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Mariana Sensini, do Pinterest Brasil: o crescimento em meio à quarentena

No isolamento, brasileiros buscam como nunca por inspiração. Diretora do Pinterest falou sobre o momento da rede – e os desafios de ser mãe nas empresas

Mariana Sensini, diretora do Pinterest no Brasil: 38 milhões de usuários no país e o maior crescimento da história (Pinterest/Divulgação)

Mariana Sensini, diretora do Pinterest no Brasil: 38 milhões de usuários no país e o maior crescimento da história (Pinterest/Divulgação)

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Carolina Riveira

Publicado em 9 de maio de 2020 às 08h00.

Última atualização em 9 de maio de 2020 às 16h40.

Mariana Sensini tem uma história de carreira que, infelizmente, ainda é incomum a outras mães. Quando voltou da licença maternidade, há dois anos, não foi questionada por seus meses de ausência, mas promovida na semana seguinte a diretora da rede social de imagens Pinterest no Brasil e na América Latina, o cargo mais importante na operação local. "É essencial essa visão de que quando a mãe retorna de uma licença maternidade eventualmente será necessário mais flexibilidade, mas nem por isso ela será menos produtiva", diz.

No Pinterest desde 2015 após passagens por empresas como a Globo e o Google, Sensini acompanhou de perto o desenvolvimento da plataforma no Brasil. No país, são 38 milhões de usuários mensais, ante os 367 milhões no mundo. Agora, em tempos de isolamento social, a rede vem sendo procurada como nunca. O Pinterest vive na quarentena seu "maior crescimento de todos os tempos", diz a executiva.

A empresa reportou em abril seus resultados do primeiro trimestre de 2020, com faturamento de 271,9 milhões de dólares, alta de 24% em relação ao mesmo período do ano passado, e prejuízo de 141,2 milhões de dólares. Apesar das perdas, a ação subiu cerca de 15% desde o começo do ano, ante queda na casa dos 12% do S&P 500, o principal índice da bolsa americana.

A base de usuários também cresceu 26% no trimestre. Ao mesmo tempo que a receita deve ser impactada pela queda no orçamento de anunciantes em todo o mundo, o Pinterest diz que seus principais anunciantes estão menos expostos a setores em crise, como o automotivo e de viagens, e vem lançando ferramentas para melhorar a experiência de anúncios.

À EXAME, Sensini falou sobre o momento da plataforma no Brasil, as novas fontes de receita e por que acredita que o Pinterest seguirá chamando atenção mesmo em meio à alta concorrência de redes como YouTube, Facebook e Instagram. Às vésperas do Dia das Mães, a executiva respondeu também sobre os desafios de ser mulher e mãe na carreira corporativa e deu conselhos sobre como as lideranças e recursos humanos nas empresas podem melhorar a experiência das colaboradoras. Leia abaixo os principais trechos da conversa.

Como está sendo este momento de isolamento social e pandemia do coronavírus para o Pinterest no Brasil?

A gente viu o maior crescimento de todos os tempos durante a quarentena em buscas e acessos. São 38 milhões de usuários mensais fazendo buscas de todos os tipos, comida, bebida, beleza, cuidados. Desde 1º de março, o número de pastas criadas também cresceu 62% no Brasil. As pessoas não podem sair de casa, então buscam muita coisa para se fazer em casa durante o isolamento: atividades internas, receitas fáceis, ideias de atividades com as crianças. 

Em tempos de quarentena, as pessoas têm uma série de opções digitais com as quais preencher o tempo: lives no YouTube, no Instagram, outras redes sociais. Por que a senhora acredita que elas seguirão passando tempo no Pinterest?

O Pinterest não é uma rede social com todos esses elementos de conexão. Lá, não estou interessada nas pessoas do meu trabalho, na minha família, nos meus amigos diretos. É uma relação mais de descoberta visual, uma válvula de escape do mundo. E um ponto forte é a diversidade de uso da plataforma, cada um usa para uma coisa: tem pessoas que procuram receitas, destinos de viagem, cifra, é muito divertido, tem de tudo nessas buscas. Mas também é uma plataforma segura para a família, as pessoas buscam coisas para melhorar suas vidas. Não existe muita polêmica e debates políticos -- não que isso não seja importante, mas no Pinterest isso não reverbera muito. 

O Pinterest lançou novas funcionalidades durante a pandemia?

O objetivo é que as pessoas encontrem ideias para realizarem nas suas vidas, planejarem e fazerem. O lançamento mais recente nestas semanas é de planejamento: crio uma pasta, coloco datas, faço listas, e o software vai recomendando os momentos principais onde algumas ações conseguem ser realizadas. As pessoas continuam buscando coisas relacionadas a planejar o futuro. Toda essa parte de inspiração que é muito necessária.  

Antes, a plataforma já passou por uma série de desenvolvimentos. Temos 2,5 bilhões de imagens mapeadas, e já consigo conectá-las a varejistas para que os clientes saibam onde comprar. Nos Estados Unidos, lançamos nesta semana uma integração com a Shopify, e o algoritmo vai mostrando os produtos e imagens conforme cada usuário. É um exemplo de tecnologia aliada à possibilidade de compras. 

Há previsão de haver no Brasil algo parecido com essa integração com a Shopify nos EUA para anunciantes?

Ainda não. Mas nosso objetivo é cada vez ter mais produtos locais, para que as pessoas possam comprá-los caso se interessem, principalmente em categorias como moda, beleza e decoração. Então ainda não temos esse e-commerce integrado direto na plataforma, mas já conseguimos que as varejistas subam seu feed de produtos, por exemplo. Empresas como Renner, Natura e Tok&Stok já tem perfis corporativos ativos na plataforma que usam para divulgar seus produtos. 

