Light: a empresa não consegue receber por cerca de 42% da energia entregue a clientes de baixa tensão devido a perdas não-técnicas (Junius/Wikimedia Commons)
Reuters
Publicado em 22 de novembro de 2016 às 16h53.
Última atualização em 22 de novembro de 2016 às 19h15.
São Paulo - A distribuidora de energia elétrica Light, que atende a região metropolitana do Rio de Janeiro, tem apresentado números cada vez piores, o que aumenta os riscos de a empresa não conseguir cumprir seus planos de investimento e obrigações financeiras, afirma um relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) visto pela Reuters.
Controlada pela mineira Cemig, a Light também possui ativos em geração, mas tem enfrentado dificuldades financeiras crescentes, com elevado endividamento e um custo da dívida em alta, principalmente devido ao baixo desempenho de seu negócio de distribuição de eletricidade.
A empresa não consegue receber por cerca de 42 por cento da energia entregue a clientes de baixa tensão devido a perdas não-técnicas --geralmente causadas por "gatos" (furtos) na rede, principalmente em regiões das favelas fluminenses, nas quais muitas vezes os técnicos da companhia mal chegam a entrar, temendo represálias.
A situação é ainda mais difícil de ser administrada em um momento em que o Estado do Rio de Janeiro enfrenta uma severa crise fiscal que levou o governador Luiz Fernando Pezão a anunciar um pacote de medidas para elevar a receita que inclui aumento de impostos e o fim de programas sociais.
A dívida bruta da Light atingiu no final de setembro 6,8 bilhões de reais, alta de 0,4 por cento ante o fechamento do trimestre anterior.
A relação entre a dívida líquida e a geração de caixa (Ebitda) da companhia fechou o último trimestre em 3,85 vezes, ante um compromisso da companhia com seus credores de manter o indicador em até 4 vezes no período.
No trimestre encerrado em dezembro, os compromissos financeiros da elétrica são de manter o índice em até 3,75 vezes.
"Verifica-se que a empresa não está sendo capaz de corrigir a rota de piora de seus indicadores de sustentabilidade... que já se encontram acima do limite máximo recomendado", afirma a fiscalização da Aneel.
"Em outras palavras, a geração operacional bruta de caixa tem se tornado cada vez mais insuficiente para honrar todas as obrigações e investimentos, aumentando o risco de descumprimento de compromissos financeiros", conclui o relatório, com data de 18 de novembro.
Desde 2015, a Aneel tem cobrado das distribuidoras a apresentação de planos de resultados para melhorias dos serviços e acompanhado a execução de investimentos e os índices financeiros das empresas.
A medida foi tomada após a agência, em meados de 2012, ter decretado uma intervenção administrativa em oito distribuidoras do Grupo Rede que não cumpriam requisitos mínimos de qualidade no fornecimento.
Procurada, a Light afirmou que não iria comentar o conteúdo do documento da Aneel.
Em meio a dificuldades de sua controlada, a Cemig anunciou nesta terça-feira um aumento de capital de cerca de 450 milhões de reais na Light, o que elevará sua participação na companhia para 41,92 por cento, ante 32,4 por cento anteriormente.
Procurada, a Cemig afirmou que não vai comentar o fato relevante sobre aumento de capital na Light. A empresa disse ainda que prefere não se manifestar sobre a situação financeira da Light.
A ação da Light, que operava pratimente estável no momento da publicação da reportagem da Reuters, entrou em território negativo em seguida, atingindo uma mínima da sessão de 14,63 reais. Mas ainda se recuperou e fechou em alta de 0,54 por cento.
Na semana anterior, analistas do Itaú BBA já haviam alertado para os resultados operacionais ruins da Light em distribuição, apontando que a elétrica tem sido salva pelo bom desempenho dos ativos de geração.
"Mas quanto tempo pode esse segmento sustentar a alavancagem consolidada da Light?", questionaram os analistas em relatório.
"É importante manter em mente que conforme a situação do Estado do Rio de Janeiro piorar, a Light também vai sofrer", complementaram os profissionais do Itaú BBA.
No balanço do último trimestre, a Light havia dito que tem conseguido reduzir continuamente as perdas de energia em regiões que chama de "áreas possíveis", nas quais seus técnicos atuam normalmente, mas houve alta nas chamadas "áreas de risco", o que a companhia atribui à "deterioração do cenário socioeconômico do Rio de Janeiro".
A empresa tem negociado com a Aneel uma revisão de suas tarifas, o que poderia ajudar a melhorar a situação financeira, mas ainda não há definições sobre o assunto.
Em meio a esse cenário desafiador, a Light ainda viu um grupo de sócios financeiros avisar que pretende deixar o negócio.
E a Cemig, por contrato, precisa comprar as participações na Light dessas instituições, que incluem Santander e BB Banco de Investimento, entre outras.
Para o Itaú BBA, a empresa é um alvo barato para aquisição, o que faz o banco apontar para uma possível valorização das ações da elétrica até o final de 2017.
No final de outubro, a Equatorial Energia afirmou que teria interesse em comprar a Light, mas apenas se fosse para ser controladora do negócio.
Mas na última semana executivos da Cemig reiteraram que não está nos planos da companhia deixar a posição de controle na Light, que é vista como um veículo para crescimento do grupo no setor de distribuição.