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Netshoes cresce com marketplace e Zattini, ainda sem lucro

Em entrevista exclusiva, diretor diz que IPO viabiliza crescimento futuro da Netshoes e conta como pretende investir

Netshoes: estreia em Nova York (Germano Lüders/Exame)

Netshoes: estreia em Nova York (Germano Lüders/Exame)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 16 de maio de 2017 às 13h07.

Última atualização em 17 de maio de 2017 às 17h10.

São Paulo – Para a Netshoes, o crescimento vem de negócios novos e mercados pouco explorados. O marketplace, lançado ano passado, é um exemplo. Com 375 vendedores, já representa 5,3% das vendas totais da companhia.

A Zattini, e-commerce de beleza e moda lançado em 2014, também foi uma das divisões dentro da companhia que mais cresceu: as receitas foram 98% superiores no trimestre.

Com a oferta pública inicial de ações, IPO, a empresa brasileira ganha força e capital para expandir os negócios. Os planos também são levar as iniciativas para os outros países onde a companhia atua, México e Argentina.

O aumento de clientes e de vendas irá, eventualmente, levar a empresa ao lucro, afirmou Otávio Lyra, diretor de relações com investidores, em entrevista exclusiva a EXAME.com.

Em sua primeira divulgação de resultados desde o IPO, em abril, a companhia reportou prejuízo de R$ 37,7 milhões no primeiro trimestre de 2017, perda 38% menor do que no mesmo período do ano passado.

Lyra comentou os resultados e falou dos planos de médio e longo prazo da companhia. Confira a entrevista abaixo.

EXAME.com - Quais foram os destaques dos resultados do primeiro trimestre?

Otávio Lyra - Estamos muito contentes com a nossa primeira divulgação depois do IPO. Foi um passo muito importante para a viabilização de planos futuros, a médio e longo prazo, o desenvolvimento das iniciativas no Brasil e o desdobramento nos outros dois países da América Latina (Argentina e México).

Vimos um desempenho sólido no trimestre em praticamente todos os fundamentos e crescimento na métrica de clientes, prova de que o crescimento é sustentável (o número de clientes ativos cresceu 17% em relação ao mesmo trimestre do ano passado).

Além disso, vimos uma evolução na eficiência e na redução de despesas, fruto de trabalho para deixar a empresa mais enxuta em 2017. (As despesas de vendas e marketing atingiram R$ 100,7 milhões, contra R$ 102,3 milhões no mesmo trimestre do ano anterior, melhora de 4 pontos percentuais na margem. Já as despesas gerais e administrativas tiveram melhora de 2,4 pontos na margem.)

EXAME.com - A receita global aumentou 13,9% e chegou a R$ 347,9 milhões e, no Brasil, cresceu 17,2%. Quais os principais motivos para isso?

Otávio Lyra - O aumento do número de clientes é um ponto.

Mas o crescimento da Netshoes como um todo também foi puxado pela Zattini. É uma iniciativa mais recente (foi criada em dezembro de 2014) e é uma loja menos madura.

O faturamento praticamente dobrou no trimestre, cresceu 98,2%. Ainda representa cerca de 12% da nossa receita no Brasil, mas tem dobrado e receita a cada ano e tomado um porte relevante.

EXAME.com - Por outro lado, as receitas da América Latina caíram 8,6% em reais e aumentaram 23,8% em moeda local. O câmbio foi o motivo para a queda?

Otávio Lyra - Exatamente. Sentimos o efeito cambial na operação, mas que não importa muito pelo negócio que temos. Em 2015, o câmbio ajudou a companhia, mas em 2016 os pesos mexicano e argentino se desvalorizaram em relação ao real. Faz parte do negócio.

EXAME.com - A Netshoes reportou prejuízo de R$ 37,7 milhões no primeiro trimestre. Quando a empresa prevê apresentar lucro, depois de anos no prejuízo? Ou ainda pretendem continuar buscando crescimento sem foco no lucro?