Nestes seus anos de Pinterest, quais são os principais feitos da plataforma no Brasil?

A adoção da plataforma no Brasil é muito alta, as taxas de crescimento ano a ano continuam sendo muito expressivas. É um dos países que mais cresce no mundo na plataforma. E nosso esforço para falar com o varejo e os publishers locais fazem com que não pareça uma plataforma estrangeira. É um esforço nosso para dizer que fazemos parte da cultura brasileira também. Eu posso até buscar inspiração de fora, mas consigo achar no Pinterest Brasil os produtos que são brasileiros, locais. A gente sai de uma plataforma imagética, que é só inspiração, para ação. 

No mundo inteiro, cada vez mais a gente investe em possibilidades para que as ferramentas sejam customizadas e representativas, tanto de cultura local quanto de outras formas. Lançamos, por exemplo, os filtros de pele. Quando faço uma busca por maquiagem existe uma gama de tons de pele e as pessoas querem se sentir representadas, então passou a ser possível procurar por uma série de tons específicos. 

Tem alguma particularidade do usuário brasileiro no Pinterest?

Uma característica muito forte dos usuários brasileiros é essa conotação positiva. Uma das palavras mais buscadas são as frases e imagens de bom dia, as pessoas buscam para mandar em outras redes, no WhatsApp (risos). Mas nas top 50 buscas sempre está muito relacionado a essa positividade. 

O Pinterest fez IPO no ano passado junto a empresas como Uber, Lyft e Slack, que passaram a ser questionadas por dar prejuízo e ter um modelo de crescimento a todo custo. Você citou as adaptações para anúncios do varejo, essa é uma das principais frentes de aumento da receita na qual o Pinterest vem focando? 

A gente não tem publicidade no Brasil diretamente, mas temos em mais de 20 países. Muitas indústrias, é claro, foram penalizadas com a crise, mas temos uma série de parceiros diversos. A área de produto e engenharia é muito focada em uma missão, que é trazer inspiração. Então as nossas formas de receita estão correlacionadas a essa missão específica. Queremos que, quando as pessoas vejam varejo em sua navegação, que aquilo seja pertinente para a vida delas. A nossa experiência de anúncio e divulgação de produtos no varejo não seja como em outros lugares. As compras com certeza conversam muito bem com a plataforma: não é uma experiência que atrapalha a navegação, tem maior possibilidade de conversão. A pessoa entra no Pinterest com o objetivo de descobrir coisas, está no topo do funil. Então a plataforma faz com que a gama de possibilidade de conversão seja muito maior. 

Pinterest: imagens de bom dia são campeãs entre os brasileiros (Pinterest)

Sobre sua trajetória de carreira, você foi promovida à liderança no Brasil logo depois de voltar de licença maternidade. Por que isso ainda é tão raro?

De fato, agradeço muito à minha equipe e à minha liderança que não fica no Brasil. É preciso ter essa visão de que quando a mãe volta de uma licença maternidade, eventualmente você vai ter mais flexibilidade, mas nem por isso vai ser menos produtiva. E a possibilidade de delegar também é muito importante. Muitas empresas, sobretudo as de tecnologia, já começam a olhar para esses pontos, mas nem todas. A flexibilidade já me ajudou muito a não gerar um estresse desnecessário -- mas nem por isso tivemos mudanças nas entregas. 

Que conselhos você daria tanto para mulheres na vida corporativa quanto para empreendedoras que são mães e enfrentam esses desafios?

As mulheres e mães têm de, se possível, falar com sua equipe e ter essa abertura para a discussão. Não se pode ter medo e receio de expor o momento e que tipo de flexibilidade essa mãe precisa. Se eventualmente não vai ser possível garantir para toda uma equipe, de repente podemos ao menos adaptar para alguns momentos. Essa discussão precisa acontecer. 

Na quarentena, o cenário de dupla jornada das mães fica mais acentuado, com mulheres trabalhando em casa ao mesmo tempo em que cuidam dos filhos. O que as empresas e sobretudo lideranças que são homens podem fazer para atenuar esse desafio? 

Primeiro que os líderes homens que são pais já deveriam ter esse olhar, porque, na teoria, deveriam sofrer as mesmas questões que as mães, porque o trabalho tem de ser igualmente dividido. Os que não são pais têm de pesquisar, fazer essa lição de casa e entender quais são as possibilidades para auxiliar essas mulheres nesse momento. Que tipo de benefícios a empresa tem de garantir, ajudar as mulheres a conseguir delegar tarefas, ou seja, treinar outras partes da equipe que vão precisar apoiar aquela pessoa. Mas com certeza começa com a possibilidade de abertura à discussão. Acho que gestores de RH e líderes de empresa precisam incentivar o movimento, essa abertura tem de vir de cima para funcionar. 

Como está sendo a quarentena para você no Pinterest?

Sou suspeita, mas o próprio Pinterest tem ajudado muito. Sempre procuro atividades rápidas para fazer com crianças, sem muito material. E na empresa em si, a gente faz conferências com pessoas do mundo inteiro, e sempre tem uma criança ali, puxando uma cadeira, é a nossa realidade. Algumas mulheres estão sozinhas com filhos, e no Pinterest as pessoas entendem isso muito bem. No nosso canal no Slack agora há um status chamado “estou com uma criança”, então você sabe que a pessoa está em um momento delicado ali. Vemos se é possível diminuir o número de reuniões, ver o que esses pais realmente precisam participar, o que podemos tirar da agenda. São alguns detalhes que fazem diferença.

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