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Liquigás, o novo revés do Grupo Ultra

O Cade não aprovou a aquisição da distribuidora de gás Liquigás. Para voltar a crescer, o conglomerado terá que apostar nos planos B

LIQUIGÁS: com a compra, o Grupo Ultra elevaria a fatia de mercado de distribuição de GLP para cerca de 46% (foto/Divulgação)

LIQUIGÁS: com a compra, o Grupo Ultra elevaria a fatia de mercado de distribuição de GLP para cerca de 46% (foto/Divulgação)

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Letícia Toledo

Publicado em 1 de março de 2018 às 15h21.

Última atualização em 1 de março de 2018 às 16h05.

Um dos maiores conglomerados do país, o Grupo Ultra teve na noite desta quarta-feira mais um revés em sua estratégia de crescimento. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) rejeitou, por 5 votos a 2, a compra da distribuidora de gás Liquigás, que pertence à Petrobras, pela Ultragaz, bandeira do grupo Ultra.

Essa foi a segunda negativa do Cade para o Grupo Ultra em pouco mais de cinco meses. Em agosto, a autarquia barrou a compra da rede de postos Ale pela Ipiranga por 2,17 bilhões de reais. As aquisições garantiriam ao conglomerado posições dominantes nos segmentos, mas a autarquia de defesa econômica entendeu que as empresas do Ultra poderiam ser uma ameaça à concorrência com as aquisições.

Em nota, o Ultra afirmou que “sempre teve convicção de que a união dessas duas empresas permitiria ampliar e aprimorar os serviços de excelência que a Ultragaz presta a seus clientes e consumidores, e contribuiria para o aumento do dinamismo do setor de distribuição de GLP no Brasil”.

Com a compra da Liquigás, o Grupo Ultra elevaria a fatia de mercado de distribuição de GLP para cerca de 46%. Com a compra da Ale, a Ipiranga consolidaria sua posição como segunda maior distribuidora do país, atrás da BR Distribuidora, passando a ter cerca de 25% do mercado de venda de gasolina com mais de 9.000 postos.

As aquisições ajudariam o Ultra a avançar após anos marcados pela estagnação. “A empresa passou por um período que as principais empresas do país enfrentaram. Como seu negócio é altamente ligado ao consumo, a situação econômica fez os resultados ficarem parados”, diz Luiz Francisco Caetano, analista da Planner Corretora.

Nos resultados divulgados na última semana, o conglomerado apresentou uma queda de 4% no resultado operacional (Ebitda) de 2017. O lucro ficou estável na comparação anual, em 1,57 bilhão de reais. A dúvida agora é o quanto a empresa conseguirá crescer daqui para frente.

“Na nossa opinião, ainda há pouca visibilidade sobre como eles alcançarão a orientação de crescimento de 10% para Ipiranga e como a empresa será capaz de produzir crescimento de dois dígitos nos próximos anos sem aquisições”, afirmam analistas do banco UBS em relatório recente.

Um mês após a rejeição do Cade da compra da Ale, o conselho de administração do Grupo Ultra aprovou um orçamento adicional de 355 milhões de reais para a Ipiranga, para ajudar na expansão. Em dezembro, a companhia anunciou que vai investir 2,7 bilhões de reais em suas operações em 2018 — o maior valor já desembolsado. Só a Ipiranga receberá 1,55 bilhão de reais.

Tanto dinheiro é necessário em um período de crescente competitividade no segmento que é a principal fonte de receita do grupo. No passado o crescimento mais agressivo vinha da Ipiranga e da concorrente Raízen, ambas com 20% do mercado. Mas BR Distribuidora, líder com 26% do setor, abriu capital no fim do ano passado e, com novos sócios, deve adotar uma postura de crescimento mais agressiva.

“A BR Distribuidora precisa agradar mais acionistas agora e deve estar mais atenta às oportunidades”, diz Gustavo Allevato, analista do banco Santander. “Olhando para frente, a Ipiranga deve continuar crescendo, mas a taxas menores do que no passado. A empresa ficou muito grande, então crescer de 15% a 25% como crescia antes da crise será impossível”.

A negativa do Cade no caso da Liquigás é negativa tanto para a expansão dos negócios quanto para o caixa. O Ultra terá que pagar uma multa de 280 milhões de reais a Petrobras. “A Liquigás seria um ganho bastante expressivo para a Ultragaz. Os números da Liquigás mostram muito ineficiência e a Ultra teria como melhorar muito isso”, diz Sandra Peres, analista chefe da corretora Coinvalores.

A grande aposta de crescimento em 2018 do grupo é a multinacional química Oxiteno, que neste ano inicia a operação de uma nova fábrica de alcoxilação em Pasadena, nos Estados Unidos. Outro negócio em forte expansão é o setor de farmácias. Em 2017 o grupo abriu 100 novas lojas de sua marca Extrafarma, totalizando 394 unidades. No segmento de armazenagem de granéis a Ultracargo deve ter um 2018 melhor com a volta da operação no Porto de Santos, onde houve um incêndio e 2015, e com a recuperação da economia.

Todas as operações estão sob nova gestão desde outubro, quando o executivo Frederico Curado assumiu a presidência. Antes do Ultra, Curado comandou por nove anos a fabricante de aviões Embraer. Após o Ultra ter duas aquisições frustradas, Curado terá que se desdobrar para manter o ritmo com os planos B.

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