A ex-presidente da Petrobras, Graça Foster: Funcionária de carreira, ela saiu em fevereiro, após os desdobramentos da Lava Jato (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2015 às 09h01.
São Paulo - Com a saída conturbada de Graça Foster da presidência da Petrobras e de Dilma Pena do comando da Sabesp, as maiores empresas brasileiras de capital aberto passaram a ter apenas homens no comando dos negócios.
Nenhuma das 63 companhias que compõem o principal índice de ações da Bolsa brasileira, o Ibovespa, tem mulheres no posto de presidente.
As duas executivas deixaram os cargos neste ano, em meio a crises que inviabilizaram suas gestões.
Funcionária de carreira, Graça saiu em fevereiro, depois que desdobramentos da Operação Lava Jato impediram a divulgação do balanço auditado da estatal.
Já Dilma Pena alegou problemas de saúde, após o agravamento da crise hídrica no Estado de São Paulo.
Nos conselhos de administração o cenário é um pouco diferente, mas não muito. Segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, apenas metade das empresas do índice tem presença feminina.
Ainda assim, elas são minoria e, em geral, fazem parte das famílias proprietárias.
"As empresas costumam ter a mesma proporção de homens e mulheres nos postos iniciais. Se imaginarmos uma pirâmide, a companhia vai ficando mais masculina", diz a especialista em economia do gênero e professora do Insper, Regina Madalozzo.
Segundo ela, a ausência de modelos no topo e a falta de políticas que permitam conciliar vida pessoal e profissional explicam esse cenário.
Sócio da consultoria Strategy& e autor de um estudo global sobre mulheres CEOs, Carlos Gondim é menos pessimista. Para ele, o atual retrato do Ibovespa esconde uma tendência de alta na participação feminina.
"A evolução depende de aspectos culturais, acesso à educação e nível de desenvolvimento das empresas. O Brasil segue a tendência mundial, mas a participação ainda é baixa", afirma.
O estudo deixa esses fatores evidentes: entre 2004 e 2013, apenas 1,7% dos CEOs eram mulheres, na média do grupo formado por Brasil, Rússia e Índia. Nos EUA e Canadá, o índice é de 3,2% e no Japão, não chega a 1%.
Mas, segundo Gondim, isso vem mudando. O estudo prevê que em 2040 um terço de todos os CEOs que estiverem ingressando nos cargos serão do sexo feminino.
Alguns setores, no entanto, mostram-se mais resistentes do que outros. No Ibovespa, o segmento de construção e engenharia é o único que não tem mulheres no conselho de administração de nenhuma empresa.
Globalmente, segundo a Strategy&, a indústria de materiais (que inclui desde produtos químicos até materiais de construção) teve o menor porcentual de presidentes do sexo feminino entre 2004 e 2013. Já Tecnologia da Informação lidera com a maior participação.
No contexto global, alguns casos se destacam, como o da engenheira americana Mary Barra, da GM, que quebrou paradigmas ao se tornar a primeira mulher a assumir o mais alto posto de uma montadora.
Cotas
Integrante do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a advogada Marta Viegas explica que o caminho escolhido por países como EUA e Suécia foi o estímulo gradual à participação feminina em cargos de gestão.
Ao contrário da Noruega, que optou por cotas para mulheres no board, as empresas suecas apresentam equilíbrio semelhante entre homens e mulheres nos conselhos sem lançar mão dessa política.
"É importante a preparação feminina desde os cargos de gerência", diz Marta.
O principal argumento de quem defende as cotas é o tempo necessário para que se alcance a igualdade de gêneros nos conselhos.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, seriam necessários 200 anos para equilibrar os quadros das empresas em nível mundial.
No Brasil, Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, é uma das defensoras das cotas. "Se não for assim, nem nossas filhas nem mesmo nossas netas vão participar de conselhos."
Liderado pela executiva, o grupo de trabalho Mulheres do Brasil vai enviar ao Congresso um projeto de lei que estabelece cotas em conselhos de administração de estatais e empresas de economia mista.
O objetivo é que o sistema seja transitório, até 2033, e garanta ao menos 30% dos assentos a mulheres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.