Loja da Oi (Pedro Zambarda/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2012 às 20h30.
São Paulo - O aval de acionistas à reorganização da Oi encerrou uma longa tentativa de simplificar sua intrincada estrutura societária, mas não necessariamente representa o fim dos problemas da companhia, que se depara com desafios operacionais.
Contudo, ao liberar a companhia para priorizar os negócios, a aprovação da reestruturação segunda-feira, e o presidente do grupo, Francisco Valim permitirá à empresa ser mais funcional, ter melhor acesso ao mercado de capitais e dar mais confiança a investidores, ajudando assim a maior companhia telefônica em cobertura geográfica do Brasil no concorrido mercado de telecomunicações do país, avaliam analistas.
A reestruturação foi aprovada pelos acionistas das empresas do Grupo Oi em diversas assembleias na , declarou um "marco" na história da operadora.
"Independentemente da reestruturação, os desafios operacionais estão ai e precisam ser resolvidos", disse a analista Jacqueline Lison, da Fator.
Com receita em queda, endividamento alto e investimentos por fazer, a operadora precisa melhorar a qualidade de sua rede, ser mais agressiva comercialmente, retomar participação de mercado e rentabilizar sua grande base de telefonia fixa, de acordo com analistas.
"Mantemos cautela com a história da Oi devido a fundamentos ainda desafiadores que, a nosso ver, levarão ainda algum tempo até melhorar", afirmou o analista Valder Nogueira, do Santander.
A queda na receita da companhia precisa ser "estancada", e é preciso direcionar os esforços para que isso aconteça neste ano, fidelizando e rentabilizando a base de clientes, mesmo que isso signifique mais aperto nas já sofridas margens.
"A Oi vai ter que ver uma piora (nos números) para depois melhorar, porque as margens com investimentos podem sofrer", disse Jacqueline.
Diante desse quadro, a Oi deve buscar ser mais competitiva no segmento móvel, a fim de tentar compensar a queda na receita de telefonia fixa, que tem puxado para baixo os resultados da companhia -a exemplo do que aconteceu com a Telefônica Brasil no quarto trimestre, quando a alta na atividade móvel mais do que compensou a queda na fixa.
"Como o resultado deles (da Oi) ainda vem cerca de 70 por cento da telefonia fixa, e com longa distância caindo ano contra ano, ainda levará um tempo até o resultado da Oi ser menos prejudicado pela queda do fixo", disse um analista que acompanha o setor e preferiu não ser identificado.
A Oi divulgará seus resultados do quarto trimestre no final de março e a expectativa é de números fracos.
Não bastassem os desafios operacionais, a Oi também tem uma dívida alta, alavancada pela compra da Brasil Telecom em 2008, tendo a holding operacional Tele Norte Leste encerrado o terceiro trimestre de 2011 -balanço mais recente- com dívida total de 27,6 bilhões de reais, frente a um caixa de 11,5 bilhões de reais.
"Devido ao grande endividamento a companhia colocou o pé no freio (nos investimentos) e reduziu as despesas comerciais, para primeiro arrumar a casa, e com isso ficou atrasada em relação a seus pares no Brasil", disse a analista da Fator.
A Oi ocupa a quarta posição do mercado de telefonia móvel brasileiro, com 45,6 milhões de linhas ao fim de janeiro, 15 milhões a menos do que a terceira colocada, a Claro.
Em encontro com investidores a ser realizado em abril, a Oi deve divulgar seus planos de investimentos e também uma política de dividendos para os próximos três anos, o que pode respaldar credibilidade para a empresa e seus novos papéis ("OIBR3" e "OIBR4"), mesmo que a remuneração dos acionistas seja modesta por conta da situação operacional.
"O mero fato de você ter uma política de dividendos é algo positivo", afirmou Nogueira, do Santander.
Entre os principais acionistas da Oi estão a Andrade Gutierrez Telecom e L.F. Telecom, associada à Jereissati Telecom. Também faz parte o grupo Portugal Telecom.
Ações
A maioria dos analistas recomenda a manutenção das ações ordinárias e preferenciais da holding operacional Tele Norte Leste.
Para Nogueira, do Santander, os múltiplos da ação preferencial não são atrativos, com a relação entre preço da ação e lucro estimada para 2012 em 30 vezes para a nova entidade a ser criada, com "dividend yield" de 5 por cento.
Jaqueline, da Fator, por sua vez, avalia que "a companhia é negociada a múltiplos muito semelhantes aos de Vivo (Telefônica Brasil) e TIM", embora as duas rivais apresentem riscos menores.
Os dois analistas recomendam manutenção dos papéis da Tele Norte Leste.
As ações preferenciais da Tele Norte Leste, as mais líquidas do Grupo Oi, caíram cerca de 25 por cento no ano passado, contra queda de 18 por cento do Ibovespa.
Em 2012, até o fim de fevereiro, os papéis da empresa acumularam alta de ao redor de 6 por cento, enquanto o índice que reúne as principais ações brasileiras avançou quase 16 por cento.