BRF: câmbio desvalorizado e as disputas comerciais favoreceram as exportações (Germano Lüders/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de março de 2020 às 10h19.
Última atualização em 3 de março de 2020 às 11h17.
O aumento da demanda chinesa e a melhoria de margem da BRF levaram a companhia a divulgar o melhor resultado nos últimos anos. A BRF, maior exportadora de carne de frango do mundo e dona de marcas como Sadia e Perdigão, registrou lucro líquido de R$ 690 milhões no quarto trimestre de 2019, aumento de 120,6% em relação ao igual período do ano anterior, conforme balanço divulgado nesta terça-feira, 3. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado atingiu R$ 1,41 bilhão de outubro a dezembro do ano passado, alta de 67,7% ante igual intervalo de 2018. Os números levam em conta apenas as operações continuadas.
A receita líquida da BRF somou R$ 9,29 bilhões no quarto trimestre de 2019, avanço de 12,1% na comparação com o mesmo período de 2018. A companhia destacou que, no quatro trimestre de 2019, o preço de grãos, uma de suas principais despesas estava mais alto do que um ano antes, mas que o efeito foi mitigado por meio de processos de compras de commodities e substituição por insumos alternativos, entre outros.
Já no acumulado do ano, o lucro líquido do exercício foi de 297,6 milhões de reais, revertendo prejuízo de 4,45 bilhões de reais em 2018. Foi o primeiro lucro líquido anual da BRF desde 2015.
No acumulado de 2019, a companhia registrou ganho de R$ 1,18 bilhão oriundo de decisão judicial favorável à Sadia, que reconheceu o direito de excluir o ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins. Em comunicado, a companhia destacou a estratégia de aumentar a rentabilidade no ano passado. A margem bruta da empresa subiu de 16,1% em 2018 para 24,1% em 2019.
Em 2019, o lucro líquido das operações continuadas chegou a R$ 1,21 bilhão, revertendo prejuízo de R$ 2,11 bilhões em 2018. Já o Ebitda ajustado subiu 115,9%, para R$ 5,317 bilhões. A receita líquida anual avançou 10,8%, para R$ 33,45 bilhões.
A empresa continua impulsionada pelo surto da Peste Suína Africana que impactou a oferta em diversos países asiáticos, resultando em maior demanda pelos produtos importados. "Na China, nossos volumes cresceram 92,3%, impactados também por um maior número de plantas habilitadas durante o segundo semestre do ano e com preços em dólares subindo 51,5% ao ano. No Japão e na Coréia, também houve uma melhora na dinâmica comercial, visto o receio dos importadores com a possível falta de frango no mercado, dado o aumento da demanda chinesa", diz a empresa em relatório.
A expectativa do mercado tem sido de resultados positivos para o setor de proteína animal, impulsionados principalmente pela peste suína africana, que tem devastado plantéis na Ásia e impulsionado a necessidade de importação de países da região, em especial a China.
O lucro líquido da BRF no último trimestre de 2019 superou a projeção do BTG divulgada em janeiro, que era de R$ 369 milhões. Já a receita ficou levemente abaixo - o banco projetava R$ 9,582 bilhões -, assim como o Ebitda, que estava estimado em R$ 1,516 bilhão pelo BTG.
Para o início de 2020, a situação do setor como um todo é considerada mais preocupante do que no ano passado em decorrência do coronavírus, que dificulta a logística de importação da China e de outros países, além de potencialmente afetar a demanda em decorrência do menor número de pessoas comendo fora do lar.
Em relatório, o Rabobank afirmou que a epidemia "coronavírus traz mais incerteza e volatilidade" ao mercado de carne suína.