Natura & Co. conclui a compra da Avon em janeiro deste ano (Germano Lüders/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de maio de 2020 às 07h35.
Última atualização em 13 de maio de 2020 às 20h42.
À frente do grupo Natura & Co. - responsável pelas estratégias globais das marcas de cosméticos Natura, Avon, The Body Shop e Aesop -, o brasileiro Roberto Marques diz que a pandemia do novo coronavírus acabou servindo de catalisador de mudanças dentro da corporação, que concluiu a compra da Avon em janeiro deste ano. "A integração se acelerou, estamos muito à frente do que imaginávamos, e com mais sinergias do que esperávamos", disse o presidente da Natura & Co, na terça-feira, 12, durante a série de entrevistas Economia na Quarentena, do jornal O Estado de S. Paulo.
Se da porta para dentro a integração corre a passos largos, a seriedade da pandemia deve adiar alguns investimentos e projetos voltados ao cliente externo. Um projeto da Natura & Co. que espera a superação da fase mais aguda da pandemia para sair do forno é o relançamento mundial da marca Avon. "Estamos trabalhando no lançamento da nova Avon. E isso deve ocorrer provavelmente no terceiro trimestre."
O executivo disse que a aceleração das sinergias entre as marcas do grupo permitiram que fábricas da Avon já produzam itens de marcas "irmãs" como a Natura e a The Body Shop. Marques afirmou que a equipe trabalha em um projeto para ampliar as receitas da Avon e da Natura na América Latina. Segundo ele, o espaço para isso ocorrer é grande, uma vez que as marcas têm pouca sobreposição nos mesmos domicílios. "A Avon é uma marca de massa e entrega produtos de alta qualidade por um preço baixo. E isso é importante em um momento como esse, em que o desemprego deve aumentar."
De olho no mundo pós-pandemia, a empresa também investe pesado na digitalização do porta a porta. "A venda direta é uma venda por relação. O que acontecia até um passado recente era que essa venda ocorria no offline, num ambiente físico, o porta a porta. Essa venda tem migrado para o online", disse o executivo. Ele informou ainda que, contando o grupo como um todo, o faturamento do e-commerce cresceu 250% desde o início da pandemia de coronavírus. Os maiores ganhos foram nas marcas "premium" - a britânica The Body Shop e a australiana Aesop, que tiveram incrementos de cerca de 300% e 500%, respectivamente.
Em relação ao retorno da economia, Marques foi cauteloso e afirmou que a recuperação será gradual. "Não acreditamos que o nível de consumo anterior à crise será retomado." O presidente do grupo de cosméticos ressalvou que, mesmo em um cenário de queda de vendas, certos produtos registraram crescimento por auxiliarem na prevenção ao coronavírus. Sabonetes, soluções para higienização de mãos, loções e álcool em gel tiveram uma alta de 30% na demanda durante a pandemia. "A crise tem trazido muito a importância de as pessoas cuidarem de si mesmas. E a Natura se encaixa (nesse conceito)", disse.
Legado
Vivendo no Estado americano de Nova York, de onde tem coordenado as atividades das quatro marcas trabalhando de casa, Roberto Marques disse que essa crise deve trazer aprendizados de longo prazo às companhias, entre elas a facilidade do trabalho online e a importância da escolha de certas bandeiras sociais. Ele lembrou que as quatro marcas da Natura & Co. fizeram recentemente sua primeira campanha corporativa conjunta, alertando sobre o aumento da violência doméstico nesse período de isolamento social.
Quanto à crise política que se instalou no País em meio à pandemia, com a demissão dos ministros Sérgio Moro (Justiça) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde), o executivo disse que "o momento precisa ser de diálogo". E pregou também o respeito à ciência quando o assunto é covid-19: "Essa é uma crise de saúde, por isso a melhor receita é escutar as pessoas que têm conhecimento da área de saúde."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.