Brasil, há mais de 60 anos, já passamos por diversas crises, troca de moeda, confisco, tablita, greves, anos de PIB negativo. Tivemos muitos altos e baixos.

Eu, assim como outros empresários, estou olhando o longo prazo. Não sou um investidor imediatista, que abre uma empresa para ter lucro no primeiro ano. Por isso, o curto prazo me interessa menos que o longo prazo.

Os economistas têm classificado essa crise como a pior da história do País. O sr. diz que já viu piores?

Não que essa crise seja amena, mas, sim, acho que já passamos por situações piores. Quando a inflação estava em patamares altíssimos, ela corroía o salário das pessoas, que perdiam o poder de compra.

Hoje, a inflação beira os 10% ao ano. Podia ser menor? Claro que podia, mas não está em 70% ao mês. Não vou discutir com economistas que têm uma série de dados sobre a situação econômica.

Mas posso falar do que estou fazendo. Acabei de abrir uma empresa (uma concessionária Mercedes-Benz) e contratei 25 pessoas.

Em dois anos, minha empresa de táxi aéreo comprou 13 aeronaves para fazer fretamento de voos.

Estou investindo para ter um negócio funcionando quando o Brasil voltar a crescer.

O sr. parece bem otimista. Qual sua perspectiva para a economia neste ano?

Imagino que no segundo semestre as coisas já estejam mais claras na economia e na política. Independentemente de a presidente (Dilma Rousseff) sair ou não, já teremos ao menos uma ideia de quem vai ditar as novas regras do jogo e que regras serão essas.

Se ela ficar, terá de fazer alguma coisa. Se ela sair, quem entrar no lugar vai ter de apresentar uma definição.

O sr. prefere que ela saia ou que ela fique?

Como ela não tem maioria no Congresso, acho melhor ela sair. Sem o apoio de deputados e senadores nada é aprovado e isso trava o mercado como um todo.

O vice-presidente Michel Temer tem condições de fazer essa amarração política?

Acho que sim. Pelo que tenho visto, o Temer está tentando costurar o apoio de outros partidos e fazer uma composição para seguir até 2018.

Como o sr. vê as manifestações a favor do impeachment? O sr. participaria delas?

Mesmo no anonimato, eu não iria. Muitas das pessoas que estão nas ruas pedindo a saída da presidente votaram nela em 2014. Ela ganhou nas urnas para ficar quatro anos.

Seria golpe, então?

Não, não é golpe. Quando ela assumiu esse cargo, sabia que estaria sujeita a regras e que uma das penalidades poderia ser o impeachment.

Sou a favor de que a Justiça determine se ela deve continuar ou não. O Supremo Tribunal Federal tem de decidir se ela é culpada ou não por algum ato.

Aí, automaticamente, o Supremo decidindo, é o que deve valer. Isso está acima do Congresso. E por que eu defendo tanto o Supremo?

Porque se não for assim, qualquer congressista pode negociar seu voto a favor ou contra por qualquer troca de cargo. Quem pode tirar um presidente do cargo é o Supremo, que é uma força maior do que o próprio presidente.

Qual foi o maior erro de Dilma?

O maior erro foi a mentira. Tem um ditado antigo de criança que diz que mentira tem perna curta.

Na campanha de reeleição, ela disse que o País estava bem, que o preço da energia estava assegurado, que o combustível não ia subir. E não cumpriu nada do que prometeu.

Ninguém não gosta de ser enganado. Ela deveria ter dito que a inflação iria subir no ano seguinte, porque ela ia ter de fazer um ajuste no preço da energia, do combustível.

Mas, se ela falasse a verdade, certamente não se elegeria. Muita gente votou na Dilma achando que estava tudo bem, que ia continuar trabalhando, colocando álcool ou gasolina no seu carro flex no fim de semana, e não foi o que aconteceu.

Existe uma lição aí, não?

A lição é essa. Entendo que o candidato não quer apresentar um dado catastrófico sobre o que vai acontecer, mas ele precisa dar uma sinalização realista do que é possível acontecer.

Eu não sou político. Não sei se para ser político precisa mentir ou omitir. O Collor também caiu porque mentiu. No discurso, ele disse que não ia ter confisco da poupança.

