Negócios

Marcopolo pode ter pago R$ 1 milhão em propina, diz PF

O valor teria sido pago para a empresa ter julgado um processo no Carf em que recorria de multa no valor de R$ 200 milhões


	Linha de montagem da Marcopolo: e-mails interceptados pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, revelam o suposto acerto
 (Germano Lüders/Exame)

Linha de montagem da Marcopolo: e-mails interceptados pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, revelam o suposto acerto (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2015 às 11h45.

Brasília - A empresa Marcopolo, uma das maiores fabricantes de carroceria de ônibus do País, é suspeita de pagar R$ 1 milhão de propina para ter julgado um processo no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) em que recorria de multa no valor de R$ 200 milhões.

E-mails interceptados pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, revelam o suposto acerto.

"Os acórdãos em anexo (da empresa Marcopolo) foram 'negociados' com as pessoas daquele esquema que já conversamos... houve pagamento de R$ 1 milhão", escreveu um dos conselheiros investigados pela Zelotes.

O destinatário da mensagem é Gerson Schaan, chefe da Coordenação de Pesquisa e Investigação da Receita Federal.

O conselheiro ainda relatou a Schaan um atrito entre os "colegas" que teriam cobrado a propina. "Um deles resolveu 'passar a perna' no outro." A citação ao chefe da inteligência da Receita não é esclarecida pela PF no relatório obtido pelo Estado.

A reportagem tentou contato com Schaan na noite desta quarta-feira, 1. Familiares informaram que ele estava no exterior. Schaan não é investigado.

Procurada, a assessoria da Marcopolo informou que retornaria a ligação, mas não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.

Transações atípicas

O relatório aponta que atuais e ex-conselheiros do Carf e empresas ligadas a eles movimentaram R$ 55,5 milhões em 93 transações financeiras atípicas identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Apenas na conta da SGR Consultoria, uma das empresas investigadas, foram depositados R$ 6,2 milhões de 2005 a 2012 por empresas que aceitaram participar do esquema.

"Essa empresa muito se destaca em razão da grande quantidade de movimentação financeira", destacou relatório de inteligência da Operação Zelotes. A consultoria teria como função cooptar clientes.

Empresas tinham a promessa de ter multas aplicadas pela Receita reduzidas ou eliminadas mediante pagamento de propina para o grupo.

"A SGR prestaria consultoria em especialidade ‘não sabida’". O Carf é um órgão recursal das multas aplicadas pela Receita sobre grandes contribuintes.

A PF também apreendeu R$ 1,8 milhão em dinheiro vivo, além de carros de luxo e valores em dólar e euro em endereços de lobistas do esquema.

Apenas na casa de um dos integrantes do Carf - um apartamento duplex numa região nobre de Brasília - foram achados R$ 800 mil guardados em um cofre.

Um dos conselheiros investigados exemplificou o esquema numa das conversas interceptadas pela investigação: "O Carf tem de acabar porque os grandões sempre fazem negociatas e só quem paga são os coitadinhos."

As investigações devem avançar com o farto material apreendido pela Operação Zelotes.

O Ministério Público Federal decidiu criar uma força tarefa para analisar os documentos.

A Polícia Federal dobrou o número de agentes envolvidos na apuração. Ao todo, estão sob suspeita de participar do esquema 74 contribuintes.

Como revelou o Estado no sábado, entre eles há gigantes dos setores bancário, frigorífico, telefônico, além de montadoras, empresas de energia e estatais.

Desde a última quinta-feira, ao menos 19 pessoas foram ouvidas pela PF, nove conselheiros e ex-conselheiros do Carf. O esquema pode ter desviado dos cofres públicos R$ 19 bilhões.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasMarcopoloÔnibusOperação Lava JatoTransporte públicoTransportes

Mais de Negócios

Slice, um dos refrigerante 'da moda' dos anos 80, volta aos mercados nos EUA

Com mercado de pets aquecido, essa empresa britânica busca dobrar faturamento a partir do Brasil

Este CEO convida clientes para reuniões com a liderança — e Elon Musk aprovou a ideia

‘Anti-Facebook’: universitários levantam US$ 3 milhões em 2 semanas para criar nova rede social