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Linx e Stone negociam detalhes finais de fusão – ações disparam

A combinação dos negócios de software de gestão e pagamentos eletrônicos pode acelerar o crescimento das duas empresas no médio prazo

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 11 de agosto de 2020 às 13h54.

Última atualização em 11 de agosto de 2020 às 17h52.

A fabricante de software de gestão para o varejo Linx e a processadora de pagamentos Stone estão em tratativas finais para uma combinação de negócios, segundo um comunicado oficial ao mercado financeiro divulgado no início da tarde desta terça-feira, 11.

“A companhia vai manter o mercado e os seus acionistas informados sobre o eventual desenvolvimento das negociações, de acordo com a regulamentação aplicável”, disse a Linx em comunicado.

Ainda não foi assinado nenhum documento vinculativo. "Portanto, não há nenhuma garantia de que uma potencial operação seja concluída", segundo o comunicado.

As ações das duas empresas dispararam com a notícia. O papel da Linx subiu 22,1% no fechamento da bolsa brasileira B3, vendido a 32,80 reais, enquanto o Ibovespa recuou 1,2%. O da Stone, perto do encerramento do pregão da bolsa americana Nasdaq, avançava 11%, para 52,39 dólares.

Segundo um executivo que conhece bem as duas empresas, a combinação faz muito sentido. "O meio de pagamento virou commodity, mas há cada vez mais valor em bons sistemas de CRM [Customer Relationship Management, ou gerenciamento do relacionamento com o cliente, em inglês] e ERP [Enterprise Resource Planning, conhecido em português como sistema de getão integrado]. Quando a Linx lançou seu serviço de pagamentos, mostrou à Stone que podia entrar com força nesse mercado", diz. "A Stone tem mais a perder ficando sozinha, mas a Linx ia levar muito tempo para ter uma plataforma de pagamentos robusta. A fusão pode acelerar o crescimento das duas empresas em três a cinco anos."

Do físico ao digital

A Linx se consolidou no mercado com foco sobretudo no varejo físico, mas vem ampliando seu leque de serviços digitais nos últimos anos e também em meio à pandemia.

A empresa optou por não escolher um parceiro específico e fechou ao longo dos últimos meses uma série de acordos com as principais varejistas e empresas digitais do Brasil em diferentes setores. “O país talvez não terá um único marketplace prevalecendo”, disse em entrevista anterior à EXAME, em abril, o presidente Alberto Menache. “Queremos nossos clientes bem posicionados em todas as frentes.”

À EXAME a empresa também afirmou no começo da pandemia que todas as categorias online vinham crescendo nas transações em suas plataformas, com compensação pelas perdas no varejo físico. As vendas online na Linx estavam, nas primeiras semanas da pandemia, 25% maiores até mesmo do que em novembro, mês da Black Friday. Ainda assim, as vendas caíram 50% no fim de março com o impacto do fechamento das lojas físicas, que ainda é a principal fonte de receita da Linx.

Em meio à pandemia, a Linx fez um acordo com a Rappi para enviar produtos de lojistas parceiros para clientes no entorno. Com a B2W, passou a vender na plataforma dona de Americanas.com e Submarino produtos de suas 15.000 farmácias clientes. A Linx tem ainda parcerias com Mercado Livre e Magazine Luiza para integrar o estoque dos lojistas parceiros ao marketplace das duas varejistas.

Em maio, a empresa atingiu 6.000 lojas cadastradas para usar seu link de pagamentos, segundo divulgou no balanço do primeiro trimestre deste ano. A ferramenta permite pagamento sem contato. No começo da pandemia, antes do fechamento das lojas mas já com a população preocupada pelo contágio, esse foi um dos serviços mais procurados e é uma das apostas na reabertura das lojas.

Dentre os serviços digitais oferecidos aos lojistas parceiros, um dos mais procurados na pandemia são as ferramentas para criar sites e plataformas de e-commerce. O App Delivery, solução que permite a restaurantes e lojistas criarem seus aplicativos próprios, cresceu quatro vezes entre janeiro e maio deste ano. Da mesma forma como, no varejo físico, a Linx permite aos lojistas uma gestão mais digital e eficiente do negócio, o objetivo é fazer o mesmo nas vendas online.

Um dos objetivos da Linx nos próximos anos é seguir implementando suas soluções cada vez mais junto aos pequenos e médios negócios. A maior receita da empresa ainda vem dos grandes lojistas. A transição dos pequenos para o online também é um segmento que a Linx pretende abocanhar.

Mas a concorrência no segmento das PMEs e da digitalização do varejo no "Brasil profundo" é alta. Vai desde concorrentes especializados, como Totvs, a soluções totalmente digitais e voltadas a PMEs, como a Locaweb. A gestão de varejo e digitalização das startups virou foco no portfólio de uma série de empresas de outros segmentos, como a própria Stone ou de startups como o Ebanx.

A Linx tem mais de 16.000 empresas parceiras e participação de mercado de 45,6% no varejo brasileiro, segundo a empresa afirma em seu site, com base em dados do IDC. São 3.500 funcionários em 15 filiais no Brasil e na América Latina, além da sede em São Paulo. Dentre os clientes da Linx estão algumas das maiores empresas do Brasil, presentes em diferentes setores: de montadoras como Ford, Hyundai e Chevrolet à joalheria Pandora ou às redes de restaurantes Bob's e Habib's.

Diversificação

As ferramentas de gestão de varejo como as oferecidas pela Linx eram, inclusive, citadas por investidores como um dos caminhos para o avanço da Stone, que poderia, assim, oferecer serviços mais completos aos lojistas clientes. O negócio principal, de maquininhas, vinha em questionamento no Brasil em meio à alta concorrência e margens pressionadas.

A Stone estava em busca de diversificar seu negócio. Em maio, anunciou a compra da startup Vitta, plataforma de saúde que faz agendamento de consultas e atendimentos a distância, e a aquisição de uma participação de 50% na MLabs, empresa de marketing e redes sociais. A Stone também investiu na Delivery Much e na MVarandas. Os valores não foram divulgados.

A ideia por trás da transação com a Vitta – que ainda está sujeita à aprovação da Agência Nacional de Saúde – tem a ver com a capilaridade da Stone e com a necessidade de seus clientes. Hoje, a adquirente tem uma base de clientes ativos de mais de 530.000 microempreendedores e oferece a eles serviço de telemedicina da Vitta que funciona 24 horas por dia, sete dias na semana. “Muitos de nossos clientes não possuem planos de saúde satisfatórios nem para suas famílias nem para seus funcionários. Acreditamos que a Vitta criou um modelo de negócios inovador no mercado de tecnologia da saúde que combina melhores termos de negociação com o atendimento ao cliente com base em telemedicina e suporte ao WhatsApp”, disse a Stone em seu demonstrativo de resultados do primeiro trimestre do ano.

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