FÁBRICA DA JBS (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 24 de março de 2021 às 19h48.
Última atualização em 24 de março de 2021 às 19h57.
A processadora de carnes JBS fechou o quarto trimestre com lucro líquido de 4 bilhões de reais, um salto de 65% em relação ao mesmo período de 2019, impulsionado por exportações aquecidas para a China, consumo firme tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e auxílio da variação cambial.
A dona de marcas como Swift e Friboi, teve lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de 7 bilhões de reais no período, aumento de 24,1% no ano a ano.
Analistas, em média, esperavam que a JBS tivesse Ebitda de 6,63 bilhões no quarto trimestre, segundo dados da Refinitiv.
A JBS ainda registrou uma receita líquida consolidada de 76,1 bilhões de reais no trimestre, o que representa um aumento de 33,1% no comparativo anual, com todas as unidades de negócios registrando crescimento na receita em reais.
No período, cerca de 75% das vendas globais da JBS foram realizadas nos mercados domésticos em que a companhia atua e 25% por meio de exportações.
A partir do Brasil, as vendas de carne bovina in natura, que corresponderam a 84% das exportações desta unidade de negócios, cresceram em volume quanto em preços, em 3,2% e 19,8%, respectivamente. Os destaques foram a China e Hong Kong, que tiveram aumento de cerca de 60% na receita de vendas no período.
A JBS propôes pagamento de dividendos de 1 real por ação, equivalente ao recorde de 2,5 bilhões de reais, para 2021.
No acumulado do ano, o lucro líquido foi de 4,6 bilhões de reais, queda de 24,2% ante 2019, enquanto o Ebitda ajustado somou 29,6 bilhões, alta de 48,7%. A receita líquida atingiu 270,2 bilhões de reais, avanço de 32,1% no ano a ano. A JBS ainda informou que a geração de caixa livre atingiu 17,8 bilhões, um salto de 87,3%.
"O ano passado todo foi com resultado forte. Com dólar mais valorizado, temos resultado maior quando se traduz em reais, mas [também] foi um bom resultado operacional", afirmou à Reuters o CFO global da JBS, Guilherme Cavalcanti.
Ele destacou que os negócios do Brasil tiveram a Seara como destaque e nas operações americanas o desempenho operacional foi considerado positivo, resultado também apoiado pelo efeito da variação cambial.
No quarto trimestre, a receita líquida da Seara atingiu 7,5 bilhões de reais, alta de 31,8%. A da JBS Brasil somou 13,39 bilhões, aumento de 39,9%. Nos Estados Unidos, a JBS USA e a JBS Pork tiveram receitas de 30,28 bilhões e 9,3 bilhões de reais, respectivamente, com avanços respectivos de 26,9% e 47,5%.
Quanto ao Ebitda ajustado das unidades no trimestre, Pilgrim's Pride, Seara e JBS Brasil, tiveram altas respectivas de 53,5%, 50,8% e 41,2%.
A companhia ainda encerrou 2020 com alavancagem de 1,58 vez em dólares e de 1,56 vez em reais, medida pela relação entre Ebitda ajustado e dívida líquida.
"Nossa meta é ficar entre 2 e 3 vezes, estamos abaixo disso e com essa alavancagem baixa a gente tem capacidade de fazer mais aquisições e remunerar melhor o acionista", disse o executivo.
Sem detalhar sobre oportunidades de aquisições, ele disse que a empresa está sempre olhando ativos no mercado ao redor do mundo.
O executivo também lembrou que já foi retomado o projeto de listagem de ativos nos Estados Unidos. "A questão já não é mais se vamos fazer, mas sim quando", afirmou.
Do ponto de vista de custos, Cavalcanti lembrou que as despesas com grãos, como o milho utilizado na ração animal, segue elevada, assim como o valor da arroba bovina no Brasil, o que exige a adoção de estratégias.
"Em 310 reais a arroba, isso tem impacto de compressão de margem e tem várias estratégias para lidar com isso, uma delas é produto de valor agregado, [onde] consegue diferenciar um pouco e tentar compensar parte desse aumento. Mas o que realmente compensa esses custos é a exportação."
Ele disse que metade das receitas da companhia no Brasil é exportação e como a demanda por proteína no mundo, principalmente Ásia e China, está alta, as vendas externas funcionam como um mitigador desse efeito de custos.
O executivo também disse que no quarto trimestre o avanço da receita no Brasil contou com uma parcela de reajuste em preços, algo que pode não acontecer neste momento. "De lá para cá, o preço do boi aumentou mas o mercado interno começa a ficar mais desafiador para aumentar preço", admitiu.
Para o curto prazo, ele acredita que a tendência é continuar com custo pressionado, seja por conta do câmbio, pelos grãos ou pelo pecuarista que acaba retendo o gado, mas em algum momento este ciclo da pecuária deve mudar.