A Lava Jato mudou o cenário da concorrência, podendo acabar com a hegemonia das três grandes empreiteiras (Germano Lüders / EXAME)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2015 às 10h09.
São Paulo - Mesmo que ao fim e ao cabo não haja qualquer condenação pelas práticas de corrupção apuradas na Lava Jato, a operação deflagrada no ano passado já alterou completamente o cenário da construção pesada no país.
Todas as empreiteiras mais atuantes tiveram executivos presos e foram envolvidas nas investigações, afetando seus negócios e seus créditos.
Um efeito imediato das prisões foi o rebaixamento das notas de crédito. Mesmo empresas com caixa robusto como a Odebrecht, que hoje e é a única empreiteira com o chamado grau de investimento, foram afetadas.
A Andrade Gutierrez perdeu seu status de baixo risco na semana passada pela agência de classificação Fitch. Isto vai significar que todas vão pagar mais caro em novas dívidas.
O diretor da Fitch Ratings, Ricardo Carvalho, diz que os rebaixamentos de nota refletem as prisões dos executivos, mas ressalta que há incertezas em relação a essas empresas.
Quais serão as multas aplicadas às empresas (várias já admitiram irregularidade)? Serão consideradas inidôneas? Vão conseguir novos contratos para gerar receita e equilibrar caixa?
Além disso, a Lava Jato mudou completamente o cenário da concorrência. De um lado, a expectativa é que acabe a hegemonia das três grandes empreiteiras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht.
Protagonista em grandes disputas para construção de hidrelétricas, quando derrubou a Odebrecht para levar a usina de Jirau, em construção em Rondônia, a Camargo aos poucos está deixando o setor. Odebrecht e Andrade devem seguir com grandes portfólios, mas manter o foco em atuação no exterior.
Do outro lado, construtoras como OAS, UTC, Engevix, Galvão e Queiroz Galvão devem aos poucos se desfazer de ativos que tinham em setores como defesa, construção naval e aeroportos para fazer caixa.
"Até um ano atrás, as empreiteiras brasileiras eram tão fortes que as estrangeiras não conseguiam entrar no país", diz o sócio do setor de infraestrutura do escritório de advogados TozziniFreire, Antônio Feliz. "Agora o cenário é outro. Se sai alguém, outro toma o lugar".
Um executivo do setor de energia, que contratava empreiteiras para obras, diz que não existiam grandes empreiteiras no país. Ou eram gigantes ou pequenas e médias, e isso distorcia o mercado.
"Agora as médias poderão crescer. O governo não poderá mais leiloar lotes com 200, 300 quilômetros de estrada", diz. "Terá de fazer lotes menores e isso vai fortalecer as pequenas e médias e também o surgimento de novas".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.