E o que fez? As pessoas se sentiram usadas e por isso se revoltaram. Com toda razão. É melhor não prometer nada do que prometer e não cumprir.

O que pode acontecer com o País se a Dilma continuar?

Depende se ela vai tomar as medidas necessárias para o País voltar a crescer ou, pelo menos, parar de cair. A nota de crédito do Brasil piorou porque lá fora estão vendo que tem alguma coisa errada. 

Nós temos, sim, que nos preocupar com o que os bancos internacionais falam, com o que o FMI fala. E precisamos agir para mostrar a eles que não estamos tão frágeis a ponto de dar um calote. 

O País não cresce porque fez uma aposta em commodities, em matéria-prima, que não gera tanto emprego. Agora, não consegue aumentar a exportação porque no mundo inteiro o preço das commodities caiu.

Quais são as medidas mais urgentes para colocar o País nos eixos?

O caminho é gerar emprego na indústria e no comércio. É preciso garantir uma estabilidade para que as pessoas tenham confiança para consumir.

Ultrapassar 10 milhões de desempregados é algo muito negativo para o País. Além disso, os sindicatos estão mais preocupados em pedir reajuste do que em manter a estabilidade para os empregados.

Tem gente sobrando na indústria, a produtividade é negativa e os sindicatos querem reajuste.

Como a crise está afetando o varejo?

O varejo sofre com o desemprego. Por enquanto, continuamos vendendo a prazo e oferecendo cartão de crédito para o pessoal.

Em época de dificuldade, o varejo amplia o prazo para aumentar a venda. Se o desemprego crescer até o fim do ano, haverá inadimplência e a situação vai piorar.

Mas já tem muita empresa fechando loja e pedindo recuperação judicial.

Quem dependia de recurso bancário e não estava capitalizado, de fato, teve mais dificuldade, porque os bancos fecharam as linhas de crédito. Quem investiu e não consegue retorno do capital, vai acabar sofrendo mais.

Que medidas fariam o empresário voltar a contratar?

Redução de impostos. A parte fiscal é a que mais pesa no preço do produto. Precisamos de redução de IPI, de ICMS, alguma coisa para que pudesse manter o incentivo ao setor produtivo.

Mas se você reduz imposto de um lado, tem de subir em outro. Bem ou mal, uma coisa que pode ser feita é voltar com a CPMF. Eu entendo que ela é um mal necessário. Não é que eu seja a favor, mas é melhor do que onerar o setor produtivo.

Sob críticas, o governo já tem buscado novas ações de estímulo ao crédito, mas não há demanda para isso.

Não tem demanda porque as pessoas estão com receio de perder o emprego lá na frente. O caminho certo seria fazer algo para as indústrias gerarem emprego e estabilidade.

O economista Marcos Lisboa costuma dizer os empresários brasileiros também têm sua parcela de culpa na crise econômica. O sr. concorda?

Eu posso dizer que sou isento de responsabilidade, porque eu nunca pedi nada para o governo. Eu, particularmente, não sei nem qual é endereço do BNDES.

O empresário que estava acostumado a receber as benesses do governo, a taxas de juro reduzidas, esse é responsável também.

Mas quem não pediu nada, não pode ser responsabilizado pela crise, porque ele não contribuiu para aumentar o déficit da Previdência ou alguma coisa nesse sentido.

Por que o sr. nunca recorreu ao BNDES?

É crédito barato, mas você tem de devolver esse dinheiro. Que seja o juro mais baixo, um dia você vai ter de pagar.

Hoje é um luxo estar nessa posição de não depender e não ter feito negócio com governo?

Eu, minhas empresas e a própria Casas Bahia nunca vendemos um liquidificador para o governo. Há 60 anos recebemos ofícios de prefeituras, com as promoções da Casas Bahia anunciadas no jornal, dizendo que querem comprar algum produto.

Nunca respondemos. Meu pai dizia que construiu a Casas Bahia para vender para a Dona Maria. Uma empresa de varejo que vai trabalhar para o consumidor não pode misturar as coisas e fazer negócios com o governo.

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