Livros: Estante Virtual foi vendida ao Magalu por 31 milhões de reais (Jovan_epn/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 21 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2020 às 13h33.
O frete é historicamente uma das principais barreiras para clientes do site de livros Estante Virtual. Como as entregas são de responsabilidade dos vendedores, é comum que o frete das compras custe até mais caro do que o livro em si, sobretudo no caso dos produtos usados e vendidos por pequenos vendedores.
O Magazine Luiza, novo dono da plataforma, tentará reduzir esse entrave. A varejista anunciou nesta semana que concluiu a compra da Estante Virtual, fundada em 2005 e que desde 2017 pertencia à Livraria Cultura. A empresa foi arrematada em leilão pelo Magalu no fim de janeiro, por 31 milhões de reais. O leilão fez parte do plano de recuperação judicial da Cultura, aprovado em abril do ano passado.
Com a nova gestão, o Magalu anunciou em comunicado que, concluída a integração com a plataforma, passará a oferecer aos clientes a opção de retirar o livro comprado nas mais de 1.100 lojas do Magazine Luiza no Brasil, com entrega em até 48 horas. Na opção de retirada em loja, o frete dos produtos da Estante Virtual também será grátis.
A modalidade, chamada de "Retira Loja", já existe para todos os produtos vendidos e entregues pelo Magalu (73% do total) e para uma parcela dos produtos vendidos por terceiros no marketplace.
Para entregas feitas em casa, o Magalu também vai integrar seu sistema de logística próprio. A empresa usa um sistema de distribuição que inclui parceiros e um braço próprio de entrega, chamado de Malha Luiza, com mais de 2.000 caminhoneiros parceiros. O serviço completo de logística (entrega a domicílio ou retirada em loja) passou a ser oferecido a vendedores parceiros no ano passado, por meio do projeto MagaluEntregas.
A logística representou 25% dos investimentos do Magalu em 2019. Já a receita bruta com prestação de serviços -- como o braço de logística -- a terceiros cresceu 39% no Magalu em 2019, chegando a 1,1 bilhão de reais.
O investimento vem gerando algum resultado. Nos produtos vendidos e entregues pelo Magalu -- ou seja, os que não são de terceiros no marketplace --, 66% das entregas já são feitas em até dois dias, segundo a empresa informou no balanço do quarto trimestre.
É esse tipo de velocidade que a empresa planeja levar para as entregas da Estante Virtual, que hoje lida com prazos muito maiores no e-commerce -- a média brasileira é de mais de 13 dias. As mudanças não são imediatas, e não há data para que a integração da Estante Virtual com o sistema de logística do Magalu passe a ser oferecido ao público. Com a Netshoes, contudo, os produtos começaram a ser oferecidos no aplicativo do Magazine Luiza pouco mais de seis meses após a compra.
A troca de dono da Estante Virtual mostra momentos diferentes do varejo nacional. Afetada pela crise das livrarias, a Cultura tinha uma dívida de 285 milhões de reais quando pediu recuperação judicial e, assim, decidiu por vender a Estante Virtual, além de fechar uma série de lojas. Situação parecida também levou a concorrente Saraiva à recuperação judicial.
Enquanto isso, para o Magalu, se aventurar no setor dos livros é um dos movimentos estratégicos da empresa para fortalecer a imagem de que vende de tudo. No ano passado, a empresa estreou o mote "Tem no Magalu", e vem tentando aumentar seu sortimento de produtos em seus canais de vendas, indo além de eletrônicos e eletrodomésticos. A ideia é que, com diferentes categorias, incluindo as de produtos mais baratos, a frequência de compra do cliente aumente.
Foi o mesmo princípio que levou o Magalu a pagar 115 milhões de dólares pela varejista especializada em artigos esportivos Netshoes e seu braço de moda, a Zattini, comprados no ano passado. A empresa dos Trajano tem também sob seu guarda-chuva a empresa de cosméticos Época, adquirido em 2013.
Os livros estrearam na plataforma do Magalu em abril de 2019. A empresa tem hoje um sortimento de mais de 240.000 títulos, entre estoque próprio e vendas de terceiros no marketplace, mas não revela números sobre quantos livros foram vendidos.
Já a Estante Virtual vendeu no ano passado 3 milhões de livros para 1 milhão de clientes, movimentando 120 milhões de reais. Fundada em 2005 pelo administrador de empresas carioca André Garcia, a Estante Virtual é uma espécie de “sebo” na internet, onde amantes de livros, estudantes e outros clientes podem encontrar edições antigas ou mesmo raras e comprá-las de vendedores de diferentes lugares do Brasil.
Com a Estante Virtual, o Magalu ganha 6.000 vendedores parceiros e um sortimento de mais de 20 milhões de livros à venda na plataforma. Os livros estarão disponíveis para compra direto no aplicativo do Magalu -- como já acontece com produtos de outras empresas do grupo, como Netshoes, Zattini e Época.
"Com a aquisição, o Magalu também reforça a categoria de livros em sua própria plataforma, lançada em 2019, e avança no sentido de se tornar referência no segmento", escreveu a empresa em comunicado informando o mercado sobre os planos de integração com a Estante Virtual. A empresa afirmou ainda que "está presente em mais de 780 cidades, das quais cerca de 300 não têm livrarias". Em plena crise da indústria de livros, o Magazine Luiza aposta neles para seguir crescendo.