Negócios

Ligadona em você: veja o que aconteceu com a Arapuã, tradicional loja dos anos 1990

Empresa "ligadona em você" chegou a ter 265 lojas abertas pelo país e conseguiu resultados bilionários nos anos 1990, mesmo em meio à crise do varejo brasileiro

Arapuã: rede de lojas do interior de São Paulo chegou a ter 265 pontos de venda (Divulgação/Reprodução)

Arapuã: rede de lojas do interior de São Paulo chegou a ter 265 pontos de venda (Divulgação/Reprodução)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 15 de junho de 2024 às 08h08.

Imagine-se caminhando pelas ruas do Brasil nos anos 1980 e 1990, sendo bombardeado pelo icônico slogan: "Arapuã, ligadona em você!". A marca do interior de São Paulo chegou a ter 265 pontos de venda pelo Brasil e se transformou numa das principais redes de varejo do país.

Mas como uma simples loja de tecidos em Lins, no interior de São Paulo, se transformou em um império do varejo? Ficando realmente "ligadona" nas necessidades e desejos dos consumidores brasileiros — com perdão do trocadilho.

A EXAME te lembra agora a história da Arapuã. Confira.

Qual é a origem da rede de lojas Arapuã

  • A origem da Arapuã está na cidade de Lins, no interior de São Paulo. 
  • O empresário Jorge Wilson Simeira Jacob herdou do pai uma loja de tecidos. Na época, ele ainda era menor de idade. O ano era 1952.
  • Aos poucos, decidiu diversificar o portfólio e passou a vender também liquidificadores da marca Walita. Era o início da Arapuã. No mesmo ano, abriu a segunda loja, também em Lins, iniciando a rede de lojas. 

Mesbla, Mappin, Arapuã e Jumbo Eletro: o que aconteceu com as grandes lojas que bombaram nos anos 80

Como a empresa ganhou escala

  • O processo de crescimento da Arapuã foi impulsionado por uma estratégia que foi fundamental para os varejos dos anos 1970 e 1980: o crediário, que permitia o parcelamento das compras.
  • Entre os anos de 1966 e 1971, a empresa abriu cerca de cem lojas. Nessa época, a decisão foi focar em eletrodomésticos e deixar de vender tecidos.
  • Nos anos 1970, passou também a diversificar os negócios com investimentos e aquisições de empresas existentes. Uma delas foi a Lótus, de construção civil. Outra foi a indústria de alimentos Duchen.
  • A aquisição de vários negócios fez com que a família criasse um grupo para controlar as diversas empresas. Nascia assim o Grupo Fenícia, dono das lojas Arapuã e das marcas Etti, Simeira, Lótus, Banco Fenícia, Neugebauer, GG Presentes e Prosdócimo. 

Como foi o auge da Arapuã

  • O auge da Arapuã foi entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Nesta época, Arapuã chegou a ter 265 pontos de venda.
  • Em 1994, por exemplo, a empresa abriu 37 novas lojas, expandindo sua presença nacional.
  • No ano seguinte, ainda no que era considerado seu auge, a empresa passou por uma reformulação. Depois de uma viagem para os Estados Unidos, Simeira Jacob voltou convencido de que era preciso mudar o foco dos negócios e apostar somente em eletroeletrônicos. Naquela época, a empresa vendia também móveis, tapetes e até cristais.
  • "Estávamos num momento excelente", disse em 1996 Caio Simeira Jacob, irmão de Jorge e então presidente da Lojas Arapuã. "Mas percebemos que se não transformássemos nosso negócio não teríamos competitividade internacional. Seríamos uma empresa sem futuro." 
  • Com a mudança de foco, a empresa fechou 120 lojas de uma única vez e reduziu a linha de produtos de 7.500 para 700 itens. Aproveitou a mudança para abrir seu capital. 

Como começou a crise na Arapuã

  • O modelo de negócio da Arapuã dependia fortemente da oferta de crédito para os consumidores, uma prática que ajudou a empresa a expandir suas vendas mas também a expôs a maiores riscos financeiros.
  • A crise financeira asiática de 1997 teve um impacto profundo na economia global, incluindo o Brasil, que sentiu os efeitos de um aumento nas taxas de juros e uma diminuição no fluxo de capital estrangeiro.
  • No Brasil, a crise asiática contribuiu para a desvalorização do real, tornando mais difícil para as empresas que dependiam de importações ou tinham dívidas em dólares.
  • A Arapuã, que estava fortemente alavancada e dependia de financiamento barato, viu seus custos aumentarem e suas margens de lucro se reduzirem. Com isso, as dívidas chegaram a ultrapassar 1 bilhão de reais.
  • Em 1998, a empresa entrou em concordata, instrumento semelhante ao que é hoje a recuperação judicial. A partir do acordo, tentou reestruturar o negócio, aumentando o portfólio de produtos. Mas não conseguiu voltar a se equilibrar economicamente.

Como foi a falência da Arapuã

  • Quatro anos depois da concordata entrar em vigor, a Justiça determinou em primeira instância a falência da Arapuã por descumprimento da concordata. Na ocasião, a empresa estava com parcelas vencidas do plano de reestruturação. 
  • A empresa, porém, conseguiu reverter a decisão em segunda instância.
  • Sete anos depois, em 2009, o Superior Tribunal de Justiça julgou o recurso de duas empresas credoras que pediram a falência da empresa. O STJ aceitou o pedido.
  • Entre 2002 e 2009, porém, Arapuã entrou com um pedido de recuperação judicial. Na época, a medida era recém-criada. A Justiça aceitou o pedido. 
  • Uma empresa credora e o Ministério Público de São Paulo, porém, recorreram da decisão em 2020. Nesse meio tempo, a Arapuã aprovou um plano de recuperação judicial e alienou parte dos seus bens para o pagamento de parte das dívidas.
  • Em uma nova decisão em 2020, o STJ determinou que o resultado do julgamento do TJ-SP foi ilegal porque a Arapuã havia descumprido a concordata e já tinha a falência decretada, o que inabilita a empresa a qualquer pedido de recuperação judicial. 
  • Assim, os ministros do STJ decretaram a falência da empresa pela segunda vez.
Acompanhe tudo sobre:VarejoLojas

Mais de Negócios

A força do afroempreendedorismo

Mitsubishi Cup celebra 25 anos fazendo do rally um estilo de vida

Toyota investe R$ 160 milhões em novo centro de distribuição logístico e amplia operação

A ALLOS é pioneira em sustentabilidade de shoppings no Brasil