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M&A do funk: produtora do Livinho e do Hariel, GR6 compra concorrente por R$ 15 milhões

Produtora trabalha num modelo de fast music: há casos em que uma faixa é produzida em um único dia

 (GR6/Divulgação)

(GR6/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 27 de agosto de 2024 às 17h41.

Última atualização em 27 de agosto de 2024 às 18h15.

A batida do funk não para, e quem conhece bem o ritmo sabe que ele também não tem limites. E não para de crescer.

Prova disso é a GR6, uma das maiores, se não a maior produtora de funk do Brasil. A empresa acaba de passar pelo seu primeiro processo de fusão e aquisição. A produtora da zona norte de São Paulo adquiriu 33% da Sonar, uma concorrente de Osasco, por R$ 15 milhões.

"A Sonar sempre foi uma parceira importante para nós, com um modelo de negócios que se alinha muito bem ao nosso", diz André Morrisy, da GR6 Music. "Além disso, eles têm um bom market share no mercado local, o que nos chamou a atenção".

Fundada há cerca de uma década, a GR6 começou sua trajetória focada em shows e eventos, mas rapidamente evoluiu para se tornar um conglomerado musical completo.

"Nos últimos seis anos, a empresa começou a atuar na parte digital, de distribuição de música, e isso alavancou a GR6 para um patamar mundial", afirma Morrisy. Segundo ele, foi essa diversificação que impulsionou a empresa a novas alturas, transformando o que antes era uma pequena operação em um gigante da música periférica.

Hoje, a GR6 produz músicas, agencia artistas e cuida de toda parte jurídica e artística dos cantores.

O faturamento não é divulgado, mas a empresa dá alguns números para dimensionar seu tamanho. Só com o braço de publicidade, recém-criado, já faturaram algo em torno de R$ 10 milhões. Com parcerias com gravadoras mundiais, como a Universal, a Sony e a Warner Music, já foram R$ 200 milhões nos últimos anos. Em 2023, as músicas da produtora foram ouvidas 6 bilhões de vezes. O canal do YouTube tem 41 milhões de inscritos.

"São mais de 10 milhões de visualizações diárias, é maior do que muito canal de televisão", diz o diretor. "No ano passado, pagamos cerca de R$ 5,5 milhões em imposto, o que supera outras produtoras que até estão em bolsa, como a Time 4 Fun".

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Qual é a história da GR6

Rodrigo Inácio de Lima Oliveira, mais conhecido como Rodrigo GR6, é o nome por trás de um dos maiores impérios da música periférica no Brasil. Nascido em Pernambuco, Rodrigo chegou a São Paulo ainda criança, acompanhado dos pais e dois irmãos, que, como muitos migrantes, buscavam melhores oportunidades na metrópole.

A paixão pela música sempre esteve presente em sua vida. Um de seus primeiros trabalhos foi como promotor de festas. Foi, também, vocalista de um grupo de pagode, o 6ª Arte. Quando começou a organizar os primeiros eventos, recebeu um conselho de amigos: por que não ter uma lista de artistas próprios para se apresentarem nas festas. Foi o embrião da GR6, que como empresa existe há cerca de dez anos.

A GR6 não só mudou a vida de Rodrigo mas também revolucionou o cenário musical brasileiro, especialmente no funk. Sob sua liderança, a empresa se expandiu em diversas frentes, desde a produção musical até a gestão de shows e a publicidade. "Ele começou com festas e eventos, mas logo percebeu o potencial de criar um conglomerado que desse suporte completo aos artistas", afirma André.

Hoje, Rodrigo GR6 é considerado um dos principais empresários do mercado musical do país. Entre os artistas mais famosos que fazem parte do time da GR6 estão:

  • MC Livinho
  • MC Pedrinho
  • MC Ryan SP
  • MC Hariel
  • MC Don Juan
  • MC Davi

Esses artistas, junto com muitos outros, ajudam a consolidar a posição da GR6 como uma das principais produtoras de funk do Brasil.

Fast music e modelo fordista

Na sede da empresa na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, 11 estúdios de música e outros dois audiovisuais produzem música o tempo inteiro, noite e dia, sete dias por semana. Em um modelo batizado pela própria empresa como fast music, a produtora vai da concepção da música até o licenciamento e o momento em que o áudio sobe nas plataformas digitais.

"O artista chega aqui de manhã, começa a fazer a música, e dentro dos estúdios já têm profissionais captando as informações, criando a ficha técnica, enviando para o departamento de licenciamento. Ao mesmo tempo, a equipe de capa, design e contrato já está organizando tudo. Assim que ele acaba de gravar, já vai para o estúdio de vídeo filmar o clipe", diz.

"É praticamente um modelo fordista", brinca o diretor. "Mas sem deixar de lado a parte artística".

Para os artistas já consolidados, cerca de 80 dos 120 que eles têm no catálogo, a GR6 também faz o gerenciamento dos shows. Todas as semanas, são 400 shows marcados pela GR6 — 1,2 mil por mês, no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.

Para os que estão começando, há também uma produtora parceira, chamada Base Records. Por ali, o trabalho é quase como das categorias de base no futebol: tem até refeitório e dormitório, caso algum artista venha de outro estado.

Aliás, a referência com futebol é interessante, uma vez que jovens das comunidades brasileiras veem na possibilidade de ser cantor de funk a oportunidade para mudar de vida — algo que por muitos anos foi reservado apenas ao futebol.

"É por isso que seguimos na zona norte, próximo da comunidade, porque queremos estar perto deles. Com nosso tamanho e estrutura, poderíamos ter escritório nas regiões mais nobres de São Paulo, mas não temos interesse", diz. "Contratamos o 'pessoal da quebrada' para trabalhar aqui e aprender conosco. Esse é nosso modelo".

Por que comprar parte da empresa concorrente

A aquisição da Sonar, uma produtora de localizada em Osasco, faz parte de uma estratégia bem definida pela GR6: de se aproximar de produtoras locais.

Apesar da compra de parte da empresa, a Sonar continuará operando de forma independente, mantendo sua estrutura e sua alma empresarial intactas.

"Não se trata de uma fusão, mas uma aquisição e de um investimento estratégico. Vamos manter duas operações distintas, mas com um suporte comercial mais robusto", diz André.

Para a GR6, essa aquisição é apenas um passo em uma trajetória de expansão contínua, que agora mira a internacionalização.

"Estamos focados em expandir para fora do Brasil, com planos concretos de abrir escritórios em Miami, o centro da música latina, e em Portugal, onde já temos uma boa presença no Spotify".

Com um crescimento estimado de 15% a 20% para 2024, a GR6 planeja continuar rompendo barreiras e levando o funk a novos horizontes. Se depender da GR6, a batida do funk vai ressoar cada vez mais alto, e não apenas nas comunidades, mas no mundo inteiro.

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