Otávio Lyra - Sempre tivemos a preocupação de crescer melhorando os nossos fundamentos. Fizemos isso nos últimos anos e é o que vamos buscar daqui para a frente. Mas, com nosso ritmo de crescimento, também veremos melhora na última linha do balanço.

É importante lembrar que o balanço do primeiro trimestre ainda não contabilizou os efeitos da capitalização do IPO, o que por si só já traz melhora na estrutura de capital e reduz as despesas líquidas financeiras.

EXAME.com - O IPO atingiu as expectativas de vocês?

Otávio Lyra - Sim, completamos a operação com sucesso e atingimos uma base de investidores sólida, investidores do setor de tecnologia. Estamos bastante contentes e a entrada de recursos irá cobrir nossas necessidades a longo prazo.

A valorização das ações da companhia desde o IPO, mesmo com a queda na abertura (de mais de 10%), mostra a crença dos investidores. Ontem as ações já fecharam a US$ 18,28 (hoje estão a quase US$ 20 por ação), acima dos US$ 18 por ação no IPO. Espero que os resultados divulgados possam fortificar o momento de alta.

EXAME.com - Por que decidiram abrir capital na Bolsa de Nova York e não no Brasil?

Otávio Lyra - Para nós, foi uma questão de posicionamento da companhia. A Netshoes acredita que o e-commerce, seja lá onde for, é um negócio com grande potencial de sucesso e é a tendência a longo prazo do varejo.

Quando olhamos para nossos competidores no mundo, vemos muito mais players e mercados maduros, como a Amazon e a JD. Quisemos nos posicionar perto de e-commerces que são modelo e negócios que são semelhantes ao nosso.

EXAME.com - Como irão aplicar o capital de US$ 148,5 milhões que foi levantado no IPO?

Otávio Lyra - Vamos fomentar as operações no Brasil, Argentina e México. Um dos pontos é o crescimento da Zattini e do marketplace, que foi lançado em fevereiro de 2016 e já tem 5,3% das nossas vendas.

Também vamos desenvolver a marca própria, que já representa 6% da receita da companhia. Temos planos ambiciosos para esta iniciativa, que tem uma boa posição de ser acessível para os clientes e ter boa margem para a empresa.

Obviamente também vamos investir em tecnologia. Temos quase 300 profissionais de TI dedicados em casa e fazemos todo o desenvolvimento internamente.

EXAME.com - A Shoestock, comprada pela Netshoes em fevereiro de 2016 reabriu, no Dia das Mulheres de 2017, uma loja em São Paulo. A empresa está voltando ao mundo físico? Outras marcas irão seguir o mesmo caminho?

Otávio Lyra - Não. Para a Netshoes não é o plano. Abrimos a loja física da Shoestock para ter a experiência de omnichanel pela primeira vez.

A Netshoes nasceu como loja física em 2000, mas se tornou completamente online em 2007. Mas a ideia não é replicar vastamente o modelo (de loja física), mas ter um ponto de contato com os clientes.

EXAME.com - Quais são os planos para o marketplace, que já representa 5,3% das vendas?

Otávio Lyra - Para nós, esse modelo é uma estratégia muito importante para a companhia e buscamos crescimento sim, mas com qualidade.

A Netshoes tem um ativo que desenvolveu ao longo dos seus anos que é sua marca. Temos o primeiro lugar no ranking de recomendação dos clientes, medido pelo Ibope. A Zattini está em terceiro.

Para nós, preservar esta posição é muito importante. Como o marketplace traz outros vendedores que não a Netshoes, com um crescimento muito forte fica difícil garantir a qualidade. Temos hoje 375 vendedores na plataforma e vamos crescer, mas com qualidade.

EXAME.com - Hoje, o México e a Argentina têm apenas a operação da Netshoes. Há previsão para levar os outros negócios a esses países?

Otávio Lyra - Sim, buscamos implantar o marketplace daqui a seis meses ou um ano. Os recursos do IPO irão acelerar o desenvolvimento. Também faz parte dos nossos planos levar a Zattini e as marcas próprias, adequando-as ao mercado.

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